Pular para o conteúdo principal

O guerrilheiro moderno

     Sonhos nos fazem cometer loucuras. Pelo menos aos olhos dos que vivem a vida real...
     Por incrível que pareça cruzei ontem com uma destas pessoas. Ela tinha os seus sonhos e lutou por eles, mas o resultado não foi o esperado. Foi preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Sempre ouvi falar desta famigerada Lei, mas até hoje nunca tinha conversado com alguém que tivesse recebido o duro peso da LSN.
    A dita Segurança Nacional vem sendo protegida há muito tempo. No wikipédia encontramos um bom resumo sobre como este tema foi tratado pela Legislação pátria:

  • A Lei nº 38, de 4 de abril de 1935, reforçada pela Lei nº 136 de 14 de dezembro do mesmo ano, pelo Decreto-lei nº 431, de 18 de maio de 1938 e pelo decreto-lei nº 4.766 de 1 de outubro de 1942, que definia crimes militares e contra a segurança do Estado.
  • A Lei 1.802 de 5 de janeiro de 1953.
  • O Decreto-Lei 314 de 13 de março de 1967. Transformava em legislação a doutrina de Segurança Nacional, que era fundamento do Estado após o golpe militar de 1964.
  • O Decreto-Lei 898 de 29 de setembro de 1969. Essa lei de Segurança Nacional foi a que vigorou por mais tempo durante o regime militar.
  • Lei 6.620 de 17 de dezembro de 1978. Lei mais branda que as anteriores.
  • Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983, promulgada durante o governo do presidente João Figueiredo e ainda em vigor.
Durante o regime militar, as duas primeiras versões da LSN (a de 1967 e a de 1969) implementavam, segundo os juristas, a doutrina de Segurança Nacional influenciada pela Guerra Fria. Nela há uma preocupação acentuada em proteger o Estado contra um "inimigo interno", em nosso caso, naquela conjuntura, pessoas tidas como comprometidas com ideais políticos diferentes daqueles preconizados pelos militares. Fonte: Wikipédia - Lei de Segurança Nacional.
     Fui impactado pela história contada por um daqueles que ousou enfrentar a estrutura vigente. Por alguém que ousou pensar e agir diferentemente do que o Estado impunha.
     Sempre li sobre o tema da luta armada no tempo da ditadura, é um assunto que me interessa. Sempre me interessou. Mas nunca havia cruzado com alguém que pegou em armas para defender seus ideais.
     Algumas vezes me questionei sobre o que eu faria naquela época. Será que eu entraria naquela luta a ponto de pegar em armas? Tenho a impressão que não. Não teria este desprendimento. Admiro quem teve. E este não pegar em armas não é porque não acredito na luta armada. Mas acho que eu não teria o desapego necessário. Claro que esta análise é feita distante dos fatos, talvez no calor dos acontecimentos eu tomasse outra decisão. Sou muito afeito a tomar decisões baseadas na emoção. Então, dentro de mim, sempre ficará está dúvida, pegaria em armas ou não?
     Mas o "guerrilheiro" que encontrei lutou nos tempos "modernos". Um sonhador, talvez. Um inconformado, com certeza. Mas ele foi domado pelo sistema repressor, e o instrumento usado foi a Lei de Segurança Nacional. Mas quem ele ameaçava? Como ele ameaçava? Me considero uma pessoa razoavelmente informado, mas nunca ouvi falar sobre a luta dele. Talvez seja até uma alucinação desta pessoa que cruzou meu caminho ontem. Talvez não. Mas ele falou com tanta convicção que aquela conversa entre nós me revelou um fato consolidado. Segundo o sou relato ele pegou em armas pela separação do Rio Grande em relação ao Brasil. Imaginem alguém lutando pela independência do Rio Grande do Sul nos idos de 1987. Não me refiro somente a luta pelo separatismo, que tem no senhor Irton Marx seu maior expoente, mas sim pegar em armas para implementar esta secessão. Procurei alguma notícia sobre este fato, mas não encontrei nada.
     Acho um despropósito sem tamanho alguém pegar em armas por querer que um estado se separe do Brasil. Não vejo o mínimo sentido numa luta com este objetivo. Mas esta avaliação é completamente racional, desprovida de paixão, portanto, mais fácil de ser formulada.
     Mas o que me fascina nesta história é como o ideal de alguém pode levar a um rompimento de todos os limites, sejam eles físicos, morais ou sociais. Sem mencionar que o racional é colocado ao largo desta decisão limite. Tenho a impressão que estes rompimentos somente são possíveis quando o racional é sobrepujado pelo amor à causa. Respeito quem tem este desprendimento, mesmo quando a luta é completamente inconsequente ou impossível de ser vencida. A história deste guerrilheiro moderno me fez lembrar Don Quixote com suas fantasias e suas lutas imaginárias. Como o mundo seria menos fascinante sem estas pessoas sonhadoras...
     Precisamos de pessoas que lutem pelos seus ideais. Precisamos também de pessoas que têm os pés no chão. Aliás, precisamos do equilíbrio entre estas duas formas de encarar o mundo, um meio termo entre os sonhadores e os racionais aos extremo. Mas mesmo sabendo que a virtude está no meio, admiro quem luta pelos seus sonhos, mesmo quando a luta esteja marcada pela derrota certa.

