Pular para o conteúdo principal

Um outro 11 de setembro


     Um amigo postou um comentário lembrando o 11 de setembro de 1973. Poucos sabem a verdadeira história deste 11 de setembro. Poucos se importam com o 11 de setembro de 1973. Por quê? Fácil responder. Este 11 de setembro foi provocado e estimulado pelos Estados Unidos quando seus interesses econômicos estavam sendo ameçados no Chile de Allende.
     Como é interessante a história da humanidade. Fatos semelhantes são tratados de forma absolutamente diversas. O que os EUA fizeram no Chile foi uma intervenção para impor a sua forma de pensamento, impor o modo norte-americano de viver. Por outro lado, o que os terroristas fizeram no 11 de setembro de 2001 foi esta mesma tentativa de imposição de ideias. Os dois atentados ferem os mesmos direitos e os mesmos princípios éticos e morais.
     O caso do Chile de Allende é um dos maiores atentados à soberania de um país. O Chile resolveu seguir um caminho diferente, buscou ser um país socialista com pendores democráticos. Mas esta opção livre e soberana dos chilenos feriu interesses transnacionais. Em particular interesses de empresas norte-americanas. Então o grande império resolveu sabotar esta experiência. Estimulou movimentos paredistas de trabalhadores, sabotagens de minas (principal fonte de renda do Chile dos anos 70), enfim, tentou instalar o caos no Chile. O povo chileno tentou resistir através das urnas, mas quando os tanques entraram em ação, não houve mais como lutar contra esta força econômica e militar do norte. A consequência direta foi a assunção ao poder de um desconhecido general, Augusto Pinochet, alinhado com os interesses norte-americanos. O obscuro general atuou de acordo com os mandamentos impostos pelos EUA e sua doutrina econômica. Os Chicago Boys aplicaram direitinho os mandamentos do grande império do norte. Até porque muitos dos integrantes do Governo Ditatorial do Pinochet estudaram na Universidade de Chicago, tendo contatos direto com Milton Friedman. Quem tiver interesse pesquise um pouco sobre este economista e ficará surpreso com alguns dados da sua biografia.
     Estes dois episódios quando retratados pela imprensa, historiadores e acima de tudo pelo império norte-americano, adquire outras matizes, o Golpe no Chile é minimizado, enquanto que o 9/11 é superdimensionado. Os Estados Unidos a partir de 2001 iniciaram uma caçada aos responsáveis pelos ataques ao seu país, invadiram países, implementaram o conceito de guerra preventiva, sequestraram pessoas, torturaram suspeitos, inclusive criaram uma prisão específica para estes suspeitos. Guantánamo é o símbolo deste terror ao terror. Um país que até então não tolerava o desrespeito aos direitos humanos, encontrou uma forma de praticar a tortura. Os doutos na matéria afirmaram que a Sistema Jurídico Americano não permitia a tortura no limite territorial americano, mas hipocritamente afirmaram que não existia tal empecilho para as torturas perpetradas por americanos fora do território americano. Então, como Guantánamo fica fora dos limites territoriais americanos a tortura poderia ser usada, bem como em diversas outras prisões espalhadas pelo mundo, como por exemplo, Abu Ghraib. Muitas outras devem existir e nós não sabemos...
     É estranho que um país que sempre se autoproclamou defensor dos direitos humanos, um país que sempre se posicionou contra qualquer tipo de violação aos direitos humanos, de uma hora para outra tenha rasgado todas as suas convicções. Alguém poderia dizer que este fato foi em represália a um ato inominável. Mas os EUA se igualaram aos terroristas ao agirem da mesma forma que eles.
     Mas se formos analisar a história, veremos os Estados Unidos já praticavam o terrorismo de Estado. Um exemplo é o 11 de setembro de 1973 no Chile socialista de Allende. Mas não é o único exemplo. Poderia citar um número infindável de exemplos, me vem a lembrança a Nicarágua, caso conhecido por Irã-Contras, também me lembro da invasão da Baía do Porcos em Cuba, a invasão de Granada (operação Fúria Urgente) e até o golpe militar no Brasil. Poderia enumerar muitos outros casos, todos estimulados ou com a presença ostensiva dos Estados Unidos. Não há justificativas ao 11 de setembro de 2001, mas será que não foi uma consequência terrível das atitudes deste país imperialista? Será que a política externa dos Estados Unidos não teve como consequência a total insatisfação de muitos outros povos? São perguntas que ficam no ar para você formar suas conclusões. Todo o extremismo é nefasto para a humanidade, seja de direita, esquerda, religioso ou qualquer outra linha ideológica.
     Nada justifica a violência. Ponto. Entretanto, a vida não é tão simples, nós não somos tão simples. Eu entendo aquele que sempre foi oprimido tentar atacar o opressor. Não justifico, mas entendo. Apenas entendo.
     O grande império do norte, de todas as formas, impõe a sua forma de viver, impõe suas crenças e suas certezas. Às vezes nós temos as nossas certezas, nós temos nossas formas de pensar, queremos errar ou acertar por nós mesmos. Não é diferente com os países. As culturas espalhadas pelo mundo querem continuar existindo e não serem apenas um apêndice da cultura de terceiros. Ou então, tornarem-se apenas mais um mercado consumidor da cultura norte-americana.
     Não gostaria de testemunhar outros 11 de setembro, mas para estes fatos não ocorrem mais deveríamos mudar completamente conceitos e atitudes. Não vejo os países alterando suas ações, muito antes pelo contrário, vejo diariamente os grandes impérios tentando impor suas convicções. Não tardará para a corda romper novamente, é uma pena...

