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Um Presídio de todos nós

Lauro Alves (Agência RBS)
     Hoje vi um vídeo feito no Presídio Central de Porto Alegre, Por dentro do Presídio Central. Na hora me lembrei do Expresso da Meia-Noite, filme de 1978 do diretor Alan Parker. O filme se passa numa prisão da Turquia, onde as condições de vida eram as mais degradantes possíveis. Sempre quando ouvia falar das condições das prisões brasileiras eu pensava cá com meus botões "é, mas nada se compara com a prisão retratada pelo Alan Parker. Aquilo sim era o inferno."
     Mas vi que o inferno está mais próximo do que podia imaginar. Para minha surpresa o inferno em forma de prisão não está escondido num país distante, está no nosso quintal, está sob os nossos olhos. É fruto da nossa indiferença. Isso mesmo, somos responsáveis por aquelas condições sub-humanas. Alguns dirão que os presos que lá estão merecem coisa muito pior. Este é o pensamento médio, muitos, no seu mais recôndito pensamento fazem coro à ideia de que preso deve sofrer e que não lhes devem ser dadas as mínimas condições de vida e se possível que morram na prisão.
     Não posso concordar com tão baixo pensamento. Não posso concordar que a sociedade dita moderna ainda produza sentimentos tão revanchistas e desprovidos de humanidade. Não podemos nos igualar ao bandido, somos produto da milhares de anos de evolução, deixamos na história a Lei de Talião. Pelo menos assim me parece. A sociedade não pode reproduzir a violência. Pelo contrário, deve combatê-la. A punição do infrator não outorga ao Estado o direito de matá-lo ou pior, mantê-lo numa espécie de calabouço.
     Se optamos por viver em sociedade, com alguns padrões de comportamento, isso requer que tratemos, por exemplo, os presidiários com humanidade. Devemos dar-lhes a oportunidade de recuperação, e se não se recuperarem que cumpram a pena que foi decidida pelo Poder Judiciário. Só isso. Mas não é o que vemos. Nossas prisões são a porta de entrada para o inferno. E quando estes presos saem da prisão - e devem sair, porque não há prisão perpétua no Brasil - estão prontos para se vingar da sociedade, pois passaram alguns anos sendo tratados da forma mais abjeta. Portanto, se o motivo da humanização do tratamento dado aos presos não convencer a sociedade, então, que se reflita que ao sair da prisão o ex-presidiário apenas reproduzirá o tratamento recebido. Se forem tratados como lixo irão buscar vingança... se forem tratados com humanidade, respeito, talvez não busquem vingar-se de todos nós, os ditos cidadãos de bem. Eu de minha parte, seja por formação familiar ou por formação intelectual tenho certeza que não existe outra forma de tratar os presos se não for com respeito à dignidade da pessoa humana. Mas se você não concorda, pense no amanhã e tenha a certeza que poderá encontrar um ex-presidiário pela frente e talvez ele não lhe veja com bons olhos.

Trilha sonora:
Hoje escrevi sem música, não havia clima para ouvir música depois de ver o que vi...

Comentários

  1. Concordo com teu ponto de vista. E acho que pode ser ainda pior.
    Talvez estas pessoas que estão presas tinham a vida aqui fora cercada de uma pobreza e falta de perspectivas que lembram a prisão, e sabem que quando sairem isto é o que as esperam.
    No filme citado um americano é preso em um país de terceiro mundo, sua perspectiva de vida era bem diferente dos seus companheiros de cela, a visão dele da cadeia é a mesma que a nossa vendo o Presídio Central.
    Não quero dizer aqui que só porque uma grande parte que está lá já veio da miséria, devem permanecer, e ainda piorá-la. Mas além de uma condição digna de vida dentro da cadeia, temos que melhorar aqui fora também, pois é daqui que eles partem.
    Mas são casos e casos dentro de uma prisão, não é só porque vive na miséria que vai virar bandido, vai da característica individual de cada um.
    PS: Gostei da sua trilha sonora.

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