Pular para o conteúdo principal

O Brasil finalmente pulsa!

     É tempo de deixar de lado estas divagações sem muito sentido e enfrentar o que deve ser enfrentado. Confesso que é impossível não ser influenciado por tudo que está acontecendo ao nosso redor. É impossível deixar de sentir o fogo queimando ao nosso redor. Tenho a nítida impressão que estamos colocando fogo nas estruturas arcaicas do Brasil. Há dois dias atrás o Congresso Nacional votou a PEC 37. Antes desta movimentação de uma parcela da sociedade era  bem provável que a PEC seria aprovada. Por quê? Apenas e tão somente para defender interesses corporativos.

     Muitas propostas em tramitação no Congresso Nacional são corporativas. Em princípio faz parte do jogo político que assim seja. Uma corporação se organiza e pressiona o Legislativo para que aprove alguma lei do seu interesse. Pode ser a classe dos professores, dos portuários, dos magistrados, enfim, qualquer classe social. Repito, é do jogo.
     Entretanto, quando estes interesses corporativos batem de frente com interesses da maioria da população não tem com ser aprovado por qualquer legislativo. Neste ponto, ao meu sentir, surgem as mobilizações que estamos presenciando.

    Não tenho dúvidas que esta quase convulsão social que estamos presenciando é derivada deste conflito de interesses. De um lado o interesse de uma classe minoritária que se acostumou por anos jogar de mão, ou seja, fazer sempre do seu jeito e de outra parte a maioria da população que através dos séculos não conseguia influir nas decisões do país. Não conseguia, ontem reescrevemos esta parte da história.O Congresso Nacional, como sempre deve fazer, auscultou o seu povo. Ouviu os gritos da rua e decidiu de acordo com a vontade da maioria esmagadora da população. Esta é a finalidade deste grito das ruas. Queremos influir nas decisões cruciais do país. Não queremos mais que de salas refrigeradas saiam ordens desconectadas da realidade dura das ruas. Influir não quer dizer impor, queremos ser ouvidos. Imposição de ideias tem nome. Conhecemos bem aquele tempo e não queremos de novamente um país calado pelos sons de canhões.

     O Congresso Nacional de forma ágil (alguns criticam esta agilidade, talvez sejam aqueles que tiveram seus interesses contrariados, estes que torcem o nariz para a mobilização das massas) votou projetos que estavam mofando em algum escaninho. Esta é a função do legislativo, legislar para que os interesses da sociedade sejam atendidos.
     A lição foi e está sendo dada pelas ruas. Ou nos ouvem ou ... cada um de nós pode completar esta reticência com a sua conclusão. O que é certo que o país não será mais como antes. Sinceramente espero que saiamos deste processo de retomada social mais fortalecidos, que nossas instituições aprendam a lidar com esta diversidade de lutas. Espero que finalmente tenhamos amadurecido a nossa cidadania.
     Fico feliz por viver em um país democrático, onde nos é permitido sair e expressar a nossa vontade. Claro que alguns exageros são cometidos e é perfeitamente compreensível. Faz parte deste processo de transformação. Isto não quer dizer que tenhamos que aceitar movimentos violentos, apenas que devem ser tratados como tal e com a força da lei. Apenas a força da lei. Prefiro este barulho, do que o silêncio de anos passados onde a vontade popular era apenas um verbete de um livro esquecido na estante.
     Não devemos endeusar as manifestações, mas por outro lado não podemos condená-las de pronto. Devemos ouvi-las, Legislativo, Judiciário, Executivo, Mídia, Igreja. Todos sem exceção. Quem não ouvir e compreender o recado ficará estagnado vendo o país mudar. Mudemos todos. Para mudarmos o Brasil. Parabéns a todos que um dia acreditaram que era possível, mesmo quando ouviram "não vai dar em nada". Desta vez "eles" estavam errados. O Brasil começou a mudar, espero que para melhor. Caso contrário continuaremos nas ruas...

Trilha Sonora:
Oye Como Va - Diversos - Guitar Heroes
I Wouldn't Want To Be Like You - Alan Parsons Project - The Ultimate Collection Disc 1
Honky Tonk Women - The Rolling Stones - Singles Collection - The London Years (Disc 3)
Thank You Girl - The Beatles - Past Masters - Volume One
Emotional Rescue - The Rolling Stones - Grrr!
Gemini - The Alan Parsons Project  - Eye In The Sky [Bonus Tracks]
Metro Linha743 - Raul Seixas - Millenium
Eu Não Sei Mentir Direito - O Rappa - Rappa Mundi
Get Lucky - Random Access Memories - Daft Punk

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Licenças poéticas

      No texto do Cotidianidade recebi o seguinte comentário: estou de olho..não adianta remover... Já criaste 2 leitoras que " contribuiram" com teu blog.. por que não assumir que os textos são teus? é para parecer que mais gente lê o blog? os teus textos são bons..não precisas deste artifícios..      Primeiramente tenho que dizer que fui surpreendido com este comentário. Engraçado como algumas coisas mexem com nossos sentimentos. E sem muita explicação.      Sempre ouvi a seguinte frase "não importa o meio, mas sim a mensagem". E acho que serve para este caso, não importa se quem escreveu foi A, B ou C, mas sim se cumpriu com sua missão, levar alguma mensagem, seja ela tola ou não. Se pensamos sobre o que lemos já basta. Este é o objetivo de qualquer escritor, seja ele neófito como eu ou os mais experientes.      Escrever é uma atividade de exposição, nos desnudamos através das palavras (escrevi isto estes dias) e é a mais pura realidade. Quem quer escrev

Ciclo do amor...

      - Não sei como chegamos até aqui sendo completamente diferentes.      - Nós chegamos aqui por discordâncias irreconciliáveis. Nossa relação foi um erro.      - Como um erro, se estivemos casados por vinte anos?      - Mas nestes vinte anos nos fizemos muito mal. Desperdiçamos tempo ao tentar tornar o nosso amor viável. Pelo menos é o que eu penso.      - Realmente somos diferentes. Mas nunca achei que nosso casamento foi um erro. Fui muito feliz ao teu lado.      - Nestes anos, tu pode me dizer quantos foram realmente felizes ao meu lado?      - Não podemos mensurar este tipo de sentimento. A felicidade é um conjunto de pequenos momentos felizes. Tu sempre buscou algo fora de ti. Nunca consegui achar esta felicidade interior e buscava no outro ou no teu entorno.      - Não estou afirmando que fui infeliz, mas sim que esta vida não foi a que esperei para mim.      - Sempre olhando somente o teu lado, sempre senti que na verdade tu era muito egoísta, mas eu tinha a convicç

Vivendo ao largo da vida...

     - Eu vivo ao largo da vida.      - Como assim?      - Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.      - Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.      - Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.      - Otávio, às vezes acho que tu é louco.      - Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.      - É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.      - Mas eu gosto de falá-las.      - Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.      - Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...      - Para o que...      - Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.      - Tu e esta mania de me chamar de i