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Mostrando postagens de 2012

Natura non facit saltus

     A cada final de ano é a mesma coisa.      Fazemos promessas de novos comportamentos. Começaremos aquela dieta "para valer". Iniciaremos o curso tão desejado, a poupança prometida ou a reforma da casa. Enfim, prometemos mundos e fundos.      Prometemos que tudo será diferente, a começar por nós mesmos.      Temos a certeza de que no ano novo respeitaremos todas as promessas feitas ao padre, à esposa, esposo, chefe, credor, amante, oficial de justiça e tantos outros personagens das nossas vidas.      Quando ultrapassamos o primeiro segundo do ano novo percebemos que nada mudou, tudo está da mesma forma. Nossos comportamentos, nossos deslizes, nossos amores e dissabores; não há mudança com um simples passe de mágica. A vontade por si só não move montanhas. A vontade não tem o condão de mudar nossas vidas. Outros fatores influenciam. Não existe uma fórmula mágica, o que é uma pena, senão compraríamos em algum supermercado ou farmácia.      A natureza não dá saltos - N

Sou um perdedor.

     Nunca gostei de enfrentamentos.      Ou melhor, evitava-os. Mas nunca deixava de entrar numa luta.      Dê uns anos para cá comecei a apreciar enfrentamentos, mesmo sabendo que iria perder. Mesmo sabendo que eram lutas inglórias. Mesmo sabendo que estava do lado perdedor da batalha.      Perder me dá orgulho. Ao olhar os vencedores sempre me sinto mais forte do que todos eles. Ao olhá-los cobertos de glórias percebo que faço as melhores escolhas, mesmo quando me vejo sozinho pelo caminho. A cada novo enfrentamento perdido minhas escolhas se fortalecem, não que isso me reconforte. Não preciso de reconforto. Não preciso de aceitação nas minhas escolhas.      Todas as derrotas são lembradas por mim, todas. Nenhuma é esquecida. A cada novo dia sinto o gosto destas derrotas. E a cada nova manhã ao olhar para trás percebo que não poderia ser diferente. Não sou um feroz lutador, mas tento, da minha forma, fazer diferente. Não quero somente repetir comportamentos sabidamente errados.

Hipócritas jantam juntos

     Neste final de ano vivo intensamente as férias que me foram concedidas. Por isso deixei de escrever mais seguidamente no blog. Mas há pessoas que querem escrever. Nestes dias recebi uma contribuição da distante Almas. Sim, o Brasil tem uma cidade com o nome de Almas e fica em Tocantins. Reproduzo abaixo o e-mail deste amigo leitor, bem como o texto que me fez pensar no que fazemos com nossos sonhos: Prezado LedVenture. Boa noite. Estes dias entrei no teu blog e notei que a sua produção de textos diminuiu drasticamente. Percebi que também diminuíram as contribuições dos teus leitores. Então resolvi te mandar um dos meus textos que penso se encaixar bem com o que é publicado no blog. Se for da tua vontade eu ficaria muito satisfeito em ver um texto meu publicado no teu blog. Abraços do leitor distante de Almas. Alexandre Eco. PS. Não te assuste, LedVenture, Almas é a cidade que moro, fica no Tocantis. Não é brincadeira acessa no W

Elevador nunca mais!

     Não vou mais utilizar elevadores.      Cansei.      Usarei escadas, mesmo que esteja no Empire State. Prefiro subir 102 andares pelas escadas do que ter que aguentar as conversas surgidas em elevadores.      Não suporto mais as seguintes frases:      "Tá quente hoje!"      "Quantas sacolas, vai ter festa hoje."      "Viu ontem a novela, o bandido merecia apanhar."      "Mais um escândalo na política brasileira, onde vamos parar?"      Por fim, talvez a pior delas:      "Será que vai chover hoje?"      Em todas as passagens eu apenas apresento um sorriso. Mas por dentro gostaria de responder mais ou menos assim.      - Sim está quente hoje, o senhor gostaria que estivesse nevando no Brasil em pleno dezembro?      - Vai ter festa lá em casa, mas com certeza a senhora não está convidada.      - Não vi ontem, não verei hoje, muito menos assistirei amanhã... Aliás, deixei de assistir novelas quando mataram a Odete Roitman.

