Pular para o conteúdo principal

Os gênios de coisa nenhuma

     A cada dia surge uma mente brilhante com uma solução para um problema do Brasil.
     Fico impressionado como temos gênios neste país abençoado por Deus. Nenhum destes próceres têm dúvida, tudo que propõem é definitivo. Seja em que campo for, sempre têm a solução.
     Por que então vivemos nesta situação de caos total? Por que as soluções quando implementadas revelam-se inapropriadas. Não ficarei a relacionar exemplos infindáveis que surgem na minha cabeça. Mas trarei apenas alguns exemplos.
     No trânsito de nossas cidades temos os conhecidos "gargalos", onde não há maneira de trafegar. E por anos a fio convivemos com estes problemas. De uma hora para outra surge, não se sabe de onde, um especialista de coisa nenhuma e dá a solução para o problema. Por exemplo implementa uma rótula, uma sinaleira ou quem sabe uma elevada. Não importa qual solução seja colocada em prática, pois na esmagadora maioria das vezes é inapropriada. O tal especialista de coisa nenhuma é útil para criticar, mas quando seus ideias são postas em práticas se revelam inúteis. Muitos de nós já vivenciamos alguma situação parecida.
     Outro exemplo que me vêm a mente se refere à inflação que assolou este país entre as décadas de 1980 e 1990, quando convivíamos com uma inflação de mais de 80% ao mês, constantemente éramos brindados com soluções mágicas para o problema da inflação. Seja congelamento, tabelamento, racionamento ou outra solução mágica da hora. Nenhuma delas deu resultado, mas os especialistas continuavam a frequentar os mesmos programas de televisão. Sempre com a denominação de especialistas. Quando raramente questionados sobre soluções aplicadas por eles, tergiversavam colocando a culpa no mercado, na população ou mesmo no momento histórico. Nunca confessavam alguma falha. Afinal, eram os especialistas.
     No futebol este fato ocorre constantemente. De hora em hora nos deparamos com um mágico apresentando a solução para o problema de algum time que está vivendo uma maré ruim. Seja a troca do sistema de jogo, de algumas peças ou quem sabe trocar o administrador da equipe. Mas todos tem "a solução". Muitas vezes quando assumem uma equipe não conseguem implementar solução nenhuma. No futebol a desculpa é falta de pegada ou mesmo de atitude.
     Os gênios de plantão propugnam pela terra arrasada e "vendem" suas soluções. Esquecem que solução mágica não existe, esquecem que a vida não dá saltos. Tudo é resultado de uma lenta e gradual evolução. Soluções mágicas é mais uma forma de enganar a todos nós. Definitivamente não existe solução mágica.
     Hoje mais uma vez fui surpreendido com a solução mágica do momento proposta por um administrador qualquer. Mais uma vez senti que ele só está jogando para a torcida. Estou cansado de soluções mágicas, quero somente um começo de solução, quero uma proposta que exija sacrifícios, mas que no fim tenhamos algo de positivo e não somente promessas vazias. Não gostamos de remédios amargos, mas em muitas ocasiões é a forma de enfrentarmos algum problema.
     Chega de soluções mágicas de especialistas de coisa nenhuma, queremos soluções os problemas que assolam este país desde sua fundação. E os nossos gênios de coisa nenhuma podem dar expediente em outro país, pois aqui já causaram muitos estragos e esta na hora de começarmos nossa caminhada para sairmos deste atoleiro. Sem eles será menos difícil.

Trilha sonora
Killing Me Softly With His Song - Roberta Flack - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Atlantic - Keane  - Under The Iron Sea
Every Breath You Take - The Police - Message in a Box
The Eagle Will Rise Again - Alan Parsons Project - The Ultimate Collection Disc 1
November Rain - Guns N' Roses - Use Your Illusion I
Kashmir - Led Zeppelin - Rock 70´s
Black Dog - Led Zeppelin - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Somos 99%

     Somos uma parcela significativa de qualquer sociedade. Somos os 99%. Apesar de sermos a imensa maioria, ainda assim somos excluídos de quase tudo. Somos chamados somente quando os detentores das riquezas, os outros 1%, precisam de nossos sacrifícios.      Como é possível que uma sociedade, com alicerces tão frágeis, fique de pé por tanto tempo? Não tenho a resposta. Entretanto, sinto que algo está mudando e muito rapidamente. Esta sociedade injusta já não está mais tão firme e começa a ser questionada. Nos últimos meses estamos acompanhando vários movimentos sociais espraidos pelo mundo. É a voz dos 99% se fazendo ouvir. Estamos cansados de sacrifícios intermináveis. E sempre dos mesmos para os mesmos. Nunca são chamados os detentores da riqueza. Um porcento da população nunca se sacrifica, mas quando aparece alguma dificuldade, criada pela ganância deles, colocam de lado suas convicções e imploram ajuda dos governos. Estes governos que sempre foram chamados de ineficientes ou

Vivendo ao largo da vida...

     - Eu vivo ao largo da vida.      - Como assim?      - Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.      - Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.      - Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.      - Otávio, às vezes acho que tu é louco.      - Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.      - É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.      - Mas eu gosto de falá-las.      - Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.      - Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...      - Para o que...      - Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.      - Tu e esta mania de me chamar de i

DSK, o homem "respeitável"

     Imaginem um homem poderoso. Um homem influente. Um homem "respeitável". Este homem entra num avião, se dirige à primeira classe, lugar onde sempre se acomoda quando viaja de avião. Afinal, é o todo poderoso, não existe outro lugar para este homem a não ser a primeira classe de uma aeronave. Pelo menos até então.      Mas antes de se deslocar até este avião, o "respeitável" senhor abusou de uma camareira do hotel de luxo onde estava hospedado. Muitos ao imaginar esta situação têm a certeza de que nada iria acontecer a este senhor poderoso, temos certeza de que ele iria para o seu destino e aquela camareira conviveria com esta chaga, ser abusada por um homem poderoso e nada poder fazer porquanto ninguém acreditaria nela. Mas não foi o que aconteceu nestes últimos dias nos Estados Unidos.      Muitos de nós criticamos os Estados Unidos. Na adolescência tínhamos como objeto da nossa ira este país imperialista. Afinal, éramos e ainda somos a parte do mundo explorada