Pular para o conteúdo principal

Caxias desapareceu...

     Hoje como ontem Caxias desapareceu.
     Estamos no final de abril e a cerração está forte, olho para a rua e não vejo nada, os prédios ao longe simplesmente desapareceram. Os que ficam aqui perto aos poucos vão sumindo.  
     Fico a imaginar como seria se tudo desaparecesse por alguns instantes, como encararíamos este fato de nos sentirmos completamente sozinhos. Sem pessoas para compartilharmos nossos medos ou ansiedades, nossas conquistas e derrotas diárias. É bem verdade que no dia a dia somos sós, a multidão apenas nos deixa mais solitários...
     Estes dias estava em São Paulo e senti epidermicamente o que é uma cidade onde somos apenas mais um, onde nossa individualidade é usurpada, cada um é somente uma engrenagem e nada mais. Por uma lado é bom pois nos sentimos livres, mas ao mesmo tempo é sufocante. Vi pessoas querendo provar que são diferentes, mas somente reforçam a tese de que fazemos parte do sistema e este permite tentarmos ser diferentes. Estas diferenças apenas reforçam que somos parte indissolúvel deste moedor de carnes... Sendo diferentes somos apenas encaixados em outra parte do sistema e nada mais... É uma pena, este grande triturador de individualidades vai segmentando as diferenças.... apenas isso. Não conseguimos ser diferentes, o sistema de controle social sente-se ameaçado com as diferenças. Não entendo o porquê disso. Gostaria de entender.
     Enquanto isso Caxias desaparece aos poucos, parece que vai perdendo a batalha para a cerração, tenho a impressão que ela vai nos cercando aos poucos, de uma forma dissimulada e quando nos damos conta tudo a nossa volta sumiu. Fico a pensar em nossas idiossincrasias. Somos seres diversos e com visões diferentes sobre tudo. Esta diversidade que nos faz especiais. Apesar da diversidade nos transformamos em apenas mais um na multidão.
    Agora me sinto escrevendo num mundo a parte, pois tudo a minha volta é uma grande névoa branca não vejo nada, só ouço o som do ipod e o sons das tecladas sendo acionadas... O mundo a minha volta parou ou simplesmente desapareceu... A seleção de músicas é de uma grande diversidade, somos diversos mas nos tornamos seres homogêneos. A vida é esta luta para mantermos nossas diferenças... Estamos perdendo esta batalha... Ao nascermos somos jogados num grande liquidificador que tem a função de nos transformar em apenas mais uma peça da engrenagem desta máquina denominada sociedade. Pagamos nossos impostos, trabalhamos de sol a sol e voltamos para casa, simplesmente assim. Estava me esquecendo do fato primordial nos dias de hoje, consumir e consumir muito. A vida é isso e apenas isso. Mas vale a pena lutar contra isso e tentarmos fazer um mundo diferente.
   Ao terminar este texto quero somente reafirmar que existe esperança no amanhã, basta que haja a vontade de alguns e que deixemos de lado o comodismos de nossas vidas e lutemos por um mundo melhor. Talvez não para nós, mas para as próximas gerações. Se tudo continuar como está será um futuro difícil de imaginar, mas será muito mais difícil vivê-lo...

Trilha sonora:
If I Could - Pat Metheny
Start Me Up - The Rolling Stones - The Rolling Stones
Tell Me [You're Coming Back] - The The Rolling Stones
Battle - Queen - Queen II
Man - Emerson, Lake and Palmer - Emerson, Lake and Palmer
Little Helper - The Rolling Stones - The Rolling Stones
Fuck Tha Police (1989) - Coletânea - 500 Greatest Songs
Rolling Stones - Wild Horses (1971) - Coletânea 500 Greatest Songs 
Into The Sun - Grand Funk Railroad
Hammer To Fal - Queen - Queen Rock

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A casa não vai cair...

     Um amigo, aliás, um ótimo amigo escreveu algo que me fez pensar: "... enquanto nos perdemos nos detalhes, contando, classificando... a vida passa e a casa vai caindo, pouco a pouco."      Este amigo em poucas palavras me mostrou o que somos, ou melhor, no que nos transformamos.      Parece que deixamos de lado o quadro para prestarmos atenção na moldura, sabemos tudo sobre este detalhe, o ano da fabricação da madeira, o tipo e forma do corte, esquecemos de olhar o quadro em si. Fechamos os olhos para a pintura...      No início o não entendi, pois o simples nos é tão difícil de entender, sempre estamos  querendo transformar esta simplicidade em algo complexo. Mas esta simplicidade quando nos é revelada nos abre olhos, enxergamos além da moldura, passamos a ver o conteúdo do quadro; nos surpreendemos com o que surge aos nossos incrédulos olhos.      Parece que somos criados para somente fazermos part...

Uma história do ponto e da vírgula.

     Ia escrever sobre o cotidiano. Mas não me deu vontade. Então me lembrei de uma pequena altercação entre o ponto e a vírgula. O fato ocorrido que presenciei foi mais ou menos assim...      O ponto sempre foi determinado, sempre certo  do que queria, nunca deu espaço para qualquer tipo de dúvida e constantemente reclamava da vírgula. Dizia que ela era um poço de incertezas, sempre acompanhada de um entretanto, talvez, quem sabe. Isso o ponto não suportava. O ponto estava a pronto para encetar algum ataque. Mas o sempre era demovido pelo ponto de exclamação, este sim o mais respeitado entre os sinais de pontuação.      A vírgula de seu lado sempre reclamava deste ar superior do ponto, sempre encerrando os assuntos, não dando margem para nenhuma discussão. Lá longe a reticências nem dava bola tinha uma vaga idéia de que aquela "desinteligência" iria virar amor.    Não é que um dia num texto mal pontuado, como este, o ...

Modernidade, botas e amor...

     Este mundo da modernidade é muito frugaz, tudo muda de uma hora para outra. O que hoje é a maior representação da tecnologia, amanhã é totalmente obsoleto. Hoje vivemos o tempo da mudança constante, até mesmo para que haja movimentação econômica, consumo e mais consumo.      O ser humano viveu milhares de anos evoluindo gradativamente, se adaptando ao meio para sobreviver as vicissitudes da vida. Hoje em dia nós seres humanos alteramos o que nos cerca para que este se molde as nossas necessidades. Construímos enormes hidrelétricas alagando milhares de hectares. Para quê? Para  produzir mais energia e satisfazer nossas pequenas necessidades. Criamos cidades dentro de mares para que? Para simplesmente ostentarmos, ou seja, para mostrarmos para os mais desvalidos que existe uma classe social que pode tudo. Erguemos centrais atômicas na zona mais perigosa do mundo e ficamos surpresos quando acontece uma catástrofe anunciada.      Qu...