Neste final de ano vivo intensamente as férias que me foram concedidas. Por isso deixei de escrever mais seguidamente no blog. Mas há pessoas que querem escrever. Nestes dias recebi uma contribuição da distante Almas. Sim, o Brasil tem uma cidade com o nome de Almas e fica em Tocantins. Reproduzo abaixo o e-mail deste amigo leitor, bem como o texto que me fez pensar no que fazemos com nossos sonhos:
- Tudo a nossa volta desmoronou.
- Nem tudo.
- O que você acha que ainda está de pé?
- A sua visão crítica do mundo. Esta nunca foi perdida. E nem será, tenho certeza.
- Luiz. Te confesso que os anos que passei exilado me retiraram a vontade de mudar o mundo. Aquela vontade que tinha ao sair do país arrefeceu-se. Ou melhor, a perdi completamente. Hoje, somente penso conseguir suportar mais um dia de vida. Fazer um bom negócio ou então prestar alguma consultoria para eventual empreiteiro encrencado.
- José deixa de lado este papo. Olha ao teu arredor e veja as tuas ações, perceba o que você construiu, não me refiro às relações com empreiteiras - dá um leve sorriso e continua a falar. Me lembro dos tempo do teu exílio e de como mudamos de lá para cá. Tudo que construímos. É verdade que alguns dos nossos sonhos ficaram pelo caminho. Mas também sonhamos outros sonhos. E realizamos muitos destes sonhos novos e alguns daqueles de outrora. O país melhorou, nós talvez não tenhamos melhorado, mas faz parte da luta.
- Por um lado, Luiz, o que tu fala é verdade, mas por outro é uma forma de explicarmos a nossa vida atual, nossos comportamentos pouco republicamos atuais. Olha ao nosso arredor. Estamos num restaurante de alto luxo. Chegamos aqui em carros modernos, estamos bebendo vinhos famosos e caríssimos, mas ao nosso redor a vida pulsa de uma outra forma. Ao chegar aqui passei por algumas favelas, pessoas dormindo nas ruas, enfim, uma vida miserável, dura e sem futuro. E nós aqui nos divertindo apesar de toda dor e sofrimento que nos cerca. Às vezes me sinto culpado por não ter seguido naquela luta da nossa geração. E também de ter me entregado ao sistema, em vez de mudá-lo. Sei que parece meio adolescente este papo, mas as vezes me sinto assim. Desiludido com o que me transformei.
- José, tu és muito crítico. Passamos o que passamos simplesmente porque pensávamos diferentemente dos donos do poder daquela época. Quando tu voltou ao Brasil nos encontramos na ilegalidade e rumamos novamente à luta armada. A bem da verdade aquela luta não deu em nada, apenas lutamos e muitos de nós tombaram pelo caminho. Mas aquela foi a nossa opção. Com o tempo a nossa forma de lutar mudou, como o mundo mudou. Mudamos nós. Não sinto culpa nenhuma, sinto sim que poderíamos e podemos fazer mais. Ainda mais pelos cargos que ocupamos...
- Aí reside a minha insatisfação. Poderíamos fazer mais... por que não fazemos. Por que ficamos aqui neste restaurante tomando este vinho e não estamos nas ruas fomentando a mudança? Quando vamos às ruas é para somente nos manter no poder. Nunca para que as mudanças sejam, de fato, implementadas
- É simples. A luta não é mais daquela forma dos anos 60 ou 70. Não somos torturados pelos meganha, quem nos tortura somos nós mesmos, é a nossa consciência. Ficamos neste dilema das nossas ideias não corresponderem aos nossos atos. Foda-se. Isso mesmo. Não devemos mais abraçar o mundo, devemos abraçar, sim, uma pequena parte deste mundo. Não iremos mudar tudo que nos cerca, ou melhor, mudaremos em pequenas partes...
- Muito cômoda esta tua definição, Luiz. Muito confortável. Não te reconheço, mas fique tranquilo porque também não me reconheço. É difícil confessar que gosto da vida que levo. Gosto do conforto, gosto de beber o vinho que estamos bebendo, gosto da comida que foi servida aqui. Apenas não gosto de quem vejo no espelho a cada manhã. Apenas isso. Mas não sei o que fazer. Tu tem alguma sugestão?
- Por que não fazemos o expropriação e depois distribuímos o valor "arrecadado" entre os mais pobres. Luiz faz com os dedos aspas imaginárias.
- Que grande ideia. Já sei até que banco poderemos fazer esta expropriação.
- José, eu estava sendo irônico.
