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O livro da estante

     Ontem reli um trecho de um livro incrível. Germinal de Émile Zola - se alguém tiver interesse em saber mais sobre esta obra, clique no link a seguir: Resumo do livro. Sem motivo aparente peguei o livro na estante e abri ao acaso. Ao sentar e tendo nas mãos aquela obra literária me encontrei com o menino que sem bem me lembro, mais ou menos 25 anos atrás, teve o primeiro contato com o Germinal.
     Lembro perfeitamente das loucuras que passavam na cabeça daquele jovem, que ainda não era LedVenture, mas apenas Led . Depois reli aquele livro algumas vezes no decorrer dos anos. E é fácil perceber as diferenças do mundo, dos meus sonhos, das pessoas que amei, dos amigos ou das vitórias e derrotas que experimentei.
     No primeiro contato aquela história mexeu profundamente comigo. Eu era um pouco aqueles operários sem futuro. Como eles eu estava sem rumo, ou melhor, rumo eu tinha, mas não havia certeza da chegada.  Imaginava muitas coisas, sonhava outras tantas, mas como aqueles operários eu não tinha certeza de nada. Muitas dúvidas. Incertezas intermináveis. Ao olhar para trás vejo que a vida foi muito benéfica comigo, perdi alguns lutas, mas sempre me dispus a continuar lutando. E quando, pelo caminho, eu fraquejava ao ponto de ficar caído, alguém vinha e me levantava e continuávamos a caminhada.
     A loucura de tudo isso é o fato de que estas lembranças tenham vindo tão cristalinamente quando eu apenas folheava aquele livro. Muitas coisas "esquecidas" em algum canto do meu ser, mas que de uma hora para outra extravasaram de forma avassaladora. Eu gostei de me lembrar daqueles tempos de dúvidas e incertezas. Mas o melhor é perceber que aquelas dúvidas transformaram-se em realizações. Não consegui mudar o mundo como desejava, mas mudei minha vida, mudei a vida de algumas pessoas e isso é o que importa. Quanto as mudanças no mundo percebi pelo caminho que passam, irremediavelmente, pelas mudanças de cada um. Não faremos revoluções se não mudarmos nossa forma de fazer e pensar. Quando percebi que não adiantava somente sonhar com grandes mudanças e nada fazer, comecei a fomentar pequenas transformações que somadas formarão o tecido social da mudança. Quando isso ocorrer, se é que algum dia ocorrerá, perceberemos que não precisamos de grandes rupturas ou revoluções sangrentas, mas sim de pequenas alterações de comportamento de cada um de nós.
     Às vezes me vejo meio descrente no ser humano, por vezes não acredito mais em nossa geração ou em gerações futuras. Mas, por outro lado, também é verdade que de uns tempos para cá, me percebo mais otimista com o ser humano, tenho até alguns rasgos de otimismo com o nosso futuro como humanidade. Claro que este otimismo não é exacerbado, pois muita coisa que está a nossa volta me faz cair na realidade cruel do dia a dia. Mas tudo isso surgiu de umas poucas folhas relidas. Um livro tem a capacidade de sempre mexer com a gente, mesmo quando está na estante ele exerce alguma influência em nós. Mas quando folheamos estes livros eles tem o condão de alterar nossas vidas. Foi o que aconteceu comigo. E tenho certeza que é o que ocorre com todos que se entregaram ao hábito saudável da leitura. Então, só posso desejar a todos que passarem por estas linhas acima escritas, uma boa leitura, seja de que livro for.

Trilha Sonora
Biggeste Mistake (instrumental) - The Rolling Stones Biggeste Mistake Promo CD

Comentários

  1. Excelente texto, Leandro!
    Também sou amante da leitura (embora ultimamente não tenha tido tempo) porque nos faz refletir, viajar, imaginar coisas.
    Muitas vezes ficamos vivendo nosso cotidiano de forma automática, mecânica, sem pararmos. E a leitura dá uma quebrada nisso tudo.
    E foi o que este teu texto fez comigo. Obrigado!
    Abraço,
    Marcelo

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  2. Bonito texto, Leandro.

    Agora volta logo pro Cartório que tá meio calmo demais isso aqui, hehe. Ordinário!

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