Dependemos de muitas coisas nestes tempos modernos. Esperamos muito, necessitamos cada vez mais da intervenção de terceiros, pouca coisa depende única e exclusivamente de nós. É a famigerada vida em sociedade, ou como dizem, o ônus de viver em sociedade.
Às vezes me dá vontade de viver no meio do mato, sem qualquer dependência de terceiros, queria somente depender de mim, gostaria de determinar o que, como e porque fazer. Queria que somente a necessidade impusesse os limites da minha vida. Mas não é assim que vivemos, paciência.
É uma utopia pensar em viver isolado num lugar. Mas se fosse possível gostaria que fosse num lugar como a Lagoinha do Leste. Até o nome é convidativo a uma vida de retiro. Pena que a Lagoinha já não é mais a mesma. Até lá o entorno a invadiu, já domina de uma forma avassaladora. Mas aí já é um outro assunto.
Será que ainda existe um lugar como já foi a Lagoinha do Leste? Lembro a primeira
vez que fui lá, fiquei maravilhado, minha vida ainda era razoavelmente livre, não tinha os compromissos da vida adulta, eu era apenas um cara que queria algo e que não sabia o que era.
Na trilha para a Lagoninha conheci um indio que me descreveu um estranho encontro ocorrido naquele lugar. Em princípio achei estranho um indio naquela trilha, mas vai saber...Ele se apresentou como Dom Juan Matus. Após uma conversa inicial do nada este personagen começou a descrever a seguinte passagem da sua vida.
"Gaúcho me lembro como se fosse hoje o meu contato com a maior divindade de todas, a maior força que nos cerca, a natureza. Naquele dia me senti parte integrante deste mundo, podia sentir a terra pulsando, as ondas do mar eram como o fluido vital dentro de mim. Ao entrar no mar parecia que estava de volta ao útero materno. Isso mesmo, parecia que ali eu tinha sido gerado. Ao olhar para o lado vi Mary Jane dizendo para eu aproveitar aquele momento porque este nunca mais seria repetido. Pelo menos com aquela intensidade. O céu continha o azul mais profundo, o verde que me cercava era intenso, o sol espalhava o calor por todos os meus poros e eu lá cada vez mais fora do meu normal. Não fazendo mal a ninguém, apenas me integrando a tudo que me cercava naquele momento.
Depois de sair desta espécie de transe, muitas outras vezes me encontrei com Mary Jane, mas nunca foi como no primeiro encontro na Lagoinha do Leste, acho que nunca mais aquela conjunção pode se formar novamente. Uma pena. Sempre volto aqui, mas nunca mais vivi aquela experiência. Estou a procura daquelas sensações..." Ao terminar este relato Dom Juan pegou uma outra trilha e desapareceu como se nunca tivesse falado comigo. Talvez estivesse na sua procura, mas a certeza que tenho é que e não fazia mal a ninguém.
Eu segui até a Lagoinha e percebi que aquele era o meu lugar no mundo. Muitas vezes voltei lá, mas a cada novo encontro sentia que o mundo em volta da Lagoinha já se fazia sentir. Garrafas pets pelo caminho, lixo espalhado, pessoas desrespeitando aquele paraíso. Faz algum tempo que não volto lá, quero manter na minha mente a imagem do paraíso inexplorado que conheci...
Mas este assunto surgiu em função de que estes dias vi que a polícia reprimiu com violência a Marcha da Maconha. Na hora me lembrei de Dom Juan. Pensei, será que faz tanto mal um produto gerado pela natureza? Uma erva pode ser responsável por tantas mazelas? Será que o
problema não está no traficante que espalha violência, amparado pela ilegalidade? Será que não seria mais profícuo liberar o consumo e retirar a lucratividade deste mercado marginalizado?
Outra coisa, será que um estado democrático não pode conviver pacificamente com manifestações contrárias ao que a maioria pensa. Eu tenho convicção que somente através da diversidade de opiniões poderemos formar nossas certezas. Sou favorável a descriminalização do uso da maconha, mas sinceramente não tenho opinião formada sobre a liberação do consumo. Não quero glamourizar o consumo de entorpecentes, em especial a maconha, mas que esta erva não é responsável pelos crimes a ela impostos isso não é. Sou favorável a uma ampla discussão sobre este assunto e muitos outros.
A democracia tem com um dos vértices o conflito de opiniões, os embates de ideias para que daí se forme o consenso; a verdadeira democracia será efetivada quando tivermos um sistema educacional com um mínimo de qualidade para que ao final e ao cabo possamos nos questionar. Destes questionamentos nossa opinião formará alicerces firmes, não seremos apenas reprodutores de pensamentos alheios.