- É uma pena, pois eu queria muito fazer uma operação de expropriação em favor do proletariado brasileiro...
- Seria muito engraçado. Uma expropriação decidida no Fasano tendo como testemunha uma conta de doze mil reais. Se fossemos presos, como explicaríamos uma expropriação feita pelas duas figuras mais proeminentes da república? Sem mencionar as maracutaias que estamos envolvidos. Tudo isso nos impede de fazer tal expropriação. Luiz dá uma risada e tem a certeza de que aqueles dois amigos mudaram muito...
Ao saírem daquele jantar cada um foi para um lado da cidade. Ambos em carros blindados e com motoristas particulares. É verdade que querem mudar o mundo, mas enquanto este não muda aproveitam as coisas boas da vida e se protegem da violência que lhes teima em mostrar os dentes. Dois hipócritas, não são os únicos...
Trilha Sonora:
Under Control - The Strokes - Room On Fire
Claroscuro - Soda Stereo - Dynamo
Planeador - Soda Stereo - Comfort Y Musica Para Volar
Rain Fall Down (Radio Edit) - The Rolling Stones - Rain Fall Down Promo CD
Get Off My Cloud - The Rolling Stones - Grrr!
Another One Bites The Dust - Queen - Greatest Hits I
PYT (Pretty Young Thing) 2008 - Michael Jackson (With Will.I.Am) - Thriller (25th Anniversary Edition)
Billie Jean - Michael Jackson - Thriller
Ghosts - Joe Satriani - Live In Paris: I Just Wanna Rock (CD1)
In Taberna: Ego Sum Abbas - Franz Welser-Möst: London Philharmonic Orchestra - Orff: Carmina Burana
Tiger In The Spotlight (Pop Rock 1977) - Emerson Lake And Palmer - Beyond In The Beginning
Honky Tonk Train Blues (Oscar Petersons Piano Party 1976) - Emerson Lake And Palmer - Beyond In The Beginning
Many Shades Of Black - Adele - Greatest Hits 2012
Esta trilha sonora foi ouvida na edição do texto recebido de Alexandre Eco.
Prezado LedVenture.
Boa noite. Estes dias entrei no teu blog e notei que a sua produção de textos diminuiu drasticamente. Percebi que também diminuíram as contribuições dos teus leitores. Então resolvi te mandar um dos meus textos que penso se encaixar bem com o que é publicado no blog.
Se for da tua vontade eu ficaria muito satisfeito em ver um texto meu publicado no teu blog.
Abraços do leitor distante de Almas.
Alexandre Eco.Por fim, agradeço muito o Alexandre Eco e solicito que continue a ajudar este blogueiro neófito a manter pulsando a vida no LedVenture.blogspot.com
PS. Não te assuste, LedVenture, Almas é a cidade que moro, fica no Tocantis. Não é brincadeira acessa no Wikipédia os dados da minha querida Almas: Almas.
Por Alexandre Eco
- Nem tudo.
- O que você acha que ainda está de pé?
- A sua visão crítica do mundo. Esta nunca foi perdida. E nem será, tenho certeza.
- Luiz. Te confesso que os anos que passei exilado me retiraram a vontade de mudar o mundo. Aquela vontade que tinha ao sair do país arrefeceu-se. Ou melhor, a perdi completamente. Hoje, somente penso conseguir suportar mais um dia de vida. Fazer um bom negócio ou então prestar alguma consultoria para eventual empreiteiro encrencado.
- José deixa de lado este papo. Olha ao teu arredor e veja as tuas ações, perceba o que você construiu, não me refiro às relações com empreiteiras - dá um leve sorriso e continua a falar. Me lembro dos tempo do teu exílio e de como mudamos de lá para cá. Tudo que construímos. É verdade que alguns dos nossos sonhos ficaram pelo caminho. Mas também sonhamos outros sonhos. E realizamos muitos destes sonhos novos e alguns daqueles de outrora. O país melhorou, nós talvez não tenhamos melhorado, mas faz parte da luta.
- Por um lado, Luiz, o que tu fala é verdade, mas por outro é uma forma de explicarmos a nossa vida atual, nossos comportamentos pouco republicamos atuais. Olha ao nosso arredor. Estamos num restaurante de alto luxo. Chegamos aqui em carros modernos, estamos bebendo vinhos famosos e caríssimos, mas ao nosso redor a vida pulsa de uma outra forma. Ao chegar aqui passei por algumas favelas, pessoas dormindo nas ruas, enfim, uma vida miserável, dura e sem futuro. E nós aqui nos divertindo apesar de toda dor e sofrimento que nos cerca. Às vezes me sinto culpado por não ter seguido naquela luta da nossa geração. E também de ter me entregado ao sistema, em vez de mudá-lo. Sei que parece meio adolescente este papo, mas as vezes me sinto assim. Desiludido com o que me transformei.