Os Duzentos afortunados

     A nossa sociedade faliu. Isso mesmo. O que chamamos de sociedade moderna está irremediavelmente condenada. É só esperar a decretação oficial.      Você pode se perguntar sobre o que levou este blogueiro neófito a conclusão tão peremptória? Simples. Na semana passada li uma pequena nota no final de uma reportagem que dizia mais ou menos o seguinte: A fortuna das 200 pessoas mais ricas do mundo é maior que a soma da riqueza gerada pelo Brasil no ano passado (US$ 2,49 trilhões). Os 200 principais bilionários acumulam uma riqueza de US$ 2,7 trilhões, equivalente ao PIB da França, a sexta maior economia global no ano passado.      Você não leu errado, apenas 200 pessoas detêm a riqueza equivalente ao que é produzido por um país como o Brasil durante um ano inteiro. Ou seja, tudo que é produzido por mais de 200.000.000 (duzentos milhões de pessoas) não atingem a riqueza dos 200 mais ricos do mundo. Como chegamos a este estágio? Como aceitamos esta discrepância tão grande? Como per

Traficante de felicidade

     Um olhar distante.      Um pensamento sem sentido. Passos rápidos em uma avenida qualquer de uma cidade caótica.      Mais uma vez começo a escrever sem final certo, sem um script , sem direção, talvez seja este um resumo de tudo que vivo, vou simplesmente vivendo sem norte. Apenas uma digressão em meio a mais um texto com pouco ou nenhum sentido. Mas continuo esta empreitada solitária que é a escrita, ainda mais de um blogueiro neófito que escreve simplesmente para passar o tempo...mesmo que não seja lido. Atualmente até prefiro não ser lido e continuar a escrever textos sem sentido, pelo menos aparente, mas lá nas entrelinhas o sentido é claro, pelo menos assim espero.      Aquele olhar distante por vezes te julga e condena. Hoje sai para ir ao banco e cruzei por algumas pessoas que simplesmente caminhavam pela rua, com olhares vagos e distantes. Fiquei pensando para onde todos estavam indo, o que direcionava aquelas pessoas. Que destino as esperava mais ali adiante. Talvez e

Mídias de todos os dias

     Um dia ouvi a seguinte frase: jornalista separa o joio do trigo e fica com o joio.      Esta frase volta e meia surge dentro de mim como se fora um mantra. Uma espécie de aviso.      É só sentar em frente à televisão e assistir qualquer telejornal para esta frase se encaixar com perfeição àquele show de horrores.      Experimente deixar a televisão sem volume e observar as imagens que são passadas nos telejornais. Parece um filme de guerra. Sangue, cápsulas de balas, pessoas chorando, caixões, mais choros e por aí vai. Não vemos imagens, digamos assim, tenras, somente barra pesada. Será que nossas vidas se resumem naquelas imagens, será que vivemos dentro de um filme de terror como é retratado em todos os telejornais. Penso que não, não é possível que seja este o retrato de nossas vidas. Claro que não estamos cercado por um mar de rosas. Mas também não é aquele horror diário, sentimos alegrias, temos sensações boas a serem relatadas e compartilhadas com a sociedade.      Dev

Ama como se fora o último dia

     No Post Sorria, você é linda, mesmo que a tv não diga , fiz menção a uma outra versão sobre uma pichação pela cidade. Eis a outra versão, uma outra leitura sobre o mesmo fato.           Vinícius saiu em mais uma noite com sua lata de spray pela cidade. Iria escrever em muros os recados de sempre.      Fazia cinco anos que ele todas as segundas terças-feiras do mês repetia este ato. Estava ficando conhecido pela cidade, embora seu anonimato. Nos jornais saíam reportagens com o título nada original "O pichador do amor". Criaram-se as mais variadas teorias para as frases escritas: "A pessoa está tentando recuperar um amor perdido", "Ele está em busca de alguém que complete o seu amor" entre tantas outras. Muitas pessoas ficavam de tocaia para descobrir quem era esta pessoa que resolveu escrever frases de incentivo pela cidade. Mas nunca conseguiram descobrir o autor das pichações "Sorria, você é linda, mesmo que a tv não diga", "O amo

Reescritas

     Hoje deletei todos os rascunhos do blog. Não existe nada que tenha ficado para trás. Talvez seja uma forma de recomeçar a escrever aqui e na própria vida. Novos caminhos a seguir, mesmo que seja na mesma direção.      Por vezes penso em reescrever algumas passagens da vida como se fora um texto escrito no qual pudéssemos alterá-lo a qualquer tempo. Lembro de uma passagem do Clássico 1984  escrito por George Orwell , quando o Estado reescrevia a história de acordo com a vontade dos donos do poder, retirando passagens ou incluindo outras a seu bel prazer.      Se fosse possível reescrever passagens da vida como eu as reescreveria? E você? Que passagens mereceriam uma nova escrita? Será que tudo seria revisitado? Reescrever os sofrimentos, retirando-os, ressaltando as alegrias, inserindo outros capítulos e outros personagens. Talvez, se fosse possível este exercício, retiraríamos desta sucessão de dias que chamamos de vida o pouco de sentido que tem. Talvez deixaríamos de aprend