Ps.: Valeu Carlos Fischborn pela lembrança do 11 de setembro de 1973... parece que estamos do mesmo lado da história. E isso me agrada. Me agrada saber que fomos colegas de colégio e fiquei feliz com nosso encontro numa assembleia da nossa categoria. Abraços.

Trilha sonora
Rocksong - Muse - Arcana
I Won't Back Down - Tom Petty & the Heartbreakers - Greatest Hits
I Go Wild - The Rolling Stones - Voodoo Lounge
Paranoid - Black Sabbath - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Focus (Vocal) - Focus - In And Out Of Focus
The Wall Street Shuffle - 10CC - Rock 70´s
Piece Of My Heart - Big Brother & The Holding Company - Live At Winterland '68
Endless Deep - U2 -  War (2008 Bonus CD)
Guinevere - Rick Wakeman - The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table
The Groove In The States (San Diego) - Muse - Absolution Tour
Highway 61 Revisited - Bob Dylan - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Dharma For One - Jethro Tull - This Was
Wond'ring Aloud - Jethro Tull - Aqualung
Peg - Steely Dan - Rock 70´s
Your Love (Once Upon A Time In The West) - Dulce Pontes & Ennio Morricone - Focus

Comentários

  1. Carlos EXOMAN Fischborn says:
    Meu grande amigo Ledventure,
    Excelente post. Hoje mais que nunca sei que estamos do mesmo lado sim, o lado oposto as ingerências dos mais ricos e poderosos deste mundo.
    Deixo aqui também o meu muito obrigado pela resposta e Um Grande Abraço!

    PS: Já que tu bem citou a Nicarágua, eis aqui a trilha sonora desse meu post.
    .
    http://www.youtube.com/watch?v=F6kahuS6AfQ
    .

    ResponderExcluir
  2. Oi, ótimo texto! Mas, faltou uma música na tua trilha: YO PISARÉ LAS CALLES NUEVAMENTE de Pablo Milanes
    Pra quem quiser ouvir
    http://www.4shared.com/audio/rOLfsik5/ad_Yo_pisare_las_calles_nuevam.html?

