
Agora estava em frente à banca do jogo do bicho e a "vítima" estava lá. Pronta para ser alvejada. Ele caminha em direção ao futuro presunto e este lhe dá um belo sorriso. O matador começa a desgraçar aquele sorriso. Mais uma vez iria falhar. Dá meia volta e decide seguir o conselho do seu colega matador, iria consultar um psicólogo. Ou melhor, uma psicóloga. Teria que superar este bloqueio, afinal, aquela era a sua profissão e não sabia fazer nada mais do que matar. Caminhava desolado em direção a sua casa. Ao chegar procura logo uma psicóloga na lista telefônica e liga desesperado
- Alô. Dá onde falam?
- Consultório da Dra. Sofia Meleres.
- Que nome estranho. No guia telefônico somente consta o primeiro nome.
- Não se preocupe, o nome da Dra. é estranho mesmo. Mas em que posso lhe ajudar?
- Não consigo mais matar.
Um silêncio se faz. Ele logo percebe o constrangimento no ar, dá uma risada e logo completa:
- Brincadeira.
A secretária pensa, só liga louco para este consultório. O último dizia que era o Napoleão e um outro se apresentava como Peter Frampton ou como o James Taylor.
- O senhor deseja algo?
Ele queria somente matar, nada mais. Mas não poderia dizer isso assim. Então foi sucinto.
- Gostaria de marcar uma consulta. O quanto mais rápido melhor. Não aguento mais.
- Como assim? Não aguenta mais?
- Isso mesmo. Mas a consulta já começou? E pelo telefone?
- Não... apenas me surpreendi. Nada mais. O senhor está com sorte. Temos uma vaga na agenda para hoje na primeira hora da tarde.
- Ótimo.
- Qual seu nome?
- Não posso dizer. Sou procurado.
- Mas senhor, não se preocupe aqui ninguém lhe achará. A secretária era descolada em tratar com a clientela da Dra. Sofia.
- Coloca aí Jesus.
- Jesus de que?
- Jesus Cristo.
- Senhor, desculpe. Mas preciso do seu nome verdadeiro e não de quem o senhor acha que é, entende?
Ele já estava ficando meio irritado, só queria marcar a consulta e nada mais. Precisava daquele consulta, pois tinha que voltar ao batente para ganhar o pão de cada dia. E o pior que já tinha recebido adiantamento para apagar o tal bicheiro e se não cumprisse a sua tarefa quem viraria presunto era ele...
- Minha senhora. A senhora pediu meu nome. E eu dei. Que culpa tenho eu que meus pais me colocaram este nome, Jesus Cristo da Silva. Este é o meu nome e não tem nada a ver com dupla personalidade. Este nome me prejudica até na minha profissão... Só faltava me prejudicar num consultório psicológico.
- Desculpa. Não sabia... Então sua consulta está marcada para hoje às duas da tarde. Tá certo seu Jesus Cristo?
- Muito obrigado. Estarei aí no horário marcado. Muito obrigado e fique com o meu pai... Jesus Cristo da Silva nunca resistia a esta brincadeira final.
Dez para as duas ele chega no consultório da Dra. Sofia Meleres. E a primeira pessoa que vê é uma mulher vestida com uma roupa toda branca. Parecia uma mãe de santo. Aliás, uma linda mãe de santo.
- Por gentileza, tenho hora marcada com a Dra. Sofia às duas horas.
- Sim. O senhor é...
- Jesus Cristo da Silva.
- Lembro. Aquele que diz "fique com o meu pai". Seu Jesus aguarde que logo a Dra. lhe chamará.
Então Jesus Cristo da Silva senta no confortável sofá e pega a primeira revista que encontra. Para variar era uma destas revistas que ficam em todos os consultórios. E começa a folhear a tal revista. Para sua surpresa encontra a seguinte manchete: Arizinho da Escola de Samba Verde, Roxo e Lilás abre as portas da sua morada. O matador começa a se arrepender de estar em meio a esta crise de consciência, seria tão bom ter matado aquele bicheiro... Teria evitado até uma reportagem com aquela que estava lendo. Aliás se tivesse matado o tal Arizinho não estaria neste consultório. No mesmo instante a recepcionista lhe chama:
- Seu Jesus o senhor já pode entrar, a Dra. Sofia lhe espera...
- Muito obrigado. E caminha em direção a porta que se abre. Uma senhora de meia idade lhe aguarda com um sorriso.
- Seu Jesus Cristo. Ouvi falar muito do senhor, sem falar naquele livrão que fala do senhor e dos seus discípulos. E dá um sorriso completando.
- Desculpe. Não pude resistir.
- Não se preocupe Dra. já estou acostumado.
- O senhor já pode deitar no divã.
