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Constatações

     Papel em branco. Ou melhor, tela do computador em branco.
     Esta brancura é o retrato deste momento de não inspiração. Estou pronto para escrever, mas estou limpo de inspiração. Minha ligação com o mundo é esta janela ao lado, por ela não vejo nada mais do que casas, edifícios, algumas árvores e um céu nublado.
     Todos lá fora em busca do seu sustento e eu aqui tentando escrever. Tentando colocar em forma de palavras sentimentos. Mas não sinto nada, absolutamente nada. Lembro de algum livro do Saramago, talvez esteja no meio de um surto de falta de ideias... Será que sou só eu. Tenho receio de levantar e me certificar se todos estão com esta total falta de inspiração. O som da cozinha é de alguma fritura. A magia do cozinhar, a mágica transformação dos alimentos. Não, este tema não me inspira... Um latido de cachorro me leva para o mundo dos animais.Lembro que estes dias Lindinha disse para que eu escrevesse sobre os animais... O som de uma serralheria distante, um ônibus transportando pessoas para mais um dia de batalha pelo sustento de suas famílias. A vida pulsa lá fora. Aqui a vida é modorrenta, somente a espera do tempo passar.
     Lembro do texto do amigo Muhammad Zola, publicado nesta semana, Desperdícios diários. Será que não estamos todos desperdiçando nossos únicos minutos de vida. O que vivemos faz parte do passado, não nos será oportunizada uma segunda chance de vivermos novamente. Esta é nossa vida e somente essa. O que passou, passou. Será debitado no tempo total de nossa vida, que diga-se de passagem não sabemos qual duração será.
     Às vezes imagino como seria nossa vida se ao nascermos recebêssemos a seguinte informação: "sua vida será de exatos setenta e sete anos, cento e vinte dias e quatro minutos de vida." Como cada pessoa reagiria ao saber o tempo total da sua vida ao nascer? Teríamos a certeza de quanto tempo seria nossa vida. Hoje sabermos que iremos morrer, mas não sabemos quando. Como seria uma vida assim? Como encararíamos a certeza da nossa morte e, mais, com data certa para tal. Não seríamos o que somos, talvez não dispensássemos tanto tempo em besterias, talvez não brigássemos por tantas picuínhas. Por outro lado, esta certeza do prazo de validade de nossas vidas iria nos tirar o sentimento de controle aparente de nossas vidas. Talvez perderíamos a esperança de que nossas ações iriam influir no nosso futuro. Por exemplo, temos a convicção de que se cuidarmos da nossa alimentação teremos mais tempo de vida ou se fizermos exercícios nos tornaremos pessoas mais fortes e longevas. Com data certa para a morte não. Aparentemente não teríamos esta necessidade, pois saberíamos que não iria adiantar para nada, pois nossa morte já estava marcada, pouco importando nossas ações, positivas ou negativas.
     Não sei não. Acho que é melhor a vida deste jeito. Não sabermos quando iremos morrer foi a melhor solução. É verdade que insistimos nos mesmos erros, mas de outro jeito não teríamos limites para nossas ações... O ser humano precisa de limites, sejam eles morais, éticos, legais ou mesmo naturais. Caso contrário não existiria mais vida neste planeta. O ser humano sem limites iria fazer o senhor estrago. Basta olharmos nosso planeta hoje, se com limites já estamos à beira do extermínio de nossa existência... Imagina sem limites.

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