Pular para o conteúdo principal

O encontro final

     - Um dia tu me disse adeus. E foi bem claro, viva a tua vida... Pois eu vivi.
     - Mas ficou implícito que um dia voltaríamos a ficar juntos.
     - Cadu, olha o que tu esta dizendo. Ficarmos juntos! Quando tu me disse para viver a vida, não havia nenhuma condicional. Aquela era uma sentença definitiva.
     - Andreia, eu queria te deixar livre para ficar livre também. Mas tu se tornou uma pessoa melhor, constituiu família, está com um filho lindo e um marido muito legal. E eu?
     - Cadu, perdemos contato, mas não perdemos o afeto entre nós. Quero que tu esteja feliz também. Mas depois do que tu fez, não sei não.
     - Não sei o que é felicidade. Vivi intensamente estes anos, fiquei com muitas mulheres, mas não tive nenhum amor. O amor que sentia contigo numa mais experimentei.
     - Cadu, apesar de nos amarmos tu me fazia mal, tu me empurrava para baixo. Sempre foi assim. Diferentemente do Otávio que quis construir uma história comigo. Ele não competia comigo, simplesmente lutava junto pelo amor e pela vida. Diferente de ti.
     - Tu foi e é a única pessoa que me entende. Tu me vê como sou, apesar de ser dura.
     - Não sou dura. Sou realista.
     - Não importa a definição. Tu é a mulher da minha vida.
     - Negativo. Talvez tenha sido, tenho lá minha dúvidas. Tu nunca deu espaço para ninguém, tu sempre pensou somente em ti. E nada mais.
     - Pensei muito em nós nestes anos afastados.
     - Não mente pra nós. Tu pensava em mim, mas somente como uma forma para tua felicidade ou quem sabe algum prazer sexual. Sou muito mais do que isso. O Otávio me viu além destas roupas bonitas, deste perfume ou da minha pele sedosa.
     - Tenho saudade do teu cheiro, do teu gosto. Do teu jeito de fazer amor. Lembra da música, acho que do Kleiton e Kledir que ouvíamos juntos, enquanto...
     - Cadu, tu não se dá conta, mas tu só fala de sentimentos que envolvem o prazer sexual. Te disse, sou muito mais do que uma mulher atraente. Aliás, já estou na faixa dos 40. Preciso e sou reconhecida por outros atributos.
     - Mas eu te quero junto de mim. Pelo menos uma última vez...
     - Cadu, vou te dizer uma coisa. Já passou o tempo em que resolvíamos as coisas na cama. Definivamente este tempo passou. Sou diferente. Pena que tu é o mesmo. Nunca iria arriscar minha felicidade por uma aventura.
     - Andreia, agora sou uma simples aventura.
     - Nem isso tu é mais. Te disse que não arriscaria a minha felicidade nem por uma aventura. Tu é apenas um cara pelo qual já fui apaixonada e isso aconteceu no século passado. É verdade que tu me fizeste um grande favor. Quando tu disse para eu viver a minha vida, foi a melhor coisa que alguém fez por mim. Mas no teu caso tu só fez aquilo por egoísmo. Tu queria viver a tua vida e por isso me libertou.
     - Tu está mais dura do que nunca. Talvez a tua profissão tenha te endurecido.
     - Não, simplesmente entendi a vida como ela foi apresentada a mim. E não foi fácil, foram muitos anos de análise.
     - Andreia, quantos anos se passaram do nosso último encontro? Tu lembra?
     - Nem sei.
     - Então vou te dizer. Faz exatos 17 anos. Aliás, hoje foi o dia do nosso último encontro, 17 de julho de 1994. Era a final da Copa do Mundo de 1994. Ou tu acha que te encontrar justamente hoje foi pura coincidência?
     - Espera um pouco. Então tu foi preso para se encontrar comigo? Não pode ser. Tu é mais louco do que eu imaginava.
     - Isso mesmo. Eu te amo e não tinha jeito de me encontrar contigo, então tive que roubar aquele banco para ser preso e ser interrogado por ti.
     -Puta que pariu Carlos Eduardo. Tu fez o maior assalto dos últimos anos, escavou um túnel de 200 metros, roubou 120 milhões para ser preso e conversar comigo. Tu é muito trouxa. Se deixou ser preso dentro do túnel. O que tu acha que vai acontecer agora?
    - Tenho certeza de que tu vai transar comigo e depois arranjará um jeito para eu ser solto. Simples assim. Estamos no Brasil, país do jeitinho.
    - Carlos Eduardo tu não me conhece mais, tu não conhece o teu pais. Nós mudamos...
    Neste momento Andréia chamou o carcereiro e o escrivão. Deu ordens para trancar o meliante na cela, pois ela iria redigir o indiciamento do elemento e solicitaria a sua prisão preventiva. Assim o amor entre eles findou. Com uma prisão.
 