Ele retira da cintura sua arma. Sempre andava armado, mesmo em meio a esta crise de consciência. era força do hábito. Coloca na mesa, junto do celular e da carteira. A Dra. vê a arma e os outros objetos. Fica pensando no porquê daquela arma. Seria Jesus Cristo um policial? Começa a anotar algumas coisas. Uma delas "mandar reformar a cortina do consultório, mas parecia um trapo velho" e "perguntar sobre aquela arma".
- Então seu Jesus Cristo o que lhe traz aqui? Acho que podemos começar por esta pergunta simples.
- Dra. Sofia. É muito difícil começar a falar sobre isso. Mas não consigo mais usar meu trabuco. Ando falhando nas últimas vezes. Me concentro, mas nada dá certo e isso me incomoda.
- Entendo. Mas o senhor não é mais nenhuma criança. E às vezes nosso subconsciente nos dá recados, temos que saber interpretá-lo. Talvez seja a hora de diminuir as atividades.
- Mas esta é minha profissão.
- O senhor usa o trabuco como profissão. Nesta idade ainda consegue. É a primeira vez que vejo um senhor de idade ainda na profissão mais antiga da mundo.
Jesus Cristo não entendeu muito este comentário da Dra. Sofia. Não sabia que a profissão de matador era tão antiga assim.
- Dra. Estou tentando nas última quatro vezes e simplesmente não consigo. O que faço?
- Caro Jesus Cristo talvez o seu caso não seja a minha especialidade.
- Bem que eu disse para o meu colega...
- Mas de toda a sorte, o senhor já tomou algum remedinho? É tiro e queda. Ou melhor é tiro e levanta... Nem posso receitar. Aliás, hoje em dia pode ser comprado sem receita. Meu marido usa sempre...
- Usa?
- Claro. Ele é operador de Bolsa. E está sempre nervoso. Então, sempre usamos. Lingerie não estava mais dando resultados...
- Dra. Acho que a senhora entendeu mal o meu problema...
- Não. Entendi perfeitamente. O senhor não está mais dando no couro e usou uma linguagem figurada quando disse que não estava mais conseguindo usar o seu trabuco. Por hoje vamos ficando por aqui e na próxima consulta continuamos deste ponto.
A Dra. levanta-se e começa a caminhar em direção à porta. Jesus Cristo não entende mais nada, a Dra. entendeu tudo errado. Ela achava que ele era brocha... Mas na verdade era tão somente um incapaz de matar e quando falava matar era no sentido literal. Ele levanta, coloca a arma na cintura, pega a carteira e o celular. A Dra. ao ver novamente a arma, lembra da pergunta.
- Desculpe Jesus Cristo, mas o seu nome não combina com esta arma. Qual a sua profissão mesmo?
- Sou matador de aluguel. E eu chamo minha arma de trabuco. Agora a senhora entende o meu problema. Não sou brocha, apenas não consigo mais matar ninguém. E como continuarei nesta profissão sem conseguir usar meu trabuco?
Os dois começam a rir. Ele pensa que aquela médica era muito louca. Ela de sua parte tem certeza que era tempo de umas férias, afinal, errara o décimo diagnóstico seguido...
- Mas Dra. o que faço se não consigo matar.
- Jesus! Acho que temos que começar de novo nossa consulta, mas depois das minhas férias. Eu pensava que tu era garoto de programa, ou melhor, senhor de meia-idade de progama...
Trilha sonora:
Invincible - Muse - Black Holes And Revelations
Sorry Seems to Be the Hardest Word (with Blue) - Elton John -Greatest Hits 1970-2002 (Disc 2)
Intro (Live) - Muse - Haarp (Live At Wembley)
A Horse With No Name - America - A Horse With No Name and Other Hits
Be My Girl - Sally - The Police - Message in a Box
Tropic Bird - Focus - Mother Focus
H&H - Pat Metheny, Dave Holland & Roy Haynes - Question and Answer
Pescador De Ilusões - O Rappa - Rappa Mundi
Heart - Magic Man - Clássicos - Rock 500
Moody Blues - Ride My See-Saw - Clássicos - Rock 500
The Who - The Kids Are Alright - Clássicos Rock 500
Old Man - Stray Gators, Neil Young - Rock 70´s
Satisfaction - The Rolling Stones - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Stairway to Heaven - Led Zeppelin - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Ooo, Baby Baby - Smokey Robinson - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
My Sweet Lord - George Harrison - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
12 segundos de oscuridad - Vitor Ramil + Marcos Suzano - Satolep Sambatown
Espaço - Vitor Ramil - Tambong
Ammonia Avenue - The Alan Parsons Project - The Ultimate Collection (Disc 2)
Vera - Pink Floyd - The Wall - Disc II
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