Montevideo + Cinco

     Cinco anos se passaram desde minha primeira passagem por Montevideo. Quis o destino que eu voltasse para esta cidade encantadora. Coisa do destino de todos nós. Mais uma vez estou aqui, mais uma vez por motivos puramente felizes, vivenciando a vida que não é de todos os dias, o que, frise-se, é uma pena, poderia ser assim todos os dias, mas não é. Entretanto, esta é uma outra questão. Dura questão.      Ao voltar a Montevideo me senti vivendo os mesmos dias de cinco anos atrás, entretanto, se passaram cinco longos anos. O mundo e nós mudamos. O mundo começou a viver mais uma das tantas crises criada pelos mesmos de sempre e com os efeitos sobre a mesma classe sofrida de sempre, os excluídos da festa. Aqui se percebe as mesmas discrepâncias econômicas, para não usar outro termo menos nobre. Os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres. Montevideo nestes cinco anos mudou, o sofrimento de alguns é perceptível. A cidade como um todo sofre as consequências da ganância dos que s

Sorria, você é linda, mesmo que a TV não diga

     Andando por aí estes dias encontrei uma frase escrita em uma parede qualquer "Sorria, você é linda, mesmo que a TV não diga". Uma frase com uma mensagem diferente daquelas pichações sem sentido espalhadas em nossas cidades.      A pessoa que tatuou naquele prédio a frase título deste post tinha a intenção de falar com todos e todas que não são valorizados nestes tempos de beleza fabricada. Ao ler aquela frase fiquei imaginando o momento que ela estava sendo tatuada, o sorriso da pessoa, o observar a "obra" e acima de tudo o passar de outras pessoas lendo e interpretando das mais diversas formas.      Em outros pontos são escritas frases de entusiasmo para os passantes diários. É interessante quem se dispões a escrever frases ou praticar intervenções nas cidades com o intuito de ajudar a tornar o dia menos árido. Danilo Verpa/Folhapress      São muitas as formas de intervenção. Lembro de um grupo que transformou uma faixa de segurança em um grande códig

Ciclo da vida invertido

     Hoje cumpri uma promessa. Uma das que fiz este ano.      Acompanhei uma amiga até o local onde seu filho descansa. Um jovem que se foi em mais um ato de violência diária. Vivenciei a dor de uma mãe. Conversamos sobre as perdas da vida, sobre os porquês destas perdas, conversamos sobre a maior das perdas. Eu, um cara de 40 anos, conversando com uma mãe em frente ao túmulo do seu filho numa tarde de domingo. Ali, percebi como são pequenos os nossos dramas face a maior das perdas. Ali, abraçado a uma mãe entendi que esta vida não apresenta nenhum sentido. Tentei reconfortá-la, mas não encontrei palavras. A abracei e choramos juntos. Não havia o que ser dito, nada poderia ser dito, qualquer palavra não iria cumprir função alguma. Somente me coloquei ao lado daquela mãe para escutá-la para que ela expiasse sua dor e compartilhasse por alguns momentos o seu sofrimento.      Nenhuma palavra, apenas choramos e vivenciamos aquela tristeza.      Naquele cemitério refleti sobre nossos

Programas Políticos

     Eu quero viver no país retratado nos programas políticos.      Lá não falta nada, muito antes pelo contrário, sobra assistência médica, a segurança pública é plena, o lixo não se acumula nas esquinas, não existe miséria, é um mundo do pleno emprego. O esgoto é 100% tratado, a corrupção é coisa de um passado distante. O sistema de transporte público é a sexta maravilha do mundo, por um preço em conta. A cultura é disseminada em todos os cantos, para todos os gostos.      Os aposentados são tratados com dignidade, polpudas aposentadorias são pagas, proporcionando que viajem pelo país e até para outros países. Os presídios são locais habitáveis, lá os presos se recuperam e voltam melhores para o convívio em sociedade.       O país dos programas políticos a carga tributária é ínfima, aliás, acho que nem existe, pois nunca ouvi qualquer menção de algum tipo de imposto no país dos programas políticos.      Que país maravilhoso! As cidades são paraísos terrenos. Tudo funciona a conte

