- Eu vivo ao largo da vida.
- Como assim?
- Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.
- Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.
- Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.
- Otávio, às vezes acho que tu é louco.
- Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.
- É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.
- Mas eu gosto de falá-las.
- Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.
- Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...
- Para o que...
- Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.
- Tu e esta mania de me chamar de ignorante ou pelo menos insinuar.
- Não é isto. Ou quem sabe é isso mesmo. Sei lá. Talvez isto explique eu viver tanto tempo ao largo da vida. Aliás, esta foi a constatação que fiz a poucos minutos. Não suporto mais este tipo de vida que levamos. Ou melhor, que levo.
- Mas onde está o problema?
- Este é o problema. Vivemos uma vida comum, sem nada que mexa com nossos sentimentos. Acordamos, trabalhamos, transamos e dormimos. Dia após dia.
- Otávio. Realmente tu é maluco.
- Isabele. Tu quem é louca e ainda por cima acomodada. Já aceitou este turbilhão que é a vida. E ainda por cima gosta desta vida medíocre. Desculpe ser tão direto, ams cansei de tangiversar a verdade.
- Espera um pouco, ouça o que tu está dizendo. Eu acomodada. Olha para ti, tu não faz nada além de dizer que está ao largo da vida. Que coisa ridícula.
- Mas é verdade. Não faço nada e estou ao largo da vida. Gostaria de ser diferente, mas não sou. Gostaria de pensar diferente, mas não penso, gostaria de ser como tu és. Uma quase alienada. Só pensa no dia de hoje e no que vai vestir para suas amigas dizerem que tu tens estilo. Ora, estilo. Que coisa vazia e sem sentido.
- Não sou só isso. Não me coloca para baixo. Aliás, é só o que tu sabe fazer, me diminuir como ser humano. Tu diz que eu não faço nada. Então vou fazer um coisa que deveria ter feito a uns 10 anos.
Neste instante Isabele se levanta, veste suas roupas e entra no banheiro. Otávio admira aquele corpo escultural e não entende como Isabele suporta as suas loucuras.
Ao sair do banheiro Isabele solta:
- Otávio, vai a merda. E não me pergunte se este "a" tem crase ou não. Mas para o teu governo coloca a crase na... Não completa a frase e vai embora.
Otávio não entende, mas tem convicção que aquele "a" levava crase, pois quem vai a volta da...
Quando entra no banheiro mais uma surpresa, está escrito de batom no espelho: "Tchau troucha, não foi bom". Otávio ficou pensando na música do Arrigo Barnabé, daquele disco memorável Tubarões Voadores e é a mesma cena descrita na música, mas com duas imprecisões. Trouxa não é com 'ch', mas com X. E na música a mulher escreve de batom que foi bom...
Isabele dá uma risada dentro do carro imaginando a cena do Otávio corrigindo a frase e lembrando do Arrigo Barnabé. Ao fundo rola um som do Arrigo e Isabele não consegue segurar uma lágrima furtiva, afinal, ama aquele cara que vive ao largo da vida.
Trilha Sonora
Hoje não poderia ouvir outra música. Tem tudo a ver com este texto...Deixo a letra da música que embalou este post...
Suspeito - Arrigo Barnabé
Você tem medo de fazer amor comigo
Você tem medo de acordar com um bandido
E ver no espelho escrito com batom:
- Tchau trouxa, foi bom!
Você não sabe de onde eu tiro o meu dinheiro
Você não sabe o que eu faço o dia inteiro
E esse mistério destrói a nossa paz
Ah, não posso mais
Não me pergunte nada, me deixe apenas vendo
Seu corpo lindo vindo para mim
E não se esconda tanto pois o seu corpo chama
Um outro corpo solto sobre o seu que eu bem sei
É o meu
Você suspeita que eu não seja um bom sujeito
E não entrega seu amor a um suspeito
Mas mesmo tentando jamais conseguirá
Não me desejar
- Como assim?
- Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.
- Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.
- Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.
- Otávio, às vezes acho que tu é louco.
- Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.
- É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.
- Mas eu gosto de falá-las.
- Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.
- Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...
- Para o que...
- Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.
- Tu e esta mania de me chamar de ignorante ou pelo menos insinuar.
- Não é isto. Ou quem sabe é isso mesmo. Sei lá. Talvez isto explique eu viver tanto tempo ao largo da vida. Aliás, esta foi a constatação que fiz a poucos minutos. Não suporto mais este tipo de vida que levamos. Ou melhor, que levo.
- Mas onde está o problema?
- Este é o problema. Vivemos uma vida comum, sem nada que mexa com nossos sentimentos. Acordamos, trabalhamos, transamos e dormimos. Dia após dia.
- Otávio. Realmente tu é maluco.
