Otaviano está estirado no sofá, lendo aquela coluna enfadonha de todos os dias. O telefone toca sem parar. Claro que Otaviano não atende, pois tem a nítida impressão que é o seu editor. Este tocar de telefone o faz lembrar que está atrasado na entrega do seu novo livro em mais de cinco meses. O pior que só escreveu 90 míseras laudas. Mas quando tudo que está ruim, ainda pode piorar. Otaviano suspira e pensa que a história que está escrevendo não tem pé nem cabeça. Se não bastasse tudo isso, ainda tinha mais, já havia recebido um belo adiantamento e gastara todo o dinheiro. O telefone continua tocando. Tantas coisas passam pela sua cabeça. Tem que atender.
- Alô! Quem fala?
- Sou eu, Luiz Carlos. Otaviano fala com ar de apressado para dar a impressão que está no meio do processo criativo
- Otaviano, você deve saber do que se trata. Preciso dos originais do seu livro para enviar à revisão.
Otaviano pensa "revisar o que? Só escrevi porcaria e ainda por cima somente 90 folhas...". Responde automaticamente:
- Está quase pronto. É uma história interessantíssima. Vai preparando uma edição grande e revisa o maquinário, pois haverá muitas outras edições.
- Otaviano, nos últimos meses quando te ligo tu diz mais ou menos a mesma coisa, mas nada de entregar os originais.
- Pô Luiz Carlos, não me pressiona, sou um artista.
- Otaviano, coloca na tua cabeça que isto aqui é um negócio como tantos outros, aqui tempo é dinheiro. Imagina que a Editora é um grande restaurante e temos que entregar a comida para o cliente, caso contrário, ele levanta e vai para outro restaurante. O mesmo acontece com o leitor. O mercado no Brasil é pequeno, se o leitor se não comprar o teu livro ele vai te esquecer e comprará de outro autor do momento. Entendeu?
Otaviano pensa por segundos, este cara é um chato de galocha, sempre falando que a literatura é um negócio. Negócio para ele, para mim é a minha arte... Neste momento lembrou que o Luiz Carlos gostava de ouvir a palavra grana, então, bastaria juntar grana com alguma outra palavra apaziguadora qualquer:
- Estou sabendo... a obra irá render muita grana, falta muito pouco para terminá-la.
- Então vamos fazer o seguinte, me manda o primeiro capítulo pelo menos.
- Não sei não, talvez perca o impacto. Mas vou pensar. Agora deixa eu continuar a escrevendo. Te ligo na semana para combinarmos algo. Estou no meio do processo criativo.
- Combinado. Vou esperar.
Ao desligar o telefone Otaviano não sabia o que fazer. Não tinha uma boa história em mente, muito menos no papel e nenhuma perspectiva de terminar o livro.
Se olhassem Otaviano agora poderiam imaginar que ele era um exemplo de sucesso. Seus dois últimos livros venderam na faixa dos 7 dígitos. Sucessos astronômicos. Mas agora estava no meio de uma fase de pouca inspiração. Para ser honesto era uma fase de nenhuma inspiração. Mas o mercado exige um novo livro a cada dois anos. Sempre uma história de sucesso. Os livros deixaram de ser arte para virar entretenimento e negócio.
O pior que o Otaviano entrou de cabeça neste mercado de entretenimento. Aceitou que interferissem na sua carreira para transformá-lo num autor de sucesso. Criaram um pseudônimo. Imagina ser conhecido como Dan Crown. Ninguém em sã consciência permitiria este pseudônimo e, com certeza, Otaviano não era um sujeito são. O estado de miséria que vivia no início da carreira o obrigaram a aceitar as interferências daquele editor dos infernos.
Otaviano sentia que tinha se vendido para o sistema, deixou-se levar pela moda de escrever histórias eletrizantes. Tudo ideia daquele editor dos infernos. Até os títulos dos livros eram ideias do editor. O primeiro sucesso editorial foi o Colisão Intensa e o outro Signo Monet. Será que ninguém percebia que era puro plágio? Sem mencionar que eram mal plagiadas. Colisão Intensa e Signo Monet foram os dois livros mais vendidos de Otaviano, ou melhor ou seria pior, Dan Crown. Mas não era só isso, foram os mais vendidos por anos a fio, edições atrás de edições. Ele tinha vergonha daqueles livros. Por estas e por outras havia deixado de entender o Brasil.
