Pular para o conteúdo principal

Quase nada

     Por muito tempo carrego a impressão de que as palavras não comportam a vida por inteiro.
     Não é possível expressar através das letras os vastos sentimentos que experimentamos. Um deles a amizade. Não consigo transpor em palavras todos os sentimentos que envolvem a amizade, seja qual for o tipo de amigo a que se refira o substantivo feminino.
     Por isso, talvez, me tenha calado tão fundo um comentário feito no blog ontem (isso mesmo, alguém lê e ainda comenta neste blog escondido em algum ponto deste mundo virtual. O que não deixa de ser surpreendente). Pela manhã li o seguinte comentário: "A amizade também termina. Não, ela se transforma em nada".
     Este comentário foi feito no post anterior Efemeridades. Aquela frase ficou martelando dentro de mim por algum tempo. Pensei algumas respostas, escrevi a minha resposta. A minha verdade, e somente isso. Mas há muito coisa a ser escrita sobre aquele comentário. Será que o Anônimo chegou ao limite das palavras e não tenha conseguido expressar os sentimentos que envolvem qualquer amizade? Será que um dia o Anônimo encontrou uma amizade verdadeira ou mesmo falsa? Será que o Anônimo entende tudo que lhe cerca? Pouco importa a resposta. O que me importa, na realidade, é que as palavras não comportam a vida. A vida é muito mais do que palavras ao vento, escritas em uma folha de papel ou mesmo publicadas em um blog sem rumo e sentido.
     Todos os dias entendo mais assim. A vida é mais, somos mais do que palavras. Por isso, por vezes, pouco importa o mundo das letras. Não desprezo as letras, me importo, isso sim, com a vida como ela é e não como pensamos que é ou como tentamos retratá-la ou explicá-la. Levo comigo que os caminhos porque passamos, as pessoas com que cruzamos, os erros, os acertos, nos acrescentam, mesmo que sejam desilusões. Isso não pode ser considerado nada como o Anônimo entende. Respeito, mas não concordo. Até mesmo as desilusões nos ensinam a caminhar, nos mostram por onde não passar ou com quem partilhar amores e dores...
     Finalmente, após erros e acertos, talvez mais erros, percebi que caminhos trilhar, mesmo que não consiga expressar em palavras, mesmo que não as encontre, pois estas não alcançam a vida na sua plenitude. Por isso não entendo que algo se transforme em nada. Desculpe-me Anônimo, mas hoje, somente hoje, posso dizer que tudo se transforma em alguma coisa, às vezes num sapo enorme, em outras ocasiões em um bela princesa. Por falar em sapos, estes dias assisti Magnólia, um filme muito interessante, se tiver interesse assista, acho que vale a pena. Numa cena capital ocorre um chuva de sapos, isso mesmo uma chuva torrencial de sapos (uma figura de linguagem interessantíssima). Aquele fato extraordinário é um marco na vida de todos os personagens. Este acontecimento é o limite na vida de todos que presenciam aquele fenômeno, a partir dele os personagens do filme encontram um novo rumo em suas vidas. Todos temos que passar por acontecimentos inexplicáveis para encontrarmos nossos rumos. Espero que você, Anônimo, encontre a sua chuva de sapos, a minha, já encontrei e me ensinou muito... Que chova sapos em todas as nossas vidas.

PS.: Valeu Anônimo, continue contribuindo com este blogueiro neófito. Após algum tempo (relativamente longo) voltei a escrever dois dias seguidos.

Trilha sonora:
63 - Muse - Arcana
Lap Of Luxury - Jethro Tull - Under Wraps
Rolling Stones - Wild Horses - Rock 70´s
Moondance - Van Morrison - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Be My Baby - The Ronettes - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Led Zeppelin - Stairway To Heaven - Clássicos Rock 500
Playground - Sia - Some People Have Real Problem
Heart Of Gold - Neil Young - Greatest Hits
Let's Stay Together - Al Green - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Escape Hatch - Spyro Gyra - Fast Forward
One After 909 - The Beatles - Let It Be
Her Majesty - The Beatles - Abbey Road
Janine - Space Oddity - (German RCA)
Good Night - The Beatles - White Album - (Disc Two)
Ticket To Ride - The Carpenters - The Singles 1969-1973
Bizet / Carmen Suite No. 2, Habanera - Clássicos - 101 Classical Greats Volume 2
Electric Light Orchestra - Livin' Thing - Clássicos Rock 500
Milonga Magica - Andreas Vollenweider - Air
Blinded By Rainbows - The Rolling Stones - Voodoo Lounge
Good Times Bad Times - Led Zeppelin - Celebration Day
Stairway To Heaven - Led Zeppelin - Celebration Day
Rock And Roll - Led Zeppelin - Celebration Day

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Somos 99%

     Somos uma parcela significativa de qualquer sociedade. Somos os 99%. Apesar de sermos a imensa maioria, ainda assim somos excluídos de quase tudo. Somos chamados somente quando os detentores das riquezas, os outros 1%, precisam de nossos sacrifícios.      Como é possível que uma sociedade, com alicerces tão frágeis, fique de pé por tanto tempo? Não tenho a resposta. Entretanto, sinto que algo está mudando e muito rapidamente. Esta sociedade injusta já não está mais tão firme e começa a ser questionada. Nos últimos meses estamos acompanhando vários movimentos sociais espraidos pelo mundo. É a voz dos 99% se fazendo ouvir. Estamos cansados de sacrifícios intermináveis. E sempre dos mesmos para os mesmos. Nunca são chamados os detentores da riqueza. Um porcento da população nunca se sacrifica, mas quando aparece alguma dificuldade, criada pela ganância deles, colocam de lado suas convicções e imploram ajuda dos governos. Estes governos que sempre foram chamados de ineficientes ou

Vivendo ao largo da vida...

     - Eu vivo ao largo da vida.      - Como assim?      - Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.      - Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.      - Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.      - Otávio, às vezes acho que tu é louco.      - Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.      - É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.      - Mas eu gosto de falá-las.      - Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.      - Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...      - Para o que...      - Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.      - Tu e esta mania de me chamar de i

DSK, o homem "respeitável"

     Imaginem um homem poderoso. Um homem influente. Um homem "respeitável". Este homem entra num avião, se dirige à primeira classe, lugar onde sempre se acomoda quando viaja de avião. Afinal, é o todo poderoso, não existe outro lugar para este homem a não ser a primeira classe de uma aeronave. Pelo menos até então.      Mas antes de se deslocar até este avião, o "respeitável" senhor abusou de uma camareira do hotel de luxo onde estava hospedado. Muitos ao imaginar esta situação têm a certeza de que nada iria acontecer a este senhor poderoso, temos certeza de que ele iria para o seu destino e aquela camareira conviveria com esta chaga, ser abusada por um homem poderoso e nada poder fazer porquanto ninguém acreditaria nela. Mas não foi o que aconteceu nestes últimos dias nos Estados Unidos.      Muitos de nós criticamos os Estados Unidos. Na adolescência tínhamos como objeto da nossa ira este país imperialista. Afinal, éramos e ainda somos a parte do mundo explorada