- José, tu és muito crítico. Passamos o que passamos simplesmente porque pensávamos diferentemente dos donos do poder daquela época. Quando tu voltou ao Brasil nos encontramos na ilegalidade e rumamos novamente à luta armada. A bem da verdade aquela luta não deu em nada, apenas lutamos e muitos de nós tombaram pelo caminho. Mas aquela foi a nossa opção. Com o tempo a nossa forma de lutar mudou, como o mundo mudou. Mudamos nós. Não sinto culpa nenhuma, sinto sim que poderíamos e podemos fazer mais. Ainda mais pelos cargos que ocupamos...
- Aí reside a minha insatisfação. Poderíamos fazer mais... por que não fazemos. Por que ficamos aqui neste restaurante tomando este vinho e não estamos nas ruas fomentando a mudança? Quando vamos às ruas é para somente nos manter no poder. Nunca para que as mudanças sejam, de fato, implementadas
- É simples. A luta não é mais daquela forma dos anos 60 ou 70. Não somos torturados pelos meganha, quem nos tortura somos nós mesmos, é a nossa consciência. Ficamos neste dilema das nossas ideias não corresponderem aos nossos atos. Foda-se. Isso mesmo. Não devemos mais abraçar o mundo, devemos abraçar, sim, uma pequena parte deste mundo. Não iremos mudar tudo que nos cerca, ou melhor, mudaremos em pequenas partes...
- Muito cômoda esta tua definição, Luiz. Muito confortável. Não te reconheço, mas fique tranquilo porque também não me reconheço. É difícil confessar que gosto da vida que levo. Gosto do conforto, gosto de beber o vinho que estamos bebendo, gosto da comida que foi servida aqui. Apenas não gosto de quem vejo no espelho a cada manhã. Apenas isso. Mas não sei o que fazer. Tu tem alguma sugestão?
- Por que não fazemos o expropriação e depois distribuímos o valor "arrecadado" entre os mais pobres. Luiz faz com os dedos aspas imaginárias.
- Que grande ideia. Já sei até que banco poderemos fazer esta expropriação.
- José, eu estava sendo irônico.
- É uma pena, pois eu queria muito fazer uma operação de expropriação em favor do proletariado brasileiro...
- Seria muito engraçado. Uma expropriação decidida no Fasano tendo como testemunha uma conta de doze mil reais. Se fossemos presos, como explicaríamos uma expropriação feita pelas duas figuras mais proeminentes da república? Sem mencionar as maracutaias que estamos envolvidos. Tudo isso nos impede de fazer tal expropriação. Luiz dá uma risada e tem a certeza de que aqueles dois amigos mudaram muito...
Ao saírem daquele jantar cada um foi para um lado da cidade. Ambos em carros blindados e com motoristas particulares. É verdade que querem mudar o mundo, mas enquanto este não muda aproveitam as coisas boas da vida e se protegem da violência que lhes teima em mostrar os dentes. Dois hipócritas, não são os únicos...
Trilha Sonora:
Under Control - The Strokes - Room On Fire
Claroscuro - Soda Stereo - Dynamo
Planeador - Soda Stereo - Comfort Y Musica Para Volar
Rain Fall Down (Radio Edit) - The Rolling Stones - Rain Fall Down Promo CD
Get Off My Cloud - The Rolling Stones - Grrr!
Another One Bites The Dust - Queen - Greatest Hits I
PYT (Pretty Young Thing) 2008 - Michael Jackson (With Will.I.Am) - Thriller (25th Anniversary Edition)
Billie Jean - Michael Jackson - Thriller
Ghosts - Joe Satriani - Live In Paris: I Just Wanna Rock (CD1)
In Taberna: Ego Sum Abbas - Franz Welser-Möst: London Philharmonic Orchestra - Orff: Carmina Burana
Tiger In The Spotlight (Pop Rock 1977) - Emerson Lake And Palmer - Beyond In The Beginning
Honky Tonk Train Blues (Oscar Petersons Piano Party 1976) - Emerson Lake And Palmer - Beyond In The Beginning
Many Shades Of Black - Adele - Greatest Hits 2012
Esta trilha sonora foi ouvida na edição do texto recebido de Alexandre Eco.
Comentários
Postar um comentário
Interaja com Ledventure...