Trilha Sonora:

Rain Fall Down (Radio Edit) - The Rolling Stones - Rain Fall Down Promo CD
Off The Hook - The Rolling Stones - Singles Collection - The London Years 
What A Shame - The Rolling Stones Singles Collection - The London Years 
The Under Assistant West Coast Promotion Man (Version 1) - The Rolling Stones - Singles Collection - The London Years (Disc 1)
Time Is On My Side (Version 2) - The Rolling Stones - Singles Collection - The London Years
Tell Me (You're Coming Back) - The Rolling Stones Singles Collection - The London Years
Voices Inside My Head - The Police - Message in a Box
Brown Sugar - The Rolling Stones - Rolling Stone Magazine's 500 Greatest Songs Of All Time
Zona de Promesas - Soda Stereo - Zona de Promesas (Mixes 1984-1993)
Travels - Pat Metheny - Trio 99->00
Focus II - Focus - Live At The Rainbow
One - U2 - Achtung Baby
Rolling Stones - Miss You - Rock 70´s
He can only hold her - Amy Winehouse - Back to black
I Don't Wanna Go Home - The Alan Parsons Project  - Turn Of A Friendly Card
Sleeping With The Dog - Jethro Tull - Catfish Rising
China Grove - The Doobie Brothers - Rock 70´s
Summertime - Big Brother & The Holding Company - Live At Winterland '68
Getting Better - The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
What Am I To You - Norah Jones - Feels Like Home

Comentários

  1. Senti pelo que li aí que você nem sabe bem o que admira..rs rs

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Interaja com Ledventure...

Postagens mais visitadas deste blog

Somos 99%

     Somos uma parcela significativa de qualquer sociedade. Somos os 99%. Apesar de sermos a imensa maioria, ainda assim somos excluídos de quase tudo. Somos chamados somente quando os detentores das riquezas, os outros 1%, precisam de nossos sacrifícios.      Como é possível que uma sociedade, com alicerces tão frágeis, fique de pé por tanto tempo? Não tenho a resposta. Entretanto, sinto que algo está mudando e muito rapidamente. Esta sociedade injusta já não está mais tão firme e começa a ser questionada. Nos últimos meses estamos acompanhando vários movimentos sociais espraidos pelo mundo. É a voz dos 99% se fazendo ouvir. Estamos cansados de sacrifícios intermináveis. E sempre dos mesmos para os mesmos. Nunca são chamados os detentores da riqueza. Um porcento da população nunca se sacrifica, mas quando aparece alguma dificuldade, criada pela ganância deles, colocam de lado suas convicções e imploram ajuda dos governos. Estes governos que sempre foram...

A casa não vai cair...

     Um amigo, aliás, um ótimo amigo escreveu algo que me fez pensar: "... enquanto nos perdemos nos detalhes, contando, classificando... a vida passa e a casa vai caindo, pouco a pouco."      Este amigo em poucas palavras me mostrou o que somos, ou melhor, no que nos transformamos.      Parece que deixamos de lado o quadro para prestarmos atenção na moldura, sabemos tudo sobre este detalhe, o ano da fabricação da madeira, o tipo e forma do corte, esquecemos de olhar o quadro em si. Fechamos os olhos para a pintura...      No início o não entendi, pois o simples nos é tão difícil de entender, sempre estamos  querendo transformar esta simplicidade em algo complexo. Mas esta simplicidade quando nos é revelada nos abre olhos, enxergamos além da moldura, passamos a ver o conteúdo do quadro; nos surpreendemos com o que surge aos nossos incrédulos olhos.      Parece que somos criados para somente fazermos part...

Uma história do ponto e da vírgula.

     Ia escrever sobre o cotidiano. Mas não me deu vontade. Então me lembrei de uma pequena altercação entre o ponto e a vírgula. O fato ocorrido que presenciei foi mais ou menos assim...      O ponto sempre foi determinado, sempre certo  do que queria, nunca deu espaço para qualquer tipo de dúvida e constantemente reclamava da vírgula. Dizia que ela era um poço de incertezas, sempre acompanhada de um entretanto, talvez, quem sabe. Isso o ponto não suportava. O ponto estava a pronto para encetar algum ataque. Mas o sempre era demovido pelo ponto de exclamação, este sim o mais respeitado entre os sinais de pontuação.      A vírgula de seu lado sempre reclamava deste ar superior do ponto, sempre encerrando os assuntos, não dando margem para nenhuma discussão. Lá longe a reticências nem dava bola tinha uma vaga idéia de que aquela "desinteligência" iria virar amor.    Não é que um dia num texto mal pontuado, como este, o ...