Eu vejo o mundo passar através de uma porta.
Meu nome é José, todos me chamam de Seu José. Não sei porque me chamam assim. Mas todos os dias ouço: "Bom dia Seu José", "boa tarde Seu José". Nem sei se este "seu" é com 's' minúsculo ou maiúsculo.
Sempre respondo com um sorriso, às vezes não digo nada, somente mostro um pouco os dentes.
Nunca troco mais do que 10 palavras com as pessoas que passam pela porta. Por vezes tenho vontade de conversar mais, mas todos estão com pressa, sempre estão atrasados. Não entendo porque ninguém tem tempo para nada. Minha vida se resume a uma porta aberta, às vezes fechada (quando está muito frio). Passo dias e dias olhando a vida passar e eu sempre em frente a esta porta que mostra tão pouco do mundo. Não posso tirar os olhos da porta.
Outro dia o pequeno pedaço de mundo que olho ficou pequeno. Não aguentava mais ficar olhando-o e não poder ir adiante. Minhas certezas, todas, absolutamente todas, se perderam diante do inevitável questionamento. Da imensidão que não vejo, que não tenho contato. Por que não saio porta afora? Por que me prendo a esta parte tão ínfima da vida?
Os dias foram passando e cada vez mais sentia uma necessidade de mudar. Não sabia como.
Cada novo dia um outro "Bom dia Seu José", "Boa tarde Seu José", a mais nova é "E aí seu José". Nesta última não sei como responder, fico olhando sem muita reação, o máximo que faço é mexer as sobrancelhas. Realmente fico sem ação. Mas a porta continua lá. Cada vez mais me sinto oprimido por aquele pequeno espaço. Não vejo mais como uma simples porta, a sinto como uma espécie de opressor. A porta está sempre aberta, mas para mim é como se fora gradeada, impedindo o meu ir e vir. As pessoas que entram e saem pela porta não têm a consciência da grandiosidade daquele ato. A coragem que exige passar por aquele portal da opressão. Um dia quem sabe eu consiga sair por aquela porta. Neste dia serei um homem livre.
O mundo pulsa no lado de fora, ultimamente tem pulsando tanto que parece que criou vida própria, sempre tem alguma manifestação passando. E eu o que faço? Fico parado no meu lugar. Não posso deixar de ficar olhando a porta, controlando quem entra ou sai, afinal, esta é minha tarefa nesta sociedade compartimentada. Cada dia passa mais gente lá fora, uns mascarados, outros com faixas de protesto contra tudo e contra todos, nunca é a favor... não seria o momento de eu sair e cruzar esta opressora porta? Será que não é isso que falta para mim, um motivo para deixar de ver a vida passar e fazer parte do que pulsa lá fora? As peguntas vêm e vão, mas eu sempre no meu lugar, olhando o mundo por apenas uma fresta, não vejo nada mais do que uma pequena parte e fico a imaginar como é o resto. Imaginar não é viver, imaginar é apenas imaginar. Tomei uma decisão. Agora é definitivo. Na próxima manifestação irei me juntar a eles.
Os dias passaram e ninguém mais saiu, todos voltaram à velha e conhecida passividade, inclusive eu. Continuo na minha função cada vez mais atuante. Cada mais conformado. Mas para minha surpresa fui até promovido, sou chefe. Não fico mais em frente à porta, fico na guarita e tenho uma visão maior da rua. Continuo a ser um porteiro, mas vejo um pouco mais. Apenas o suficiente para deixar a vida passar e nada fazer.
Trilha Sonora:
I Shot The Sheriff (13 02 2009) - Welcome to Osaka Castle Hall - Eric Clapton
Layla (13 02 2009) - Welcome to Osaka Castle Hall - Eric Clapton
Cocaine (13 02 2009) - Welcome to Osaka Castle Hall - Eric Clapton
I Shot The Sheriff - Trouble On My Mind-Bremen 20/04/1983 - Eric Clapton
Layla - Trouble On My Mind-Bremen 20/04/1983 - Eric Clapton
Cocaine - Trouble On My Mind-Bremen 20/04/1983 - Eric Clapton
PS: Entre estes dois shows se passaram 26 anos, dois momentos de um gênio da música... não me canso de ouvir estes dois discos e estas músicas em especial.