Apenas uma caminhada sem destino

     Hoje simplesmente fiz uma das coisas que mais gosto. Sai para caminhar sem rumo. Adoro sair para caminhar sem destino certo, deixando que o caminho me levasse. Tomei banho de chuva, empurrei um carro estragado, cruzei com um caminhão entalado num viaduto, conversei com pessoas para tentar me localizar, entrei um ruas sem saída, vielas, avenidas, enfim, um caminho novo a cada passo. Nestas caminhadas sem destino faço uma espécie de faxina mental. Parece que uma espécie de programa desfragmentador ou então algum limpador de arquivos inúteis escaneia minha mente e por consequência meu corpo. Volto uma nova pessoa, renovado e pronto para seguir a vida de todos os dias.      Quando faço estas caminhadas prefiro ir por lugares não frequentados por mim diariamente. Procuro ter contato com lugares que não são incluídos dos cartões postais, busco a vida como ela é e não aquela que tenho. Vivo uma vida confortável e tenho consciência que não é o padrão médio do brasileiro. Por isso busco l

Mudanças

     Interessante como as coisas mudam ao nosso redor.      De um dia para o outro tudo muda. Como é possível ser assim e sempre ser assim. E o pior é que nos acostumamos com estas mudanças. Mudanças de toda ordem. Mudanças de vida, de amores, de emprego, de humores, enfim, tudo absolutamente tudo muda. Às vezes são avassaladoras, outras nem tanto. Mas são mudanças.      Conheço quem se assusta por qualquer mudança, até a mudança do horário de verão já é motivo para algum tipo de receio. "Será que vou demorar a me adaptar a este novo horário." Ano após ano repetem a mesma pergunta.     Por outro lado, há pessoas que não vivem sem algum tipo de mudança. Se elas não ocorrem de tempos em tempos já é motivo para alguma insatisfação. "Que saco, nada muda na minha vida."      Estes tipos de pessoas reagem de formas diversas diante das mudanças da vida. Eu, como sempre sou um meio termo, me assusto e, ao mesmo tempo, gosto das mudanças. Por trinta e um anos vivi no mes

Literatura 4 - Os Últimos Soldados da Guerra Fria

     Escrever sobre qualquer assunto, sem tema determinado, é uma coisa. Mas ter um tema e ter que desenvolvê-lo é uma tarefa que exige mais de quem se propõe executá-la. Eu me coloco nesta estrada neste momento. Por quê, nem eu sei, mas é o que vou fazer neste post. Aliás, já fiz alguns post nesta direção.      Escreverei hoje sobre um livro que acabo de ler. Depois de passar alguns meses sem ler (o que me dava uma angústia), voltei a este hábito que carrego por toda uma vida. Então a seguir farei um breve resenha, mais uma vez afirmo que não sei o sentido de fazer tal resenha. Talvez seja para passar o tempo, talvez para continuar pulsando a vida nestas veias, talvez para somente compartilhar uma literatura. Muitos talvez... pouca ou nenhuma certeza.        Livro: Os Últimos Soldados da Guerra Fria      Autor: Fernando Morais      Editora: Companhia das Letras        Facilmente este livro poderia ser o embrião de algum filme estrelado por um destes galãs do momento. Mas

Décollage II

     Naquela mesa só restavam duas taças de vinho. Um casal se olha e cada um repensam sua histórias. Nenhuma palavra é dita entre eles. A banda continua tocando única a música que haviam ensaiado,  Décollage...       Os dois apenas se olham, um mundo os separa, sonhos perdidos pelo caminho. Caminhos perdidos entre. Nada entre eles se completa ou se completou, a vida continua sem sentido e eles apenas se olham. As taças continuam pela metade. A banda ainda toca a mesma música. Acordes desencadeando uma linda linha melódica que termina abruptamente. No mesmo compasso.       As luzes piscam intensamente criando sombras disformes. O casal apenas pensa e nenhuma palavra é dita. Carlos Eduardo tenta se levantar. Maria Clara pergunta:      - Antes de ir, tu poderia me dizer o porquê de tudo que vivemos?      - Sinceramente. Não sei. Acho que faz parte do aprendizado de todos os dias. Mas, sinceramente, não sei.      - Em algum momento nos perdemos neste jogo.      - Desculpe. Nunca foi