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O negócio e o ser humano, o que ou quem vale mais?

     Neste final de semana testemunhei mais uma prova de que o negócio está acima do ser humano. Não é de hoje que percebo este fato, mas no domingo passado ficou escancarado a todos.
     Jogavam dois times de expressão no cenário futebolístico brasileiro, Flamengo e Vasco da Gama. O técnico do Vasco começou a passar mal, as imagens eram preocupantes, a todo instante a televisão o filmavam e a cada novo take a aparência do técnico Ricardo Gomes era mais assustadora e preocupante. Quando não havia mais condições dele continuar no estádio a ambulância entrou para levá-lo ao hospital.
     Neste instante o espetáculo de horrores começou. O jogo de futebol continuou como se nada estivesse acontecendo. O ser humano que estava passando pelo seu momento mais difícil era desprezado pelo show de bola transmitido para todo Brasil. As quatro linhas separavam duas visões de mundo. Uma onde o dinheiro está acima de tudo, onde os valores do ser humano são colocados de lado para darmos vazão ao negócio, seja ele qual for. Do outro lado estava UM SER HUMANO no seu momento mais difícil, um ser humano diante do limiar de sua vida e, mesmo assim, o show não pôde parar.
     Aquele desprezo ao ser humano calou fundo dentro de mim. Não sou ingênuo para pensar que o negócio futebol seja um lugar onde não se vise o lucro, afinal, como diz o Comandante Castro " O homem é o homem é não podemos idealizá-lo". Mas foi demais, pelo menos para mim foi um ato pusilânime. Não tenho dúvidas que o árbitro deveria parar a partida, reunir os jogadores no meio de campo, chamar alguém para explicar o que estava acontecendo, esperarem o técnico ser retirado do estádio e decidirem se o jogo continuaria ou não. Se o árbitro não teve coragem para interromper o jogo, pois ele conhece as regras do negócio, jogo marcado é jogo jogado, a rede que detêm os direitos de transmissão deveria ordenar que o jogo fosse interrompido, por respeito ao ser humano Ricardo Gomes e em respeito a todos nós telespectadores e após prosseguissem o jogo, se fosse o caso.
     Mas esperar atitudes humanas de quem só pensa no lucro ou na audiência é ser ingênuo. Ou quem sabe seria ainda uma prova de que tenho esperança no ser humano. Mas cada vez mais sou convencido de que não temos mais solução. Estamos nos afastando dos verdadeiros valores humanos e isso não é de agora. Este caminho de troca de valores é uma estrada longa, mas parece que estamos chegando no limite do aceitável, a partir de agora a barbárie está batendo à nossa porta. Infelizmente.

Trilha Sonora
Get Back - The Beatles - Past Masters, Vol. 2
Falling At Your Feet - Bono and Daniel Lanois - The Million Dollar Hotel
Clocks [Live in Holland] - Coldplay - Singles
Blackout - Muse - Absolution
Minha Virgem - Vitor Ramil - A Beça
Rolling Stones - Wild Horses -  Rock 70´s


Comentários

  1. Se o jogo tivesse sido interrompido o estado de saúde do glorioso Ricardo Gomes estaria melhor agora? Tendo em vista que nenhum jogador ou árbitro é formado em medicina, acredito que não. A vida continua... Continuar a vida sem se curvar e choramingar não é sinal de falta de amor ou desinteresse. Continuar a vida é prova de força e uma das grandezas do ser humano. Ver as desgraças noticiadas nos jornais nos cega para o lado bom da vida. Quando eu sofrer um AVC quero que a vida dos outros continue. Quem me ama estará sempre comigo.

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  2. A questão, ao meu ver, é o respeito ao ser humano. Claro que os jogadores ou o árbitro não poderiam fazer nada. Mas mostrariam à sociedade que o valor maior é o da vida e não o do negócio. Caro Anônimo, a vida continua, mas a vida que todos nós queremos e não aquela onde o desrespeito impera. Por incrível que pareça concordei com o blogueiro desconhecido.

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