O plano dele era somente fazer um pequeno roubo e voltar à calmaria da aposentadoria.
Apenas mais um roubo, mas como todos os outros sem um pingo de violência. Ainda lembravam dele, volta e meia saia alguma notinha nos jornais lembrando daquele velho ladrão. Por suas ações não violentas do passado recebeu a alcunha "Bandido de Respeito".
Por anos roubou e nunca foi descoberto. Praticava todos os tipos de roubos, mas o que mais gostava era roubar bancos. Planeja minuciosamente as ações. Nos final dos anos 60, quando iniciou a sua carreira vitoriosa de roubos, chegou a atuar em grupos de esquerda para "expropriar" bancos. Infelizmente, para aqueles grupos, Bandido de Respeito não ficou muito tempo com eles, porque tinha que mandar todo o produto para o partido ou para financiar alguma outra operação. Chegou a jantar com um tal de Preto, que tempos depois, Bandido de Respeito, veio a descobrir que era o grande Mariguella, que estampou a capa de revista de circulação nacional com a histórica manchete "PROCURA-SE Mariguela". A tal revista nem sabia como escrever o nome do grande Mariga... Bandido de Respeito tinha certeza que se tivesse ficado ao lado daqueles que enfrentaram a Ditadura, o final da história seria outra, pois dinheiro não iria faltar para financiar as sua operações. Tinha simpatia pela luta armada, mas na verdade o que queria era a grana para gastar e viver bem. Um bandido na verdadeira acepção da palavra. Uma pena para o Brasil.
Os anos se passaram e aquele bandido, cada vez mais admirado, nunca fora encarcerado pela polícia, nem para averiguação. Seus roubos figuraram em capas de jornais. Foi capa da mesma grande revista de circulação nacional, lembrava até da manchete: "Bandido de Respeito: Um Bandido que impõe Respeito". Entretanto, prisão nenhuma.
Tinha orgulho de ter "derrubado" no mínimo 15 secretários de segurança, em cinco estados diferentes. Era só prometer a sua prisão que dali uns três meses o secretaria era exonerado. Muitos diziam que ele era amasiado com alguma delegada ou delegado. Nunca gostou destas insinuações, chegou a enviar cartas para os jornais desmentindo ser amasiado de algum delegado. Pegava mal pra sua reputação. Pelo menos assim ele imaginava. Nenhum jornal publicou uma linha a respeito. Mas os boatos de ser amasiado com um delegado...
Após anos de sumiço, ou melhor, de aposentadoria, Bandido de Respeito estava voltando à ativa.
Olhava o jardim através da janela da confortável casa, quitada com o dinheiro, bom deixa para lá a origem do dinheiro. Ao lado os seus remédios podiam ser vistos dentro da sua "farmacinha". Dias atrás a caixa teve que ser trocada, pois ficara pequena para tantos remédios. Coisa da idade. Pensou no programa farmácia popular, comprava muitos dos seus remédios por um preço ínfimo. Começou a respeitar alguns governantes. Como era fácil fazer coisas para o povo, bastava simplesmente tentar. Infelizmente não eram todos que tentavam...
Olhando aquela cena bucólica lembrou que dali poucos dias daria início a sua desaposentação, iria roubar um livro. Mas não era o um livro qualquer.... O peso dos anos iria dificultar a empreitada. Na verdade gostava deste desafio, roubar o que ninguém ousou roubar. A ideia surgiu na sua cabeça quando um famoso banqueiro, novo rico, comprou um tesouro Não era um diamante ou uma fortuna em barras de ouro. Não, absolutamente não. Era um livro raro, um tesouro literário que não poderia estar nas mãos daquele banqueiro. Um homem que só pensava em dinheiro não saberia apreciar aquela obra suméria. Enûma Eliš é talvez a escrita mais importante da humanidade, pelo menos assim pensava Bandido de Respeito.
O breve retorno deveria ser muito bem planejado, pois qualquer descuido iria acabar com a sua fama de nunca ter sido preso. Bandido de Respeito tinha uma história para honrar. Muito embora sua fama tenha aquela pecha de ser amasiado com algum delegado...
Primeiramente começou a estudar a rotina de Santos, o banqueiro falido que ousou adquirir a mais delicada obra de arte. Bandido de Respeito via apenas uma diferença entre ele e este tal banqueiro. Os dois roubavam, mas quando a coisa apertasse o tal banqueiro poderia ser socorrido pelos governos, enquanto que ele, se a coisa apertasse, poderia ser preso. Que diferença entre os dois bandidos. Lembrou do provérbio popular "ladrão que rouba de ladrão merece 100 anos de perdão". Se conseguisse amealhar o Enûma Eliš teria o perdão eterno.
Inegavelmente valia a tal desaposentação. Seu plano continuou por algumas semanas, começou a ir seguidamente nas redondezas da mansão do banqueiro. Numa manhã ao chegar ao endereço do banqueiro encontrou a única pessoa que não queria encontrar neste mundo.
- Eduardo! como vai você? Quanto tempo?
- Desculpe, mas não conheço o senhor!