    Yo pisaré las calles nuevamente
    De lo que fué Santiago ensangrentada
    Y en una hermosa plaza liberada
    Me detendré a llorar por los ausentes

    Yo vendré del desierto calcinante
    Y saldré de los bosques y los lagos
    Y evocaré en un cerro de Santiago
    A mis hermanos que murieram antes

    Yo me volque al que hizo mucho y poco
    al que quiere la Patria liberada
    dispararé las primeras balas
    más temprano que tarde sin reposo
    Retornarán los libros, las canciones
    Que quemaran las manos asesinas
    Renascerá mi pueblo de su ruína
    Y pagarán su culpa los traidores

    Un niño jugará en una alameda
    Y cantará con sus amigos nuevos
    Y ese canto será el canto del suelo
    A una vida cegada en La Moneda

    Yo pisaré las calles nuevamente
    De lo que fué Santiago ensangrentada
    Y en una hermosa plaza, liberada
    Me detendré a llorar por los ausentes

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Interaja com Ledventure...

Postagens mais visitadas deste blog

Licenças poéticas

      No texto do Cotidianidade recebi o seguinte comentário: estou de olho..não adianta remover... Já criaste 2 leitoras que " contribuiram" com teu blog.. por que não assumir que os textos são teus? é para parecer que mais gente lê o blog? os teus textos são bons..não precisas deste artifícios..      Primeiramente tenho que dizer que fui surpreendido com este comentário. Engraçado como algumas coisas mexem com nossos sentimentos. E sem muita explicação.      Sempre ouvi a seguinte frase "não importa o meio, mas sim a mensagem". E acho que serve para este caso, não importa se quem escreveu foi A, B ou C, mas sim se cumpriu com sua missão, levar alguma mensagem, seja ela tola ou não. Se pensamos sobre o que lemos já basta. Este é o objetivo de qualquer escritor, seja ele neófito como eu ou os mais experientes.      Escrever é uma atividade de exposição, nos desnudamos através das palavras (escrevi isto estes dias) e é a mais pura realidade. Quem quer escrev

Ciclo do amor...

      - Não sei como chegamos até aqui sendo completamente diferentes.      - Nós chegamos aqui por discordâncias irreconciliáveis. Nossa relação foi um erro.      - Como um erro, se estivemos casados por vinte anos?      - Mas nestes vinte anos nos fizemos muito mal. Desperdiçamos tempo ao tentar tornar o nosso amor viável. Pelo menos é o que eu penso.      - Realmente somos diferentes. Mas nunca achei que nosso casamento foi um erro. Fui muito feliz ao teu lado.      - Nestes anos, tu pode me dizer quantos foram realmente felizes ao meu lado?      - Não podemos mensurar este tipo de sentimento. A felicidade é um conjunto de pequenos momentos felizes. Tu sempre buscou algo fora de ti. Nunca consegui achar esta felicidade interior e buscava no outro ou no teu entorno.      - Não estou afirmando que fui infeliz, mas sim que esta vida não foi a que esperei para mim.      - Sempre olhando somente o teu lado, sempre senti que na verdade tu era muito egoísta, mas eu tinha a convicç

Efemeridades...

     O fim é efêmero. Entre tantas outras coisas.      Pode parecer estranho, mas é, ou melhor, acho que é, deixei de ser definitivo com tudo que me cerca, minhas certezas ficaram pelo caminho. Ou melhor, minhas certezas eram efêmeras.         Sempre nos é imposta a ideia de que o fim  é definitivo, mas não é, nunca foi. Alguns dirão que a morte é o fim definitivo. Também não é. Nem me refiro à questão espiritual, onde muitos acreditam que a morte é uma passagem para outro plano, outras vidas. Não acredito muito, mas respeito profundamente. É questão de fé. Contra fé não há argumentos. Ou se tem ou não se tem e ponto final. Sem nova linha.      Mas é inegável que a morte não é o fim, existe muita vida após a morte, basta olharmos um corpo em decomposição e lá estará a prova viva e morta de que a vida não termina, apenas apresenta outras formas de existência. Tudo que nos cerca e nós mesmos somos efêmeros, mas isso não quer dizer que somos finitos. Este é o centro da questão. É uma