Trilha sonora
Eighteen - Pat Metheny Group - Offramp
Alice Cooper - School's Out -  Rock 70´s
Clocks (Album Versie) - Coldplay - Singles
Take Me to the River  - Al Green - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Prove It All Night - Bruce Springsteen - Rock 70´s
Let There Be More Light - Pink Floyd - A Saucerful Of Secrets
Heart - Dreamboat Annie - Rock 70´s
The Wall - Kansas - The Best Of Kansas
I've Found A Love - Cat Stevens - Morning Has Broken
God Save The Queen - The Sex Pistols - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Nino Rota No Sobrado - Vitor Ramil - Tango
Jumpin' Jack Flash - The Rolling Stones - Singles Collection - The London Years (Disc 2)
Minstrel Gigolo - Christopher Cross - Christopher Cross

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Somos 99%

     Somos uma parcela significativa de qualquer sociedade. Somos os 99%. Apesar de sermos a imensa maioria, ainda assim somos excluídos de quase tudo. Somos chamados somente quando os detentores das riquezas, os outros 1%, precisam de nossos sacrifícios.      Como é possível que uma sociedade, com alicerces tão frágeis, fique de pé por tanto tempo? Não tenho a resposta. Entretanto, sinto que algo está mudando e muito rapidamente. Esta sociedade injusta já não está mais tão firme e começa a ser questionada. Nos últimos meses estamos acompanhando vários movimentos sociais espraidos pelo mundo. É a voz dos 99% se fazendo ouvir. Estamos cansados de sacrifícios intermináveis. E sempre dos mesmos para os mesmos. Nunca são chamados os detentores da riqueza. Um porcento da população nunca se sacrifica, mas quando aparece alguma dificuldade, criada pela ganância deles, colocam de lado suas convicções e imploram ajuda dos governos. Estes governos que sempre foram chamados de ineficientes ou

Vivendo ao largo da vida...

     - Eu vivo ao largo da vida.      - Como assim?      - Isto mesmo. Eu vivo costeando a vida. Nunca me senti incluído em nenhum grupo social. Nunca convivi com nenhuma turma. Sempre fui muito sozinho.      - Mas hoje somos um casal e temos alguns amigos.      - Sim, mas são muito mais teus amigos do que meus. E para dizer a verdade são apenas conhecidos.      - Otávio, às vezes acho que tu é louco.      - Por quê? Talvez porque eu goste de falar a verdade? Pelo menos a minha verdade.      - É. Nem sempre gostamos de ouvir verdades.      - Mas eu gosto de falá-las.      - Otávio, tu tem esta mania de falar o português correto. Isto, sim, me incomoda. E também me irrita esta tua vontade de falar verdades... Verdades não são para serem ditas.      - Isabele, olha o paradoxo desta tua frase...      - Para o que...      - Paradoxo. Para os menos acostumados com o vernáculo, paradoxo é uma especie de contrassenso, absurdo ou disparate.      - Tu e esta mania de me chamar de i

DSK, o homem "respeitável"

     Imaginem um homem poderoso. Um homem influente. Um homem "respeitável". Este homem entra num avião, se dirige à primeira classe, lugar onde sempre se acomoda quando viaja de avião. Afinal, é o todo poderoso, não existe outro lugar para este homem a não ser a primeira classe de uma aeronave. Pelo menos até então.      Mas antes de se deslocar até este avião, o "respeitável" senhor abusou de uma camareira do hotel de luxo onde estava hospedado. Muitos ao imaginar esta situação têm a certeza de que nada iria acontecer a este senhor poderoso, temos certeza de que ele iria para o seu destino e aquela camareira conviveria com esta chaga, ser abusada por um homem poderoso e nada poder fazer porquanto ninguém acreditaria nela. Mas não foi o que aconteceu nestes últimos dias nos Estados Unidos.      Muitos de nós criticamos os Estados Unidos. Na adolescência tínhamos como objeto da nossa ira este país imperialista. Afinal, éramos e ainda somos a parte do mundo explorada