Pular para o conteúdo principal

SarnaColl II e os Jaguaras no Bandalheiraquistão

     Estes dias um leitor identificado como Alexandre K (será que é parente de Josef K?) escreveu o seguinte comentário no post, Mais um escândalo no Bandalheiraquistão:
O Bandalheiraquistão é uma Republica, ou uma monarquia? Pois gostaria de candidatar-me ao cargo de vereador, já que nada sei, mas tenho imensa vontade de ganhar dinheiro e que pelo visto, são as condições primordiais para o cargo. Informo que não sou cantor, nem jogador de futebol, mas acho que sei contar piadas.
     Sempre me surpreendo com os leitores deste escondido blog. Uma pergunta pertinente. Sinceramente não sei responder, pois o Badalheiraquistão é ainda um país desconhecido. Apesar da sua grande evolução na última década. Diante desta minha confessada ignorância, enviei o comentário do desconhecido leitor ao nosso correspondente lá no distante Bandalheira. Somente hoje recebi a resposta deste prestigiado correspondente. Demorou um pouco, talvez seja pelo clima político vivido lá. Mais uma vez os Bandalheirenses estão testemunhando um caso estrondoso de corrupção. Entretanto, esta é outra história... Segue abaixo o que escreveu o correspondente internacional do LedVenture no querido Bandalheira.


Por Iroslav  Iranilum


     Nada me deixa mais feliz do que escrever sobre o Bandalheiraquistão. Ainda mais agora que sou um correspondente internacional. Mas deixando de lado este meu sentimento, hoje escreverei sobre a forma de governo no Bandalheiraquistão, ou como nós nativos o chamamos, nosso querido Bandalheira.
     Na nossa origem éramos uma monarquia. Já naquela época nossa monarquia era sui generis, para ser condescendente. O último Rei foi o SarnaColl II. Vivia nababescamente no seu palácio conhecido como Casa do Dindo. Tinha até intenções literárias, escreveu alguns livros o mais conhecido foi o Vespídeos de Fogo. Apesar desta veia literária quando se tratava do bem público tudo mudava para SarnaColl II. Ele aplicava o recurso arrecadado através de impostos escorchantes para sustentar a "realeza". Todos sabiam que a dita realeza só era realeza no nome. Na verdade era um bando de sanguessugas que só sabiam viver dos impostos arrecadados do povo. Aliás, os impostos só eram arrecadados dos mais pobres, pois segundo o entendimento da época, os ricos não poderiam contribuir, porquanto faziam parte de uma classe superior e por isso mesmo não era abrangida pela fúria arrecadadora do Rei  SarnaColl II. Um escritor que era reverenciado pela "realeza" Bandalheirense era Charles Downer Hanzen. O livro The French Revolution era uma espécie de bíblia.  Reproduzo um trecho deste livro que era repetido como uma espécie de mantra pelos integrantes da "realeza":
"a primeira regra da justiça é preserva a alguém o que lhe pertence: essa regra consiste não apenas na preservação dos direitos da pessoa, oriundos de prerrogativas de nascimento e posição... Dessa regra de lei e eqüidade segue-se que, sob a aparência de humanitário e beneficente, tenda a estabelecer igualdade de deveres e destruir as distinções necessárias, levará dentro em pouco à desordem (resultado inevitável da igualdade) e provocará a derrubada da sociedade civil. A monarquia francesa, pela sua constituição, é formada de vários Estados distintos. O serviço pessoal do clero é atender às funções relacionados com a instrução e o culto. Os Nobres consagram seu sangue à defesa do Estado e ajudam o soberano com seus conselhos. A classe mais baixa da nação, que não pode prestar ao rei serviços tão destacados, contribui com seus tributos, sua indústria e seu serviço corporal. Abolir essa distinções é derrubar toda a constituição francesa." 
     Este parágrafo do The French Revolution era repetido a exaustão e explicava o porquê da classe mais desfavorecida pagar tanto imposto e porque quem estava no topo da pirâmide social não pagar nada.
     Mas os integrantes da classe de baixa revoltaram-se e nos moldes da Revolução Francesa fizeram a sua revolução. Este basta ficou conhecido com a Revolta dos Jaguaras. Jaguara era a denominação jocosa dos integrantes da classe operária. Daí o nome Revolta do Jaguaras. A revolta foi pacífica, pois o rei  SarnaColl II  logo percebeu que era chegado o momento da "mudança" ou como eles diziam "mudar para não mudar". Fez um acordo com a Jaguarada, concedeu algumas regalias para alguns representantes dos jaguaras, criou alguns cargos, distribuiu algumas concessões entre os mais exaltados e estatui a República do Bandalheiraquistão. Aos integrantes da Realeza distribui os mais variados benefícios, tais como concessões de cartórios, Bancos, Rádios (ainda incipiente, mas com grande perspectiva de crescimento) e Jornais, enfim, tudo que poderia gerar algum lucro ficou nas mãos dos integrantes daquela carcomida realeza.
     Não houve uma só gota de sangue derramado. Foi uma transição, segundo as palavras do Ex-rei  SarnaColl II , "lenta, gradual e profunda". Mas a história nos mostra que não foi tão lenta assim, porque foi pressionda pela jaguarada. Não foi gradual, porquanto não teve nada de progressivo. Por fim não possuiu profundidade alguma, pois nem as moscas foram trocadas. A conseqüência da Revolução dos Jaguaras foi a troca pura e simples do Sistema de Governo, deixou-se para trás a Monarquia para ser criada a República. O mais incrível que o Rei passou a ser Presidente e para surpresa de todos foi escolhido pela Jaguarada.
    Muitos anos se passaram desde a Revolução dos Jaguaras. O Bandalheira viveu algumas ditaduras, viveu-se também algumas crises econômicas. Tudo superado pelos Jaguaras, que orgulhosamente se dizem um povo pacífico. Claro que os governantes adoram que seu povo seja tão pacífico e até estimulam que assim continuem. Sempre estão a financiar todas as festas nacionais, estimulam que os programas da televisão do Bandalheiraquistão sejam cada vez mais sem conteúdo. Todos os finais de semana a televisão transmite todo o tipo de esporte, afinal, a jaguarada tem que ter a sua válvula de escape. Os governantes do Bandalheiraquistão estão satisfeitos com a população, pois a cada escândalo ou caso de corrupção noticiada, a Jaguarada corre para a frente da televisão para ver o seu time ser campeão.
     No final deste relato tenho que responder ao caro leitor Alexandre K, leitor do LedVenture. Caso ele queira se candidatar a algum cargo aqui no Bandalheira acho que já tem todos os predicativos. O principal deles é querer ganhar dinheiro. Ainda bem que não sabe cantar ou tem habilidade com os pés, pois o parlamento Bandalheirense está lotado de representantes destas categorias. Mas quanto aos contadores de piadas, só há um representante, mas na platéia há muitos bobos. Então, caro Alexandre K, transfira seu título para cá e candidate-se.