Num Estado que reprime com violência uma passeata, pode simplesmente nos descer o cacetete por pensarmos diferente dos donos momentâneos do Poder. Aí estaremos a um passo de um estado totalitário. Começa de forma dissimulada e como não nos afeta vamos deixando, quando, enfim, nos afetar já será tarde. Bertold Brecht, sintetiza de maneira brilhante:
Então era isso, hoje foi uma salada de frutas o que escrevi, muitos assuntos, talvez eu seja assim muitas coisas em minha cabeça, talvez porque tenha começado a escrever ontem, talvez, talvez, não sei ando meio esquecido ultimamente...
Trilha Sonora:
My Favorite Things - John Coltrane - The Olatunji Concert The Last Live Recording
Black Burning Heart - Keane - Perfect Symmetry
E: Home Again - Supertramp - Orpheum Theatre, 1976-03-05 Boston, MA
Dangerous Veils - Jethro Tull - Roots to Branches
Message in a Bottle - The Police - Message in a Box
The Ground Beneath Her Feet - U2 -The Million Dollar Hotel
Sometimes You Can't Make It On Your Own - U2 - How To Dismantle An Atomic Bomb
Goodbye Blue Sky - Pink Floyd - The Wall - Disc I
Às vezes me dá vontade de viver no meio do mato, sem qualquer dependência de terceiros, queria somente depender de mim, gostaria de determinar o que, como e porque fazer. Queria que somente a necessidade impusesse os limites da minha vida. Mas não é assim que vivemos, paciência.
É uma utopia pensar em viver isolado num lugar. Mas se fosse possível gostaria que fosse num lugar como a Lagoinha do Leste. Até o nome é convidativo a uma vida de retiro. Pena que a Lagoinha já não é mais a mesma. Até lá o entorno a invadiu, já domina de uma forma avassaladora. Mas aí já é um outro assunto.
Será que ainda existe um lugar como já foi a Lagoinha do Leste? Lembro a primeira
vez que fui lá, fiquei maravilhado, minha vida ainda era razoavelmente livre, não tinha os compromissos da vida adulta, eu era apenas um cara que queria algo e que não sabia o que era.
Na trilha para a Lagoninha conheci um indio que me descreveu um estranho encontro ocorrido naquele lugar. Em princípio achei estranho um indio naquela trilha, mas vai saber...Ele se apresentou como Dom Juan Matus. Após uma conversa inicial do nada este personagen começou a descrever a seguinte passagem da sua vida.
"Gaúcho me lembro como se fosse hoje o meu contato com a maior divindade de todas, a maior força que nos cerca, a natureza. Naquele dia me senti parte integrante deste mundo, podia sentir a terra pulsando, as ondas do mar eram como o fluido vital dentro de mim. Ao entrar no mar parecia que estava de volta ao útero materno. Isso mesmo, parecia que ali eu tinha sido gerado. Ao olhar para o lado vi Mary Jane dizendo para eu aproveitar aquele momento porque este nunca mais seria repetido. Pelo menos com aquela intensidade. O céu continha o azul mais profundo, o verde que me cercava era intenso, o sol espalhava o calor por todos os meus poros e eu lá cada vez mais fora do meu normal. Não fazendo mal a ninguém, apenas me integrando a tudo que me cercava naquele momento.
Depois de sair desta espécie de transe, muitas outras vezes me encontrei com Mary Jane, mas nunca foi como no primeiro encontro na Lagoinha do Leste, acho que nunca mais aquela conjunção pode se formar novamente. Uma pena. Sempre volto aqui, mas nunca mais vivi aquela experiência. Estou a procura daquelas sensações..." Ao terminar este relato Dom Juan pegou uma outra trilha e desapareceu como se nunca tivesse falado comigo. Talvez estivesse na sua procura, mas a certeza que tenho é que e não fazia mal a ninguém.
Eu segui até a Lagoinha e percebi que aquele era o meu lugar no mundo. Muitas vezes voltei lá, mas a cada novo encontro sentia que o mundo em volta da Lagoinha já se fazia sentir. Garrafas pets pelo caminho, lixo espalhado, pessoas desrespeitando aquele paraíso. Faz algum tempo que não volto lá, quero manter na minha mente a imagem do paraíso inexplorado que conheci...
Mas este assunto surgiu em função de que estes dias vi que a polícia reprimiu com violência a Marcha da Maconha. Na hora me lembrei de Dom Juan. Pensei, será que faz tanto mal um produto gerado pela natureza? Uma erva pode ser responsável por tantas mazelas? Será que o
problema não está no traficante que espalha violência, amparado pela ilegalidade? Será que não seria mais profícuo liberar o consumo e retirar a lucratividade deste mercado marginalizado?
