Pular para o conteúdo principal

Os emergentes e seus problemas

    Uma história muito legal enviada pelo leitor Márcio Róm e com um final um tanto surpreendente. Não sei de qual cidade vem esta contribuição pois não foi mencionada. Mas gostei muito da história. Gostei mesmo. Por isso a publico aqui no LedVenture. Neste momento cabe uma explicação, porquanto tenho um leitor(a) que questiona a publicação de contribuições dos  leitores do blog. Explico que este é um espaço onde todos e todas podem fazer parte. Sou aberto a qualquer contribuição que se encaixe na proposta do blog, ou seja, entreter e fazer pensar. Caro Anônimo(a) não leve a mal, apenas leia o texto e se gostar  comente. Eu gostei muito. Boa leitura a todos e todas... Valeu Márcio Róm pela contribuição.

Por Márcio Róm


     - Não pode! Roberto tu é igual aos teus amigos emergentes.
     - Por quê?
     - Dá uma olhada na tua página do Facebook. Até o teu peido tu menciona no Facebook. Te liga.
     - Meus amigos fazem o mesmo.
     - Isso não quer dizer nada. Os teus amigos são todos cafonas. O Luiz Otávio por exemplo, viajou nas férias e a todo momento ficava colocando fotos no Facebook. Fotos em carrões, fotos em restaurantes famosos e até no banheiro do avião postou. Eu até gosto, pois facilita o meu trabalho. Tu não acha demais?
     - Não. Curti todas. E até postei comentários com risadas e outras coisas. Tu tem um pouco de razão, lembra do Leonardo? Colocou as fotos de quando estava na concessionária comprado o i30 dele.
     - Roberto, i30 é carro de emergente. Aliás, as redes sociais é o habit dos emergentes.
     - Pô, Maria Eduarda. Tu parece que é invejosa.
     - Não mesmo, sou apenas realista. Teus amigos são todos uns emergentes. Mais um exemplo. O Felipe. Este agora anda pra cima e para baixo com aquele iPhone tocando a toda hora aquela música do filme Carruagens de Fogo. É o fim da picada.
     - Sabe que nem reparei...
     Neste instante entra no Restaurante um amigo que o casal que não via há muito tempo.
     - Não pode ser... Robertão e Maria Eduarda, o casal mais fashion da cidade. Estava com muitas saudades de vocês. Vou postar no Facebook este nosso encontro.
     Em ato contínuo pegou seu iPhone e publicou no Face uma foto com a seguinte legenda: "No Restaurante Estrelas com meus irmãos de alma Robertão e Maria Eduarda, que dia feliz. Hoje promete..." e mostrou a sua página do Facebook para o casal.
     Roberto e Maria Eduarda se olham. Roberto logo diz:
     - Oh... Luiz Carlos, espera um pouco que vou curtir a tua publicação.
     Maria Eduarda quer se esconder embaixo da mesa.
     O papo continuava entre eles. Na verdade entre Roberto e o Luiz Carlos. E para variar o assunto era o Face, as fotos das viagens, dos carros, das roupas de marca, celulares e coisas sem nenhuma utilidade prática. Papo de emergente. Maria Eduarda queria sumir, mas fazia caras e bocas, como se estivesse adorando o papo.
     - Bom meus queridos tenho que ir embora.
     Maria Eduarda pensa, quem chama meus queridos é emergente...
     Luiz Carlos não para de falar:
     - Ainda hoje vou na concessionária pegar meu carro novo e claro publicarei tudo no Face. Adivinha qual é o modelo.
     Maria Eduarda não aguentando mais aquele papo e como tinha certeza qual era o carro, completou:
     - É um i30, é a tua cara.
     - Tu é sensitiva Maria Eduarda, claro que é um i30! Como tu adivinhou?
     - Olha Luiz Carlos, se por outro motivo não fosse é porque tu postou durante todo mês a negociação de compra no Face. Lembra?
     - É verdade, tinha me esquecido. Mas o carro é legal né?
     Roberto e Maria Eduarda concordaram com os olhos, mas não disseram nada. Os três se despediram. Quando o Luiz Carlos saiu Maria Eduarda não se conteve e logo disse:
     - Tô te dizendo Roberto, os teus amigos são muito emergentes...
     - Mas o carro é legal. Tá certo que agora o Veloster ofusca um pouco ele, mas ainda assim é legal.
     - A questão não se o carro é ou não legal, a questão é o status que todos querem apresentar com o carro. antes o Audi A3 fazia este papel. Agora é o i30, a Sportage e outros menos votados...
     - Maria Eduarda não te entendo tu sempre gostou da tal Sportage...
     - Até gosto, mas não sei. O que me incomoda é esta exposição, esta vontade de esfregar na cara de todo mundo a compra de algo ou então a divulgação de cada ato da vida nas redes sociais.
     - Mas se te incomoda tanto, não acessa o Face. Tu não é obrigada.
     - Sei disso, mas a questão é que eu entro no Face por dever de ofício. E tu sabe que minha profissão me obriga a acessar todas as redes sociais.
     - É verdade...
     - Hoje mesmos um cara divulgou que comprou uma mansão em Alphaville. Este mesmo cara era investigado por nós. E foi a gota d´água. Era o que precisávamos para notificá-lo...
     - É, vocês da Receita Federal não perdoam ninguém, agora até as redes sociais dão subsídios para estas famigeradas autuações fiscais.
     - É isso mesmo. E tu sabe o Luiz Eduardo que acabou de sair. Também será notificado. Faz três anos que não declara imposto de renda e no Face posta todas as compras que fez, casa, carro, lancha e viagens pela Europa. Não tem moleza, quer ostentar, tem que declarar imposto de renda.
     - Ainda bem que sou teu marido e declaro o imposto certinho... e se beijaram.
    A vida é assim mesmo, temos que nos cuidar, porque somos vigiados em todos os momentos de nossas vidas, até mesmo nas redes sociais. É o 1984 de George Orwell se materializando diante de nossos olhos...

