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O encontro marcado

     Um dia acordei e eu não era mais eu. O sofrimento havia, enfim, entrado dentro de mim. Sempre ouvi falar neste sentimento, mas de uma hora para outra fui apresentado a ele.
     Não foi fácil me deparar com o sofrimento. Fomos apresentados num velório. Ali, naquela capela  experimentei a dor mais profunda que podemos sentir. Do outro lado daquela sala fria eu sentia que o Sofrimento me testava Há muito tempo ele queria se apresentar a mim, mas eu vivia uma vida completamente apartada dele. Nenhuma preocupação, quase nenhum sobressalto. Mas sempre soube que um dia seríamos apresentados. E este dia chegou. Lá estávamos frente a frente. E qual foi minha reação? Simplesmente chorar...
     Chorei como nunca na minha vida, chorei por todos os anos de felicidade, chorei por todos os desvios que me afastaram deste encontro. Mas, por incrível que pareça, sai mais forte, mais determinado, mais preparado para estes encontros da vida. Posso, enfim, dizer que sou um cara maduro.
      Lembrei dos meus anos de adolescente que queria sentir o sofrimento dentro de mim, mas minha vida era repleta de alegrias, não tinha com o que me revoltar, não existia algo que me fizesse sofrer. Isso, não quer dizer que vivia um conto de fadas. Mas, sim que eu encarava os possíveis sofrimentos com leveza e desprendimento, talvez enxergasse as agruras da vida como mais um degrau daquele caminho.
     Entretanto havia chegado o momento do sofrimento sem limites. Ali, o sofrimento se apresentou e travamos uma conversa séria e madura, que foi mais ou menos assim:
     - Led (até parecia íntimo, deveria ter chamado de LedVenture), enfim, nos encontramos.
     E eu chorando, sem nem saber direito onde estava, tentei responder.
     - Me deixa sozinho, quero chorar. Tu não vê que estou sofrendo?
     - Sei muito bem disso. Sou o teu sofrimento, se me entende.
     - Não te entendo. Nem sei quem tu é. Estou esperando meu irmão, recém cheguei...
     - Eu sei, estou contigo desde ontem à noite quando tu recebeu a notícia.
     - Que notícia?
     - A notícia que te trouxe até aqui.
     - Então, ontem à noite quando atendi o telefone você estava ao meu lado? Aquele sentimento era você? Dentro do carro vindo para cá, você de tempos em tempos se mostrava para mim e eu chorava?
     - Mais ou menos isso. E te digo que é assim mesmo. Quando encontro alguém pela primeira vez é muito duro. É difícil. É, posso dizer sem fazer um trocadilho, sofrido. Agora tenho que te dizer, que seremos companheiros em alguns momentos da tua vida. Agora que fomos apresentados, de tempos em tempos viveremos momentos juntos. Então se eu puder te dar um conselho, aproveita quem tu ama, aproveita a vida que tu tem, faça o bem para quem tu gosta. Não existe fórmula para me evitar, mas existe, sim, uma forma de ser feliz. E tu sempre viveu uma vida feliz. Não se deixe abater por isso que estamos vivendo agora. Faz parte da vida. Este é combo da vida. Ente?
      E chorando como nunca havia chorado até então, senti meu irmão Luciano chegando e nos abraçamos. Então, num piscar de olhos, entendi a conversa que tinha travado com o sofrimento. A partir daquele instante percebi que só há uma forma de ser feliz, abraçando quem amamos, compartilhando com eles nossas alegrias e também as possíveis tristezas e, principalmente, estando ao lado de todos que, de uma forma ou de outra, nos ajudam nesta trilha sem atalhos que é a vida.

Trilha sonora
Streetheart - Under My Thumb - Rock 70´s
Gimme Shelter - The Rolling Stones - Live Licks
Blinded By Rainbows - The Rolling Stones - Voodoo Lounge
Nick Gilder - Hot Child in the City - Rock 70´s
Love is a losing game - Amy Winehouse - Back to black

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