Trilha sonora:
Mina do Condomínio - Seu Jorge - Ao Vivo
Aqualung - Jethro Tull - Aqualung
Walk To The Water - U2 - The B-Sides 1980-1990
Dolphin Dreams - Lee Ritenour - The Best Of Lee Ritenour
The Double Planet- Michael Hedges - The Best Of Michael Hedges
Carmina Burana - Uf Dem Anger, Swaz Hie Gat Umbe - Zubin Mehta - London Philharmonic Orchestra - Carmina Burana
Sweet Girl - Fleetwood Mac - The Dance
Summer Wind - Frank Sinatra - Duets
High Falootin' Woman - Grand Funk Railroad - Grand Funk
Mary Jane's Last Dance - Tom Petty & The Heartbreakers - Greatest Hits
Save Me - Queen - Greatest Hits I
Rover - Jethro Tull - Heavy Horses
My God - Ian Anderson - Ian Anderson Plays The Orchestral Jethro Tull
The Dog-Ear Years - Jethro Tull - J-Tull Dot Com
We Five Kings - Jethro Tull - The Jethro Tull Christmas Album
Sittin' 'Round - Joe Satriani - Joe Satriani
Gimme Shelter - The Rolling Stones - Live Licks

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ocaso!

    Faz muito tempo que não entro aqui para escrever. Aliás, faz muito tempo que não acesso o blog. Ele está em um processo de hibernação. Quase uma vida mantida por aparelhos.     O motivo? Talvez o ocaso do LedVenture esteja próximo. Gosto da palavra ocaso. Penso em um caso qualquer, uma história qualquer que será contada. É o tipo de palavra que o som te carrega a muitos lugares e situações. Mas voltado desta pequena digressão, o LedVenture sempre foi um personagem vivido por este blogueiro neófito. Um personagem que por breves momentos adquiriu vida própria. Um personagem que ultrapassou os limites da ficção e viveu algumas experiências muito interessantes. Outras nem tanto.      Cruzam ambulâncias aqui perto, correndo não sei para onde, talvez para acudir este blogueiro, talvez não... As ambulâncias passarem e a vida volta ao normal por aqui, não me acudiram. Parece que não foram chamadas para me atender.  Na verdade não prec...

A casa não vai cair...

     Um amigo, aliás, um ótimo amigo escreveu algo que me fez pensar: "... enquanto nos perdemos nos detalhes, contando, classificando... a vida passa e a casa vai caindo, pouco a pouco."      Este amigo em poucas palavras me mostrou o que somos, ou melhor, no que nos transformamos.      Parece que deixamos de lado o quadro para prestarmos atenção na moldura, sabemos tudo sobre este detalhe, o ano da fabricação da madeira, o tipo e forma do corte, esquecemos de olhar o quadro em si. Fechamos os olhos para a pintura...      No início o não entendi, pois o simples nos é tão difícil de entender, sempre estamos  querendo transformar esta simplicidade em algo complexo. Mas esta simplicidade quando nos é revelada nos abre olhos, enxergamos além da moldura, passamos a ver o conteúdo do quadro; nos surpreendemos com o que surge aos nossos incrédulos olhos.      Parece que somos criados para somente fazermos part...

Modernidade, botas e amor...

     Este mundo da modernidade é muito frugaz, tudo muda de uma hora para outra. O que hoje é a maior representação da tecnologia, amanhã é totalmente obsoleto. Hoje vivemos o tempo da mudança constante, até mesmo para que haja movimentação econômica, consumo e mais consumo.      O ser humano viveu milhares de anos evoluindo gradativamente, se adaptando ao meio para sobreviver as vicissitudes da vida. Hoje em dia nós seres humanos alteramos o que nos cerca para que este se molde as nossas necessidades. Construímos enormes hidrelétricas alagando milhares de hectares. Para quê? Para  produzir mais energia e satisfazer nossas pequenas necessidades. Criamos cidades dentro de mares para que? Para simplesmente ostentarmos, ou seja, para mostrarmos para os mais desvalidos que existe uma classe social que pode tudo. Erguemos centrais atômicas na zona mais perigosa do mundo e ficamos surpresos quando acontece uma catástrofe anunciada.      Qu...