Comentários

  1. Muito bom o texto, seja lá qual for o autor ,rsrsrs...
    Estes dia ouvi uma frase: " compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos."

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Interaja com Ledventure...

Postagens mais visitadas deste blog

Ocaso!

    Faz muito tempo que não entro aqui para escrever. Aliás, faz muito tempo que não acesso o blog. Ele está em um processo de hibernação. Quase uma vida mantida por aparelhos.     O motivo? Talvez o ocaso do LedVenture esteja próximo. Gosto da palavra ocaso. Penso em um caso qualquer, uma história qualquer que será contada. É o tipo de palavra que o som te carrega a muitos lugares e situações. Mas voltado desta pequena digressão, o LedVenture sempre foi um personagem vivido por este blogueiro neófito. Um personagem que por breves momentos adquiriu vida própria. Um personagem que ultrapassou os limites da ficção e viveu algumas experiências muito interessantes. Outras nem tanto.      Cruzam ambulâncias aqui perto, correndo não sei para onde, talvez para acudir este blogueiro, talvez não... As ambulâncias passarem e a vida volta ao normal por aqui, não me acudiram. Parece que não foram chamadas para me atender.  Na verdade não prec...

A casa não vai cair...

     Um amigo, aliás, um ótimo amigo escreveu algo que me fez pensar: "... enquanto nos perdemos nos detalhes, contando, classificando... a vida passa e a casa vai caindo, pouco a pouco."      Este amigo em poucas palavras me mostrou o que somos, ou melhor, no que nos transformamos.      Parece que deixamos de lado o quadro para prestarmos atenção na moldura, sabemos tudo sobre este detalhe, o ano da fabricação da madeira, o tipo e forma do corte, esquecemos de olhar o quadro em si. Fechamos os olhos para a pintura...      No início o não entendi, pois o simples nos é tão difícil de entender, sempre estamos  querendo transformar esta simplicidade em algo complexo. Mas esta simplicidade quando nos é revelada nos abre olhos, enxergamos além da moldura, passamos a ver o conteúdo do quadro; nos surpreendemos com o que surge aos nossos incrédulos olhos.      Parece que somos criados para somente fazermos part...

Modernidade, botas e amor...

     Este mundo da modernidade é muito frugaz, tudo muda de uma hora para outra. O que hoje é a maior representação da tecnologia, amanhã é totalmente obsoleto. Hoje vivemos o tempo da mudança constante, até mesmo para que haja movimentação econômica, consumo e mais consumo.      O ser humano viveu milhares de anos evoluindo gradativamente, se adaptando ao meio para sobreviver as vicissitudes da vida. Hoje em dia nós seres humanos alteramos o que nos cerca para que este se molde as nossas necessidades. Construímos enormes hidrelétricas alagando milhares de hectares. Para quê? Para  produzir mais energia e satisfazer nossas pequenas necessidades. Criamos cidades dentro de mares para que? Para simplesmente ostentarmos, ou seja, para mostrarmos para os mais desvalidos que existe uma classe social que pode tudo. Erguemos centrais atômicas na zona mais perigosa do mundo e ficamos surpresos quando acontece uma catástrofe anunciada.      Qu...