Mas isso não retirava o problema que enfrentava naquele momento. Havia a obrigação de entregar um novo romance e estavam escritas somente 90 laudas. Mas também com o tema escolhido não tinha como escrever mais. O enredo do romance era mais ou menos assim. Um grande engarrafamento que dura dias e dias (já é sem pé nem cabeça um engarrafamento assim) então começam a ocorrer mortes inexplicáveis. Como iria conseguir escrever mais do que noventa folhas? O título do livro não poderia ser pior: Engarrafamento Mortal. Por isso que não disse nada ao seu editor, na certa seria causa de rompimento unilateral do contrato.
Otaviano se perguntava como terminar uma história de suspense que se passa num engarrafamento? Não tinha a menor ideia. Pegou o carro para dar uma espairecida. Claro leva o note, para caso surja alguma inspiração.
Fica algumas horas andando de carro e nada da inspiração, pensa em tudo menos no tal Engarrafamento Mortal. Mas o inesperado ocorre ao parar num semáforo. Vê um sujeito no espelho retrovisor se aproximando pelo lado do motorista e outro pelo lado do carona, só deu para pensar "a casa caiu". Muito rapidamente um dos sujeitos aponta uma arma e anuncia o assalto. Num piscar Otaviano desce do carro e os dois meliantes levam o carro. Otaviano pensa no seu notebook e lembra que não tem nenhuma cópia do arquivo denominado Engarrafamento Mortal. Dos males o menor. Não teria que continuar a escrever aquela história horrível. E desde então Otaviano não consegue escrever uma linha sequer, seu psicólogo diz que está sofrendo de síndrome do pânico O seu contrato foi rescindido pela editora. É réu em um processo de execução onde a editora cobra o adiantamento pago. Sua ex- esposa cobra pensões atrasadas e o ameaça com prisão. Aliás, parece que já tem até mandado de prisão expedido.
Mas ainda poderia ficar pior, um dos ladrões devia ter uma veia artística e, também, operava milagres, pois alguns meses depois fora publicado o livro Engarrafamento Mortal. A crítica dizia que o autor daquela obra havia bebido da mesma inspiração de Dan Crown. O Engarrafamento mortal desbancou os dois únicos sucessos de Dan Crown, era o mais novo fenômeno editorial brasileiro. Pelo menos agora Otaviano não sentia mais aquela pressão para produzir um novo livro a cada semestre. Estava se dedicando a fugir do oficial de justiça que insistia em lhe apresentar um documento...
Trilha Sonora
Go your own way - Fleetwood Mac - Rock 70´s
Assassin - Muse - Black Holes And Revelations
Love her madly - The Doors - Rock 70´s
Map Of The Problematique - Muse - Black Holes And Revelations (Japanese Release)
Surrender - U2 - War
Shine on You Crazy Diamond (Part One) - Pink Floyd - Wish You Were Here
At Last You're Here - Pat Metheny Trio - Day Trip
Black Burning Heart - Keane - Perfect Symmetry
El Andйn (featuring Mala Rodriguez) - Bajofondo Tango Club - Mardulce
You Got Me Rocking - The Rolling Stones - Voodoo Lounge
Rolling Stones - Brown Sugar - Rock 70´s
Pipeline - The Alan Parsons Project - Ammonia Avenue
Orff: Carmina Burana - Primo Vere: Ecce Gratum - Franz Welser-Möst: London Philharmonic Orchestra
Orff: Carmina Burana - Cour D'Amours: Tempus Est Iocundum - Franz Welser-Möst: London Philharmonic Orchestra
Voices Inside My Head - The Police - Message in a Box
In My Bed (Live At Concorde, Brighton) - Amy Winehouse - Frank
Cat Scratch Fever - Ted Nugent - Rock 70´s
Can't Find My Way Home - Eric Clapton - Crossroads 2: Live In The Seventies
Lo Que Sangra (La Cupula) (Version Remix) - Soda Stereo - Zona De Promesas (Mixes 1984-1993)
Christmas Song [*] - Jethro Tull - This Was
Hall & Oates - Sara Smile - Rock 70´s
Sunday Bloody Sunday - U2 - Show Estádio Morumbi São Paulo 10/04/2011
Two Hearts Beat As One (Long Mix) - U2 - War (2008 Bonus CD)
Kansas - Point Of Know Return - Rock 70´s
Get Down Tonight - KC & The Sunshine Band - Rock 70´sYou Only Live Twice (Live From Norway) - Coldplay - Singles
Oh No! Not You Again - The Rolling Stones - A Bigger Bang
Resistance - Muse - The Resistance
- Alô! Quem fala?
