Pular para o conteúdo principal

Miséria S.A.

     Inúmeras linhas escritas, teorias formuladas, infindáveis ruas cruzadas e incontáveis e indiferenças observadas. O que mexe comigo é a indiferença à miséria.
    Nos encastelamos em bunkers protegidos e vivemos a nossa vida de faz de conta, vivendo o nosso conto de fadas, a nossa história encantada. Por vezes esta história encantada é invadida pela vida real, a dura vida real. Quando isso acontece nos revoltamos, perguntamos onde estão os políticos, questionamos onde está o Estado que não ampara os desvalidos. Gritamos "o que fazem com nossos impostos". Enfim, fingimos uma indignação para expiar uma culpa latente. Passado algum tempo voltamos ao conforto de nossas vidas. Nos trancamos em shoppings, compramos, lutamos para voltarmos ao nosso conto de fadas, mesmo que tudo ao redor esteja desmoronando. A isso chamam de homem civilizado!
     Como entender que mantemos uma estação espacial em órbita, com todos os custos estratosféricos desta empreitada e não conseguimos proporcionar uma vida minimamente decente para todos os habitantes deste planeta?
     Qual é o futuro deste sistema que estamos construindo todos os dias? Onde iremos chegar com estas atitudes? Um mundo onde temos 1 bilhão de miseráveis que sobrevivem com o equivalente a um dólar por dia não pode ter um futuro alentador. Estes dias assisti um documentário onde o Saramago diz mais ou menos assim, o ser humano deu errado (claro que com muito mais talento). Pergunto, como aceitar um sistema que admite um bilhão de pessoas excluídas? Isso sem mencionar as pessoas que tem um pouco mais e que permite apenas uma subsistência. Não é possível vivermos com este "passivo". Aliás, este "passivo" tem nome e sobrenome, são pessoas com sentimentos, tem vida e querem e merecem um a dia a dia melhor. Há teorias econômicas que "explicam" a sociedade que construímos, mas são apenas e tão somente um amontoado de palavras vazias. A vida destes excluídos seres humanos acaba com qualquer explicação econômica.
     É difícil entender a humanidade. Todos nós temos nossa culpa em relação a tudo isso que nos cerca, somos responsáveis pelo mundo que criamos. Mas a esta conclusão é fácil chegar. Entretanto, mudar tudo que nos cerca me parece impossível. Como parece impossível acreditar no ser humano. Ainda bem que Deus não existe para testemunhar tudo que fizemos. Graças a Deus.


Trilha Sonora:
Sem músicas. Hoje escrevi em um ambiente que não permitia ouvir música.
Mas dentro de mim pulsavam várias músicas entre elas A isso Chamam Blues...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Licenças poéticas

      No texto do Cotidianidade recebi o seguinte comentário: estou de olho..não adianta remover... Já criaste 2 leitoras que " contribuiram" com teu blog.. por que não assumir que os textos são teus? é para parecer que mais gente lê o blog? os teus textos são bons..não precisas deste artifícios..      Primeiramente tenho que dizer que fui surpreendido com este comentário. Engraçado como algumas coisas mexem com nossos sentimentos. E sem muita explicação.      Sempre ouvi a seguinte frase "não importa o meio, mas sim a mensagem". E acho que serve para este caso, não importa se quem escreveu foi A, B ou C, mas sim se cumpriu com sua missão, levar alguma mensagem, seja ela tola ou não. Se pensamos sobre o que lemos já basta. Este é o objetivo de qualquer escritor, seja ele neófito como eu ou os mais experientes.      Escrever é uma atividade de exposição, nos desnudamos através das palavras (escrevi isto estes dias) e é a mais pura realidade. Quem quer escrev

Ciclo do amor...

      - Não sei como chegamos até aqui sendo completamente diferentes.      - Nós chegamos aqui por discordâncias irreconciliáveis. Nossa relação foi um erro.      - Como um erro, se estivemos casados por vinte anos?      - Mas nestes vinte anos nos fizemos muito mal. Desperdiçamos tempo ao tentar tornar o nosso amor viável. Pelo menos é o que eu penso.      - Realmente somos diferentes. Mas nunca achei que nosso casamento foi um erro. Fui muito feliz ao teu lado.      - Nestes anos, tu pode me dizer quantos foram realmente felizes ao meu lado?      - Não podemos mensurar este tipo de sentimento. A felicidade é um conjunto de pequenos momentos felizes. Tu sempre buscou algo fora de ti. Nunca consegui achar esta felicidade interior e buscava no outro ou no teu entorno.      - Não estou afirmando que fui infeliz, mas sim que esta vida não foi a que esperei para mim.      - Sempre olhando somente o teu lado, sempre senti que na verdade tu era muito egoísta, mas eu tinha a convicç

Vivendo ao largo da vida...

     - Eu vivo ao largo da vida.      - Como assim?      - Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.      - Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.      - Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.      - Otávio, às vezes acho que tu é louco.      - Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.      - É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.      - Mas eu gosto de falá-las.      - Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.      - Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...      - Para o que...      - Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.      - Tu e esta mania de me chamar de i