Pular para o conteúdo principal

Geração Pós...

     Somos a geração do pós. Pós-modernidade, pós-mudanças, pós-catástrofes sociais, pós-reformas, enfim, tudo que vivenciamos até aqui é passado. Estamos riscando do mapa todas as experiências, sejam elas bem ou mal sucedidas para formar uma nova visão de sociedade. Trocamos tudo pelo neo. Claro que estas mudanças são na sua maioria retrocessos. Algum desavisado poderia ponderar que muita coisa está mudando para melhor. Então vou enumerar alguns exemplos, não é uma enumeração exaustiva, mas somente exemplificativa para termos uma ideia do que me refiro.
    Entre os anos de 1980 e 1990 formulamos uma das tantas reformas educacionais no Brasil. Como consequência nossa formação básica é um desastre. Encontramos alunos na oitava série que não sabem interpretar um texto. Eu não consigo imaginar um aluno que chegue à oitava série sem conseguir entender o que leu. Mas o pior é que existem alunos nesta condição e não é um ou dois, são muitos exemplos. Em todos os níveis de formação estes desastres educacionais se repetem. Há faculdades que formam alunos sem as mínimas condições de exercerem as profissões para as quais se prepararam por anos a fio.Frise-se que não é culpa do aluno. Não identifico os responsáveis por esta situação, mas me parece que o sistema é concebido para não dar certo.
     Poderíamos imaginar que o problema estivesse restrito ao sistema de ensino, o que já seria uma calamidade, mas o problema é bem maior. Com a constituição de 1988 a nossa sociedade optou por um sistema de saúde universalizado, ou seja, com acesso a indiscriminado a todos os membros desta coletividade chamada Brasil. Ao meu ver é uma decisão justa e humana. Mas para variar não nos preparamos para ter um sistema de saúde pleno, eficaz e disponível para todos. Chegamos a criar um imposto para financiar o sistema de saúde, mas para variar foi desviado para outros fins, entretanto, esta é uma outra história, triste história... Encontramos atualmente hospitais sucateados, servidores desmotivados, médicos com vários empregos e com extenuante jornada de trabalho, enfim, testemunhamos diariamente o caos instalado na saúde pública. Por outro lado a medicina preventiva ou de família é um sonho inatingível. Algumas doenças erradicadas estão de volta por pura falta de prevenção por parte do Poder Público.
     Vamos adiante. Outro exemplo sem relação direta com a saúde, mas que indiretamente se reflete no sistema de saúde. A implantação dos pedágios demonstra nossa ânsia por mudanças. Quando nos venderam a ideia do pedágio, este era a nova panacéia para os problemas das estradas brasileiras. Prometeram que andaríamos em estradas conservadas a um preço justo. Mas o que vemos agora, passados alguns anos, são estradas não duplicadas, mal conservadas e com um preço de pedágio escorchante. Poderia citar um cem número de estradas nestas condições, mas não é o caso, todos que andam pelo Rio Grande e pelo Brasil são testemunhas do que estou escrevendo. Arriscamos a vida de nossas famílias ao trafegar por estradas pessimamente conservadas. Não me importo em pagar pedágio, mas gostaria de andar em estradas com condições e pagar um preço justo, somente isso nada mais do que isso. Mas é pedir demais, tenho consciência.
     Poderia citar uma lista infindável de exemplos de mudanças simplesmente pelas mudanças. Não é esta a intenção. Gostaria de entender o porquê. Por que queremos mudar as coisas mesmo quando estão funcionando corretamente? Por que esta volúpia por mudanças? Por que quando alteramos alguma coisa desprezamos tudo que aprendemos no passado? Por que não refletimos sobre o que mudar e, principalmente, como mudar? São perguntas que não encontro respostas. Tenho impressão que estas mudanças constantes tem algum porquê.
    Talvez sirvam àqueles que continuam no poder por gerações e não querem que a vida mude efetivamente. Por uma lado mantém todos calmos, afinal, tudo em volta está  em constante "mudança". Mas se pensarmos um pouco veremos que estas mudanças ocorrem justamente para não haver nenhuma alteração nas posições sociais vigentes. É o conhecido mudar para não mudar. É uma suposição, mas parece ter fundamento. Ao olharmos a vida política brasileira nos deparamos com as mesmas famílias, basta conferirmos os sobrenomes de alguns políticos, são os Filhos, os Juniores ou os Netos.
     Não vislumbro outra alternativa senão varrer do cenário brasileiros estes profissionais da política, pessoas que se jactam por estarem a quarenta ou cinquenta anos com algum cargo político, seja eleito pelo voto popular ou então alguma nomeação no tempo dos militares. Já que o Brasil gosta de mudanças, porque não estabelecer um limite para a reeleição de Vereadores, Deputados Estaduais, Federais ou Senadores. Duas eleições e teria que ficar oito anos sem qualquer tipo de cargo eletivo. Simples assim. Iríamos oxigenar a vida política brasileira, afinal, político não é profissão. Vamos experimentar, se não der certo, o que duvido muito, podemos retornar para o sistema atual que permite que políticos sejam profissionais. Não creio que um dia este tipo de proposição se torne uma realidade, mas ainda sim penso que seria a solução para muito coisa que nos cerca. É somente uma ideia neste lodaçal que se tornou a política brasileira, o que diga-se de passagem é pena, pois as soluções para nossos problemas perpassam necessariamente por políticos sérios e honestos.