- Sou eu, Luiz Carlos. Otaviano fala com ar de apressado para dar a impressão que está no meio do processo criativo
- Otaviano, você deve saber do que se trata. Preciso dos originais do seu livro para enviar à revisão.
Otaviano pensa "revisar o que? Só escrevi porcaria e ainda por cima somente 90 folhas...". Responde automaticamente:
- Está quase pronto. É uma história interessantíssima. Vai preparando uma edição grande e revisa o maquinário, pois haverá muitas outras edições.
- Otaviano, nos últimos meses quando te ligo tu diz mais ou menos a mesma coisa, mas nada de entregar os originais.
- Pô Luiz Carlos, não me pressiona, sou um artista.
- Otaviano, coloca na tua cabeça que isto aqui é um negócio como tantos outros, aqui tempo é dinheiro. Imagina que a Editora é um grande restaurante e temos que entregar a comida para o cliente, caso contrário, ele levanta e vai para outro restaurante. O mesmo acontece com o leitor. O mercado no Brasil é pequeno, se o leitor se não comprar o teu livro ele vai te esquecer e comprará de outro autor do momento. Entendeu?
Otaviano pensa por segundos, este cara é um chato de galocha, sempre falando que a literatura é um negócio. Negócio para ele, para mim é a minha arte... Neste momento lembrou que o Luiz Carlos gostava de ouvir a palavra grana, então, bastaria juntar grana com alguma outra palavra apaziguadora qualquer:
- Estou sabendo... a obra irá render muita grana, falta muito pouco para terminá-la.
- Então vamos fazer o seguinte, me manda o primeiro capítulo pelo menos.
- Não sei não, talvez perca o impacto. Mas vou pensar. Agora deixa eu continuar a escrevendo. Te ligo na semana para combinarmos algo. Estou no meio do processo criativo.
- Combinado. Vou esperar.
Ao desligar o telefone Otaviano não sabia o que fazer. Não tinha uma boa história em mente, muito menos no papel e nenhuma perspectiva de terminar o livro.
Se olhassem Otaviano agora poderiam imaginar que ele era um exemplo de sucesso. Seus dois últimos livros venderam na faixa dos 7 dígitos. Sucessos astronômicos. Mas agora estava no meio de uma fase de pouca inspiração. Para ser honesto era uma fase de nenhuma inspiração. Mas o mercado exige um novo livro a cada dois anos. Sempre uma história de sucesso. Os livros deixaram de ser arte para virar entretenimento e negócio.
O pior que o Otaviano entrou de cabeça neste mercado de entretenimento. Aceitou que interferissem na sua carreira para transformá-lo num autor de sucesso. Criaram um pseudônimo. Imagina ser conhecido como Dan Crown. Ninguém em sã consciência permitiria este pseudônimo e, com certeza, Otaviano não era um sujeito são. O estado de miséria que vivia no início da carreira o obrigaram a aceitar as interferências daquele editor dos infernos.
Otaviano sentia que tinha se vendido para o sistema, deixou-se levar pela moda de escrever histórias eletrizantes. Tudo ideia daquele editor dos infernos. Até os títulos dos livros eram ideias do editor. O primeiro sucesso editorial foi o Colisão Intensa e o outro Signo Monet. Será que ninguém percebia que era puro plágio? Sem mencionar que eram mal plagiadas. Colisão Intensa e Signo Monet foram os dois livros mais vendidos de Otaviano, ou melhor ou seria pior, Dan Crown. Mas não era só isso, foram os mais vendidos por anos a fio, edições atrás de edições. Ele tinha vergonha daqueles livros. Por estas e por outras havia deixado de entender o Brasil.