Meu nome é José, todos me chamam de Seu José. Não sei porque me chamam assim. Mas todos os dias ouço: "Bom dia Seu José", "boa tarde Seu José". Nem sei se este "seu" é com 's' minúsculo ou maiúsculo.
Sempre respondo com um sorriso, às vezes não digo nada, somente mostro um pouco os dentes.
Nunca troco mais do que 10 palavras com as pessoas que passam pela porta. Por vezes tenho vontade de conversar mais, mas todos estão com pressa, sempre estão atrasados. Não entendo porque ninguém tem tempo para nada. Minha vida se resume a uma porta aberta, às vezes fechada (quando está muito frio). Passo dias e dias olhando a vida passar e eu sempre em frente a esta porta que mostra tão pouco do mundo. Não posso tirar os olhos da porta.
Outro dia o pequeno pedaço de mundo que olho ficou pequeno. Não aguentava mais ficar olhando-o e não poder ir adiante. Minhas certezas, todas, absolutamente todas, se perderam diante do inevitável questionamento. Da imensidão que não vejo, que não tenho contato. Por que não saio porta afora? Por que me prendo a esta parte tão ínfima da vida?
Os dias foram passando e cada vez mais sentia uma necessidade de mudar. Não sabia como.
Cada novo dia um outro "Bom dia Seu José", "Boa tarde Seu José", a mais nova é "E aí seu José". Nesta última não sei como responder, fico olhando sem muita reação, o máximo que faço é mexer as sobrancelhas. Realmente fico sem ação. Mas a porta continua lá. Cada vez mais me sinto oprimido por aquele pequeno espaço. Não vejo mais como uma simples porta, a sinto como uma espécie de opressor. A porta está sempre aberta, mas para mim é como se fora gradeada, impedindo o meu ir e vir. As pessoas que entram e saem pela porta não têm a consciência da grandiosidade daquele ato. A coragem que exige passar por aquele portal da opressão. Um dia quem sabe eu consiga sair por aquela porta. Neste dia serei um homem livre.
O mundo pulsa no lado de fora, ultimamente tem pulsando tanto que parece que criou vida própria, sempre tem alguma manifestação passando. E eu o que faço? Fico parado no meu lugar. Não posso deixar de ficar olhando a porta, controlando quem entra ou sai, afinal, esta é minha tarefa nesta sociedade compartimentada. Cada dia passa mais gente lá fora, uns mascarados, outros com faixas de protesto contra tudo e contra todos, nunca é a favor... não seria o momento de eu sair e cruzar esta opressora porta? Será que não é isso que falta para mim, um motivo para deixar de ver a vida passar e fazer parte do que pulsa lá fora? As peguntas vêm e vão, mas eu sempre no meu lugar, olhando o mundo por apenas uma fresta, não vejo nada mais do que uma pequena parte e fico a imaginar como é o resto. Imaginar não é viver, imaginar é apenas imaginar. Tomei uma decisão. Agora é definitivo. Na próxima manifestação irei me juntar a eles.
Os dias passaram e ninguém mais saiu, todos voltaram à velha e conhecida passividade, inclusive eu. Continuo na minha função cada vez mais atuante. Cada mais conformado. Mas para minha surpresa fui até promovido, sou chefe. Não fico mais em frente à porta, fico na guarita e tenho uma visão maior da rua. Continuo a ser um porteiro, mas vejo um pouco mais. Apenas o suficiente para deixar a vida passar e nada fazer.
Trilha Sonora:
I Shot The Sheriff (13 02 2009) - Welcome to Osaka Castle Hall - Eric Clapton
Layla (13 02 2009) - Welcome to Osaka Castle Hall - Eric Clapton
Cocaine (13 02 2009) - Welcome to Osaka Castle Hall - Eric Clapton
I Shot The Sheriff - Trouble On My Mind-Bremen 20/04/1983 - Eric Clapton
Layla - Trouble On My Mind-Bremen 20/04/1983 - Eric Clapton
Cocaine - Trouble On My Mind-Bremen 20/04/1983 - Eric Clapton
PS: Entre estes dois shows se passaram 26 anos, dois momentos de um gênio da música... não me canso de ouvir estes dois discos e estas músicas em especial.
Cadê o blogueiro neófito?
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