Outra coisa, será que um estado democrático não pode conviver pacificamente com manifestações contrárias ao que a maioria pensa. Eu tenho convicção que somente através da diversidade de opiniões poderemos formar nossas certezas. Sou favorável a descriminalização do uso da maconha, mas sinceramente não tenho opinião formada sobre a liberação do consumo. Não quero glamourizar o consumo de entorpecentes, em especial a maconha, mas que esta erva não é responsável pelos crimes a ela impostos isso não é. Sou favorável a uma ampla discussão sobre este assunto e muitos outros.
A democracia tem com um dos vértices o conflito de opiniões, os embates de ideias para que daí se forme o consenso; a verdadeira democracia será efetivada quando tivermos um sistema educacional com um mínimo de qualidade para que ao final e ao cabo possamos nos questionar. Destes questionamentos nossa opinião formará alicerces firmes, não seremos apenas reprodutores de pensamentos alheios.
Num Estado que reprime com violência uma passeata, pode simplesmente nos descer o cacetete por pensarmos diferente dos donos momentâneos do Poder. Aí estaremos a um passo de um estado totalitário. Começa de forma dissimulada e como não nos afeta vamos deixando, quando, enfim, nos afetar já será tarde. Bertold Brecht, sintetiza de maneira brilhante:
"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com issoEu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levandoMas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."
Então era isso, hoje foi uma salada de frutas o que escrevi, muitos assuntos, talvez eu seja assim muitas coisas em minha cabeça, talvez porque tenha começado a escrever ontem, talvez, talvez, não sei ando meio esquecido ultimamente...
Trilha Sonora:
My Favorite Things - John Coltrane - The Olatunji Concert The Last Live Recording
Black Burning Heart - Keane - Perfect Symmetry
E: Home Again - Supertramp - Orpheum Theatre, 1976-03-05 Boston, MA
Dangerous Veils - Jethro Tull - Roots to Branches
Message in a Bottle - The Police - Message in a Box
The Ground Beneath Her Feet - U2 -The Million Dollar Hotel
Sometimes You Can't Make It On Your Own - U2 - How To Dismantle An Atomic Bomb
Goodbye Blue Sky - Pink Floyd - The Wall - Disc I
ótima a colocação de Bertrold Brecht.
ResponderExcluirtb não sei se deve ser legalizada, mas descriminalizar me parece correto.
verdade que precisa de uma discussão com a participação de todos.
o problema que o tráfico gera fortunas para muitos (traficantes, banqueiros, políticos, policiais, etc).
aí é que a coisa pega. como acabar com essa bocona de fortuna dos caras. é difícil. legalizar acabaria com ela, e talvez eles aumentassem outros ramos do crime organizado para compensar a perda - o que poderia ser tão prejudicial como a venda de entorpecentes. não é coisa fácil de ser lidada e necessita de ampla discussão.
Aí maluco! Legalização = + consumidores + traficantes + disputa de áreas + furtos + roubos = + Mortes.
ResponderExcluirLogo legalização NUNCA!
Muito bom velho!!
ResponderExcluirEu também conheci a Lagoinha quando ele ainda era um paraíso quase intocado. Um experiência que mexeu com meu espírito.
Sou a favor da legalização da maconha, mas antes tem que tirar o crack da rua, isso é mais importante agora eu acho... utopias...
Um mundo chapado seria mais pacífico, com certeza.
legalização = - traficantes - violência + saúde + empregos + LIBERDADE.
Sou a favor da legalizacão da maconha.Pelo simples fato da possibildade de se gerar mais empregos.
ResponderExcluirAgora, por vezes somos um pouco hipocritas, quando colocamos todos os males do país nas costas dos traficantes. Se nao existissem consumidores, nao existiriam traficantes!Os traficantes enriquecem, enriquecem , com certeza! Mas por outro lado conseguem movimentar uma economia de uma comunidade. Tirem o trafico dos morros e todos descerão para o asfalto para aí sim praticarem crimes roubos e mortes.
É mais ou menos, como a venda de cds e dvds piratas, tem o cara que enriquece as custas dos direitos autorais dos outros, sim, com certeza! Mas se as pessoas não comprassem, eles não existiriam... Infelizmente a dura realidade, a hipocrisia plim plim não demonstra!Facamos uma mea culpa! Dificilmente a alta sociedade carioca, do Leblon e Ipanema conseguiria sobreviver sem seus belprazeres da vida...
Tema por demais polemico...grande abraco, muito bom seu texto!Gostei do Indio, por onde anda?Talvez esteja agora com a camisa 3 do Colorado! Acho que o senhor sabe quem escreveu o comentario...rsrsrs.