Trilha sonora:
For Michael Collins, Jeffrey And Me - Jethro Tull - Benefit
Black Dog - Led Zeppelin  - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Shop Around - Smokey Robinson & The Miracles - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Ring Out Solstice Bells - Jethro Tull  - The Jethro Tull Christmas Album
Viajei - Vitor Ramil + Marcos Suzano - Satolep Sambatown
Up On the Roof - The Drifters - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
ACDC - Ride On - Rock 70´s
Frozen Love - Buckingham Nicks - Rock 70´s
Oxygenia & Icarus - Andreas Vollenweider - Air
Angels Too Tied To The Ground - U2 - War (2008 Bonus CD)
Unchained Melody - U2 - The B-Sides 1980-1990
Question and Answer - Pat Metheny, Dave Holland & Roy Haynes Question and Answer
O Vira - Secos & Molhados - Coletânea
Tom Tom's - Dream The MDH Band - The Million Dollar Hotel
Rudy - Supertramp - Orpheum Theatre, 1976-03-05 Boston, MA
Apocalypse Please - Muse - Absolution
I Threw A Brick Through A Window (Live) - U2 - October (2008 Bonus)
Never Too Far Away - Pat Metheny, Dave Holland & Roy Haynes - Question and Answer
Moment of Surrrender - U2 - Show Estádio Morumbi São Paulo 10/04/2011
Dancing Barefoot - The Patti Smith Group - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time

Comentários

  1. Exoman diz:

    Quando alguém propunha a extinção da classe política eu achava um exagero. Até por falta de argumento sobre como seria nossa representatividade democrática sem eles, até saber disso:

    http://www.wix.com/partidodigital/online

    Trilha sonora: No próprio sáite.

    ResponderExcluir
  2. nao tive tempo pra ler os posts, mas aqui, no meu destino final, cumpro minha missao internacional.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Interaja com Ledventure...

Postagens mais visitadas deste blog

Somos 99%

     Somos uma parcela significativa de qualquer sociedade. Somos os 99%. Apesar de sermos a imensa maioria, ainda assim somos excluídos de quase tudo. Somos chamados somente quando os detentores das riquezas, os outros 1%, precisam de nossos sacrifícios.      Como é possível que uma sociedade, com alicerces tão frágeis, fique de pé por tanto tempo? Não tenho a resposta. Entretanto, sinto que algo está mudando e muito rapidamente. Esta sociedade injusta já não está mais tão firme e começa a ser questionada. Nos últimos meses estamos acompanhando vários movimentos sociais espraidos pelo mundo. É a voz dos 99% se fazendo ouvir. Estamos cansados de sacrifícios intermináveis. E sempre dos mesmos para os mesmos. Nunca são chamados os detentores da riqueza. Um porcento da população nunca se sacrifica, mas quando aparece alguma dificuldade, criada pela ganância deles, colocam de lado suas convicções e imploram ajuda dos governos. Estes governos que sempre foram chamados de ineficientes ou

Vivendo ao largo da vida...

     - Eu vivo ao largo da vida.      - Como assim?      - Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.      - Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.      - Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.      - Otávio, às vezes acho que tu é louco.      - Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.      - É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.      - Mas eu gosto de falá-las.      - Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.      - Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...      - Para o que...      - Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.      - Tu e esta mania de me chamar de i

DSK, o homem "respeitável"

     Imaginem um homem poderoso. Um homem influente. Um homem "respeitável". Este homem entra num avião, se dirige à primeira classe, lugar onde sempre se acomoda quando viaja de avião. Afinal, é o todo poderoso, não existe outro lugar para este homem a não ser a primeira classe de uma aeronave. Pelo menos até então.      Mas antes de se deslocar até este avião, o "respeitável" senhor abusou de uma camareira do hotel de luxo onde estava hospedado. Muitos ao imaginar esta situação têm a certeza de que nada iria acontecer a este senhor poderoso, temos certeza de que ele iria para o seu destino e aquela camareira conviveria com esta chaga, ser abusada por um homem poderoso e nada poder fazer porquanto ninguém acreditaria nela. Mas não foi o que aconteceu nestes últimos dias nos Estados Unidos.      Muitos de nós criticamos os Estados Unidos. Na adolescência tínhamos como objeto da nossa ira este país imperialista. Afinal, éramos e ainda somos a parte do mundo explorada