Claro que tinha reconhecido aquele senhor. Aliás, continuava lindo, mantinha o mesmo porte dos tempos que era o titular da delegacia do 5º Distrito. Mas, claro que não poderia dar bandeira. Até porque não saia da sua cabeça as insinuações que faziam nos jornais, insinuando que era amasiado com algum delegado.
- Eduardo, vai me dizer que não se lembra de mim. Não me reconhece, sou o Delegado João Alberto do 5º Distrito. Aposentado, mas ainda delegado. Por muitos anos te persegui, mas nunca consegui nenhuma prova para te prender. Te admirava muito.
- Admirava? Em que sentido?
- Profissional. Claro.
- Ah... entendi. Só que fiquei meio confuso. Mas eu também te admirava muito.
- Olha, não dá bandeira. Lembra o que os jornais escreviam sobre nós?
- Sobre nós?
- Sim. Insinuavam que tu era amasiado com algum delegado.
- Ou delegada!
- Mas insistiam na história do delegado. E sempre sobrava para mim. Eu era solteiro, aliás, ainda sou. E sempre fui de me cuidar. Então, eu era o "alvo" ideal daquela imprensa preconceituosa.
- Preconceituosa, João? Isso é fala dos entendidos.
- Eduardo, ou melhor, vamos dar nomes aos bois, Bandido de Respeito, nãodisfarça me diz o que tu está fazendo aqui?
- Uma vez delegado, sempre delegado, nunca se deixa de investigar... Só tenho para lhe dizer que estou caminhando, pegando um ar. A idade nunca vem sozinha. Preciso cuidar desta minha abalada saúde.
- Que engraçado, não me parece que você more aqui neste bairro de ricos, aliás, muito ricos.
- Mais detalhes só forneço na presença do meu advogado.
- O que houve? Não precisa ficar na defensiva, não estou mais na ativa.
Deu uma pequena risada, talvez ele entendesse nas entrelinhas. E continuou:
- Não quero te prender mais. Te gosto muito.
- Não faz assim João Alberto.
Aqueles dois homens vividos ficam a olhar e pensar no que passaram. No que deixaram de passar e no que ainda podiam passar. Mas não falavam nada, apenas se olhavam. Ao fundo a casa daquele banqueiro quase falido... que abrigava o tesouro
Apenas mais um roubo, mas como todos os outros sem um pingo de violência. Ainda lembravam dele, volta e meia saia alguma notinha nos jornais lembrando daquele velho ladrão. Por suas ações não violentas do passado recebeu a alcunha "Bandido de Respeito".
Por anos roubou e nunca foi descoberto. Praticava todos os tipos de roubos, mas o que mais gostava era roubar bancos. Planeja minuciosamente as ações. Nos final dos anos 60, quando iniciou a sua carreira vitoriosa de roubos, chegou a atuar em grupos de esquerda para "expropriar" bancos. Infelizmente, para aqueles grupos, Bandido de Respeito não ficou muito tempo com eles, porque tinha que mandar todo o produto para o partido ou para financiar alguma outra operação. Chegou a jantar com um tal de Preto, que tempos depois, Bandido de Respeito, veio a descobrir que era o grande Mariguella, que estampou a capa de revista de circulação nacional com a histórica manchete "PROCURA-SE Mariguela". A tal revista nem sabia como escrever o nome do grande Mariga... Bandido de Respeito tinha certeza que se tivesse ficado ao lado daqueles que enfrentaram a Ditadura, o final da história seria outra, pois dinheiro não iria faltar para financiar as sua operações. Tinha simpatia pela luta armada, mas na verdade o que queria era a grana para gastar e viver bem. Um bandido na verdadeira acepção da palavra. Uma pena para o Brasil.
Os anos se passaram e aquele bandido, cada vez mais admirado, nunca fora encarcerado pela polícia, nem para averiguação. Seus roubos figuraram em capas de jornais. Foi capa da mesma grande revista de circulação nacional, lembrava até da manchete: "Bandido de Respeito: Um Bandido que impõe Respeito". Entretanto, prisão nenhuma.
Tinha orgulho de ter "derrubado" no mínimo 15 secretários de segurança, em cinco estados diferentes. Era só prometer a sua prisão que dali uns três meses o secretaria era exonerado. Muitos diziam que ele era amasiado com alguma delegada ou delegado. Nunca gostou destas insinuações, chegou a enviar cartas para os jornais desmentindo ser amasiado de algum delegado. Pegava mal pra sua reputação. Pelo menos assim ele imaginava. Nenhum jornal publicou uma linha a respeito. Mas os boatos de ser amasiado com um delegado...
Após anos de sumiço, ou melhor, de aposentadoria, Bandido de Respeito estava voltando à ativa.
Olhava o jardim através da janela da confortável casa, quitada com o dinheiro, bom deixa para lá a origem do dinheiro. Ao lado os seus remédios podiam ser vistos dentro da sua "farmacinha". Dias atrás a caixa teve que ser trocada, pois ficara pequena para tantos remédios. Coisa da idade. Pensou no programa farmácia popular, comprava muitos dos seus remédios por um preço ínfimo. Começou a respeitar alguns governantes. Como era fácil fazer coisas para o povo, bastava simplesmente tentar. Infelizmente não eram todos que tentavam...
