Um amiga que lê seguidamente este blog, vendo que publico contribuições de leitores, resolveu escrever. Me impressiono como esta necessidade de escrever é uma realidade. Lembro que no outro século os arautos do fim do mundo diziam que a internet iria acabar com a palavra escrita. Que bobagem, nunca se escreveu tanto. Esta amiga do distante estado do Amazonas resolveu superar as barreiras da distância e das inseguranças e sentou em frente ao computador e escreveu o seguinte texto. Obrigado Jaciema Naara e quando quiser mande novos textos.
Por Jaciema Naara
Engraçado como uma descendente de índios e no meio da selva amazônica tem necessidades parecidas com alguém que mora num grande centro ou qualquer outra cidade pequena, grande ou um vilarejo no mais afastado rincão. Todos querem ser felizes e ponto final. Ser feliz é tão difícil, talvez seja uma tarefa a ser dividida. Quem sabe aí esteja a razão porque necessitamos de alguém para amar e que nos ame. Dividimos a tarefa grandiosa que é a busca da toriba*.
Dividir não significa deixar com o outro a responsabilidade pela nossa felicidade. Quando delegamos a busca da felicidade nos afastamos mais da tão sonhada toriba*. E mais, quem está nos acompanhando nesta estrada também se distancia do seu objetivo. Duas pessoas que buscavam somente serem felizes aprendem duramente que a felicidade depende de cada um e não pode ser objeto de delegação.
Parece simples e é. Mas ao mesmo tempo como explicarmos que tantas pessoas cometem o mesmo erro por gerações e gerações. Como explicar casais que se afastam da felicidade simplesmente porque vivem a vida do outro. Eu aqui neste isolamento que é a amazônia percebo claramente quando deixei de ser feliz. Exatamente quando disse "a tua felicidade é a minha felicidade". Somos felizes com a felicidade do outro, mas não quando estes momentos se transformam no sentido de uma vida. Temos que viver nossas vidas, compartilharmos nossos momentos de felicidade, ajudar o parceiro ou parceira a buscar sua felicidade, mas jamais delegarmos nossas felicidade a quem quer que seja. Nem mesmo ao grande amor de nossas vidas.
Lendo o ledventure.blogspot.com pensei muito sobre o amor. O blogueiro desconhecido gosta de escrever sobre este sentimento. Até pode ser engraçado uma índia escrever sobre o amor, mas este sentimento pertence a todos. Eu já perdi muitos amores nesta vida e sempre me doeu a perda. Parecia que nunca mais iria amar novamente, mas de uma hora para outra lá estava um outro grande amor em minha vida. Hoje percebo que foi um aprendizado. Da mesma forma que caminhar na mata requer conhecimento. Seja das trilhas pelas quais iremos caminhar, seja pelas plantas que nos cercam, algumas venenosas outras saborosas. Mas somente com o tempo aprendemos por onde e como ir, o que comer e o que beber. Da mesma forma é o amor. Erramos muito, aprendemos sempre. Para algum dia do nada descobrimos que estamos amando, sendo amados e que parece ser para sempre. Hoje tomei a liberdade de escrever este texto porque senti que amo de verdade e que quero compartilhar este amor com todos. Como estou cercado por vida selvagem decidi que iria escrever para o blog ledventure. Não sabia se deveria escrever para quem não conheço, mas o meu mestre de vida me disse para que eu arriscasse escrever, mas que não usasse caneta ou o computador e sim o amor que estivesse sentindo. Foi o que fiz.
Abraços cheio de amor de Jaciema Naara.
* Toriba - Na língua indígena quer dizer felicidade.
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