- Isabele. Tu quem é louca e ainda por cima acomodada. Já aceitou este turbilhão que é a vida. E ainda por cima gosta desta vida medíocre. Desculpe ser tão direto, ams cansei de tangiversar a verdade.
- Espera um pouco, ouça o que tu está dizendo. Eu acomodada. Olha para ti, tu não faz nada além de dizer que está ao largo da vida. Que coisa ridícula.
- Mas é verdade. Não faço nada e estou ao largo da vida. Gostaria de ser diferente, mas não sou. Gostaria de pensar diferente, mas não penso, gostaria de ser como tu és. Uma quase alienada. Só pensa no dia de hoje e no que vai vestir para suas amigas dizerem que tu tens estilo. Ora, estilo. Que coisa vazia e sem sentido.
- Não sou só isso. Não me coloca para baixo. Aliás, é só o que tu sabe fazer, me diminuir como ser humano. Tu diz que eu não faço nada. Então vou fazer um coisa que deveria ter feito a uns 10 anos.
Neste instante Isabele se levanta, veste suas roupas e entra no banheiro. Otávio admira aquele corpo escultural e não entende como Isabele suporta as suas loucuras.
Ao sair do banheiro Isabele solta:
- Otávio, vai a merda. E não me pergunte se este "a" tem crase ou não. Mas para o teu governo coloca a crase na... Não completa a frase e vai embora.
Otávio não entende, mas tem convicção que aquele "a" levava crase, pois quem vai a volta da...
Quando entra no banheiro mais uma surpresa, está escrito de batom no espelho: "Tchau troucha, não foi bom". Otávio ficou pensando na música do Arrigo Barnabé, daquele disco memorável Tubarões Voadores e é a mesma cena descrita na música, mas com duas imprecisões. Trouxa não é com 'ch', mas com X. E na música a mulher escreve de batom que foi bom...
Isabele dá uma risada dentro do carro imaginando a cena do Otávio corrigindo a frase e lembrando do Arrigo Barnabé. Ao fundo rola um som do Arrigo e Isabele não consegue segurar uma lágrima furtiva, afinal, ama aquele cara que vive ao largo da vida.
Trilha Sonora
Hoje não poderia ouvir outra música. Tem tudo a ver com este texto...Deixo a letra da música que embalou este post...
Suspeito - Arrigo Barnabé
Você tem medo de fazer amor comigo
Você tem medo de acordar com um bandido
E ver no espelho escrito com batom:
- Tchau trouxa, foi bom!
Você não sabe de onde eu tiro o meu dinheiro
Você não sabe o que eu faço o dia inteiro
E esse mistério destrói a nossa paz
Ah, não posso mais
Não me pergunte nada, me deixe apenas vendo
Seu corpo lindo vindo para mim
E não se esconda tanto pois o seu corpo chama
Um outro corpo solto sobre o seu que eu bem sei
É o meu
Você suspeita que eu não seja um bom sujeito
E não entrega seu amor a um suspeito
Mas mesmo tentando jamais conseguirá
Não me desejar
Um blog às moscas??? Terá sido efeito das ditas "licenças poéticas"??
ResponderExcluirOu foi só coincidência???
A intenção não é ser um "campeão" de acessos. Claro que fico feliz em ter leitores, mas tenha a certeza que não é o que me move. A intenção é somente escrever pelo simples prazer da escrita...
ResponderExcluirPor outro lado, tenho que lhe contestar anônimo(a), pois este mês o ledventure superou os dois mil acessos, mesmo com as licenças poéticas. Então, acho que elas, as licenças poéticas, têm suas parcelas de "culpa" neste resultado. Você não acha? Estou esperando suas contribuições para serem publicadas aqui. Mas aí você terá que se revelar ou quem sabe usar um pseudônimo... Abraços
Achei meio contraditório mas parabéns, pelo número de acessos, já que é tão importante...
ResponderExcluirDe qualquer forma, tantos acessos deveriam ter gerado mais comentários, ou não? Não sei, sou apenas um observador..
Não vejo contradição. Não existe obrigação de comentar. Ou existe? Já te escrevi que não quero ser um campeão de audiência. Agora tu poderia dar uma dica de quem tu é... Gosto de saber com quem me relaciono... Minha mãe sempre me disse para não dar papo para estranhos.
ResponderExcluirbullying virtual??
ResponderExcluirputz, leo. ativa a moderação de comentários e dá a essa figura a chance de fazer alguma coisa da própria vida...
bjs, angel.
Realmente, bem desagradável ter um(a) mala enchendo o saco virtualmente... Podia, pelo menos, ter a dignidade de se assumir. Cara, bloqueia essa criatura!
ResponderExcluirAbraço!
Cris
Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros...
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