Olhando aquela cena bucólica lembrou que dali poucos dias daria início a sua desaposentação, iria roubar um livro. Mas não era o um livro qualquer.... O peso dos anos iria dificultar a empreitada. Na verdade gostava deste desafio, roubar o que ninguém ousou roubar. A ideia surgiu na sua cabeça quando um famoso banqueiro, novo rico, comprou um tesouro Não era um diamante ou uma fortuna em barras de ouro. Não, absolutamente não. Era um livro raro, um tesouro literário que não poderia estar nas mãos daquele banqueiro. Um homem que só pensava em dinheiro não saberia apreciar aquela obra suméria. Enûma Eliš é talvez a escrita mais importante da humanidade, pelo menos assim pensava Bandido de Respeito.
O breve retorno deveria ser muito bem planejado, pois qualquer descuido iria acabar com a sua fama de nunca ter sido preso. Bandido de Respeito tinha uma história para honrar. Muito embora sua fama tenha aquela pecha de ser amasiado com algum delegado...
Primeiramente começou a estudar a rotina de Santos, o banqueiro falido que ousou adquirir a mais delicada obra de arte. Bandido de Respeito via apenas uma diferença entre ele e este tal banqueiro. Os dois roubavam, mas quando a coisa apertasse o tal banqueiro poderia ser socorrido pelos governos, enquanto que ele, se a coisa apertasse, poderia ser preso. Que diferença entre os dois bandidos. Lembrou do provérbio popular "ladrão que rouba de ladrão merece 100 anos de perdão". Se conseguisse amealhar o Enûma Eliš teria o perdão eterno.
Inegavelmente valia a tal desaposentação. Seu plano continuou por algumas semanas, começou a ir seguidamente nas redondezas da mansão do banqueiro. Numa manhã ao chegar ao endereço do banqueiro encontrou a única pessoa que não queria encontrar neste mundo.
- Eduardo! como vai você? Quanto tempo?
- Desculpe, mas não conheço o senhor!
Claro que tinha reconhecido aquele senhor. Aliás, continuava lindo, mantinha o mesmo porte dos tempos que era o titular da delegacia do 5º Distrito. Mas, claro que não poderia dar bandeira. Até porque não saia da sua cabeça as insinuações que faziam nos jornais, insinuando que era amasiado com algum delegado.
- Eduardo, vai me dizer que não se lembra de mim. Não me reconhece, sou o Delegado João Alberto do 5º Distrito. Aposentado, mas ainda delegado. Por muitos anos te persegui, mas nunca consegui nenhuma prova para te prender. Te admirava muito.
- Admirava? Em que sentido?
- Profissional. Claro.
- Ah... entendi. Só que fiquei meio confuso. Mas eu também te admirava muito.
- Olha, não dá bandeira. Lembra o que os jornais escreviam sobre nós?
- Sobre nós?
- Sim. Insinuavam que tu era amasiado com algum delegado.
- Ou delegada!
- Mas insistiam na história do delegado. E sempre sobrava para mim. Eu era solteiro, aliás, ainda sou. E sempre fui de me cuidar. Então, eu era o "alvo" ideal daquela imprensa preconceituosa.
- Preconceituosa, João? Isso é fala dos entendidos.
- Eduardo, ou melhor, vamos dar nomes aos bois, Bandido de Respeito, nãodisfarça me diz o que tu está fazendo aqui?
- Uma vez delegado, sempre delegado, nunca se deixa de investigar... Só tenho para lhe dizer que estou caminhando, pegando um ar. A idade nunca vem sozinha. Preciso cuidar desta minha abalada saúde.
- Que engraçado, não me parece que você more aqui neste bairro de ricos, aliás, muito ricos.
- Mais detalhes só forneço na presença do meu advogado.
- O que houve? Não precisa ficar na defensiva, não estou mais na ativa.
Deu uma pequena risada, talvez ele entendesse nas entrelinhas. E continuou:
- Não quero te prender mais. Te gosto muito.
- Não faz assim João Alberto.
Aqueles dois homens vividos ficam a olhar e pensar no que passaram. No que deixaram de passar e no que ainda podiam passar. Mas não falavam nada, apenas se olhavam. Ao fundo a casa daquele banqueiro quase falido... que abrigava o tesouro
Continua em breve, espero que não demore muito, pois estou curioso para saber onde irá parar esta passagem da vida do Bandido de respeito.
Trilha Sonora
Hoje escrevi sem música, somente com os sons do entorno. Sons do dia a dia. Ao escrever nesta noite fria de inverno tive que ouvir uma música que não sai da minha cabeça:
Julia - Pampered Menial - Pavlov's Dog
Hoje escrevi sem música, somente com os sons do entorno. Sons do dia a dia. Ao escrever nesta noite fria de inverno tive que ouvir uma música que não sai da minha cabeça:
Julia - Pampered Menial - Pavlov's Dog
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