Julia Nin pode parecer um nome estranho. Mas é um nome, ou melhor, um pseudônimo de uma amiga muito querida. Este conto surgiu de uma conversa entre nós. Aliás, uma saborosa conversa. E para finalizar ela escreveu o final deste conto a seguir publicado. Julia tu sempre me surpreende, mesmo quando não há qualquer surpresa.
Por Julia Nin
Renato e Mariela se conheceram numa destas festas de final de ano. Nunca tinham se visto, pararam naquela festa porque eram amigos de dois funcionários. Quando, enfim, foram apresentados logo surgiu uma certa intimidade. Poucas palavras foram ditas entre eles. Se olharam durante toda a noite. Em cantos opostos da festa, através de olhares furtivos, se conheciam melhor. Aquela festa careta estava ficando pequena para eles. Resolveram ir embora, a noite prometia. Decidiram ir ao Cabaret Violet um bar propício para casais que querem algo a mais da noite.
Ao entrarem no Cabaret decidiram pedir um vinho, Renato escolheu um Malbec da Concha y Toro. Renato era metido a entendedor de vinhos, quase um enochato. Mas se conteve para não ficar falando sobre a uva, forma de cultivo e com o que harmonizar o vinho. Novamente o silêncio imperava entre eles. Ela olhava muito para o peito de Renato, o que o levou a pensar que ela era vidrada em peitos másculos. Renato deu uma risada, estufando o peito. A noite estava passando muito rápido.
O conteúdo da garrafa havia esgotado.
Mariela pegou o copo vazio, sem saber como continuar ali, na frente de Renato,
sem a desculpa de saborear o vinho. Passou suavemente os dedos na borda do
copo, olhou para o movimento da rua. Não conseguia mais encarar Renato, até que ele
levantou e caminhou até o banheiro, sem dizer uma palavra.
No bar, o ruído de alguns velhos
bêbados servia de trilha sonora. O barulho das garrafas e dos copos, a risada
de algumas meninas em frente ao estabelecimento.
Mariela levantou, caminhou até a porta
do banheiro e aguardou. Quando a porta se abriu e Renato deu o primeiro passo,
ela o empurrou de volta para dentro da pequena cabine. Pressionou o peito dele
com as mãos, até que suas costas tocaram a parede. Então, ela disse a primeira
e única frase da noite:
- Fiquei feliz quando vi que você
estava com essa camisa de botões. Eu gosto de abrir botões.
Calmamente ela desabotoou o primeiro
botão da camisa de Renato. Depois o segundo, o terceiro. E parou. Sentiu o
cheiro no pescoço dele e se aproximou um pouco mais. Sentiu o gosto amargo do
perfume que ele usava. Em seguida afastou-se um pouco, encarou Renato. Fechou
um a um os três botões, abriu a porta do banheiro e saiu do bar, sem pagar a
conta.
Hoje recebi uma mensagem de quem está por trás Julia Nin. Ela me disse que a história de Renato e Mariela não terminou. Será?
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