Mas isso não retirava o problema que enfrentava naquele momento. Havia a obrigação de entregar um novo romance e estavam escritas somente 90 laudas. Mas também com o tema escolhido não tinha como escrever mais. O enredo do romance era mais ou menos assim. Um grande engarrafamento que dura dias e dias (já é sem pé nem cabeça um engarrafamento assim) então começam a ocorrer mortes inexplicáveis. Como iria conseguir escrever mais do que noventa folhas? O título do livro não poderia ser pior: Engarrafamento Mortal. Por isso que não disse nada ao seu editor, na certa seria causa de rompimento unilateral do contrato.
Otaviano se perguntava como terminar uma história de suspense que se passa num engarrafamento? Não tinha a menor ideia. Pegou o carro para dar uma espairecida. Claro leva o note, para caso surja alguma inspiração.
Fica algumas horas andando de carro e nada da inspiração, pensa em tudo menos no tal Engarrafamento Mortal. Mas o inesperado ocorre ao parar num semáforo. Vê um sujeito no espelho retrovisor se aproximando pelo lado do motorista e outro pelo lado do carona, só deu para pensar "a casa caiu". Muito rapidamente um dos sujeitos aponta uma arma e anuncia o assalto. Num piscar Otaviano desce do carro e os dois meliantes levam o carro. Otaviano pensa no seu notebook e lembra que não tem nenhuma cópia do arquivo denominado Engarrafamento Mortal. Dos males o menor. Não teria que continuar a escrever aquela história horrível. E desde então Otaviano não consegue escrever uma linha sequer, seu psicólogo diz que está sofrendo de síndrome do pânico O seu contrato foi rescindido pela editora. É réu em um processo de execução onde a editora cobra o adiantamento pago. Sua ex- esposa cobra pensões atrasadas e o ameaça com prisão. Aliás, parece que já tem até mandado de prisão expedido.
Mas ainda poderia ficar pior, um dos ladrões devia ter uma veia artística e, também, operava milagres, pois alguns meses depois fora publicado o livro Engarrafamento Mortal. A crítica dizia que o autor daquela obra havia bebido da mesma inspiração de Dan Crown. O Engarrafamento mortal desbancou os dois únicos sucessos de Dan Crown, era o mais novo fenômeno editorial brasileiro. Pelo menos agora Otaviano não sentia mais aquela pressão para produzir um novo livro a cada semestre. Estava se dedicando a fugir do oficial de justiça que insistia em lhe apresentar um documento...
Trilha Sonora
Go your own way - Fleetwood Mac - Rock 70´s
Assassin - Muse - Black Holes And Revelations
Love her madly - The Doors - Rock 70´s
Map Of The Problematique - Muse - Black Holes And Revelations (Japanese Release)
Surrender - U2 - War
Shine on You Crazy Diamond (Part One) - Pink Floyd - Wish You Were Here
At Last You're Here - Pat Metheny Trio - Day Trip
Black Burning Heart - Keane - Perfect Symmetry
El Andйn (featuring Mala Rodriguez) - Bajofondo Tango Club - Mardulce
You Got Me Rocking - The Rolling Stones - Voodoo Lounge
Rolling Stones - Brown Sugar - Rock 70´s
Pipeline - The Alan Parsons Project - Ammonia Avenue
Orff: Carmina Burana - Primo Vere: Ecce Gratum - Franz Welser-Möst: London Philharmonic Orchestra
Orff: Carmina Burana - Cour D'Amours: Tempus Est Iocundum - Franz Welser-Möst: London Philharmonic Orchestra
Voices Inside My Head - The Police - Message in a Box
In My Bed (Live At Concorde, Brighton) - Amy Winehouse - Frank
Cat Scratch Fever - Ted Nugent - Rock 70´s
Can't Find My Way Home - Eric Clapton - Crossroads 2: Live In The Seventies
Lo Que Sangra (La Cupula) (Version Remix) - Soda Stereo - Zona De Promesas (Mixes 1984-1993)
Christmas Song [*] - Jethro Tull - This Was
Hall & Oates - Sara Smile - Rock 70´s
Sunday Bloody Sunday - U2 - Show Estádio Morumbi São Paulo 10/04/2011
Two Hearts Beat As One (Long Mix) - U2 - War (2008 Bonus CD)
Kansas - Point Of Know Return - Rock 70´s
Get Down Tonight - KC & The Sunshine Band - Rock 70´sYou Only Live Twice (Live From Norway) - Coldplay - Singles
Oh No! Not You Again - The Rolling Stones - A Bigger Bang
Resistance - Muse - The Resistance
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